O guitarrista também comentou sobre a reconstrução da banda em Power Up e compartilhou a sabedoria de seus falecidos irmãos que ainda o guiam
Mariana Pastorello | @mari.pastorello (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 11/02/2021, às 13h24
Na turnê mais recente do AC/DC, em 2016, a banda parecia se desintegrar. A audição do vocalista principal, Brian Johnson, falhava, e Axl Rose acabou substituindo-o em parte da corrida; o guitarrista rítmico Malcolm Young - alicerce da banda - desenvolveu demência e não conseguia mais tocar; o baixista Cliff Williams estava planejando sua saída; e o baterista Phil Rudd foi colocado em prisão domiciliar por ameaçar matar um homem.
No entanto, é improvável o fato do guitarrista principal, Angus Young, ter reunido a banda novamente. Johnson, William, e Rudd estão de volta ao rebanho, juntamente com o sobrinho de Angus, Stevie, substituto de Malcolm (falecido em 2017) no AC/DC.
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Em 2020, o grupo lançou Power Up, 17ª viagem pela Highway to Hell. Angus descreveu o disco responsável por abalar os alicerces como um tributo ao falecido irmão Malcolm, da mesma forma como o blockbuster de 1980, Back In Black, foi um epitáfio para o frontman Bon Scott. “Muitos fatores deram errado”, disse Angus pelo Zoom, vestido confortavelmente em um moletom e sentado entre dois amplificadores Marshall de alta potência em um estúdio de Sydney, Austrália, em um dia no início de novembro. “Mas Malcolm sempre disse: ‘Veja como podemos fazer. Faça o melhor com a situação.’”
Rolling Stone: Como descreveu Power Up? Todas as músicas são creditadas a você e Malcolm.
Angus Young: Muitas das ideias vêm de algum tempo antes do [LP de 2008 do AC/DC] Black Ice. Quando fizemos esse disco, tínhamos muito material porque tivemos muitos anos de folga, e existiam muitas músicas escritas. Então, pensei: “Vou me concentrar nas quais ele realmente amava e tirá-las de lá”. Foi o guia usado por mim.
RS: Como você e ele criaram o som do AC/DC no início?
AY: Com o passar dos anos, Malcolm e eu tínhamos nossas próprias ideias e, então, sentávamos e as examinávamo, éramos os críticos um do outro. Não havia nenhuma utilidade para mim ter ideias de músicas as quais não pensávamos ser AC/DC. Então, não era como se chegassemos com jams de jazz ou blues. Vínhamos a partir dos sentimentos e do senso de serem boas ideias e funcionariam com o AC/DC. Então, sempre foi nosso guia.
Sempre foi assim, desde o início. Conhecemos o estilo. Sabemos por onde ir, então, quando as pessoas ouvem, dizem: “Bem, são eles. Têm sua própria marca sobre quem são.”
RS: Como você define um bom riff AC/DC?
AY: Sempre ajuda se tiver um groove. É um elemento importante.
RS: Alguns disseram sobre o AC/DC parecer gravar o mesmo disco inúmeras vezes. Isso te incomoda?
AY: Malcolm costumava dizer: “Sim, bem, disseram sobre sermos iguais, porque somos a mesma banda. Isso é quem somos.” Nunca pretendemos entrar em um território se não o nosso. Malcolm sempre dizia: “Olha, os pegamos de algum lugar. Podemos pegá-los nos primeiros anos, antes de irem para a faculdade e irem para o Pink Floyd, ou algo assim [risos]. Masos pegávamos jovens.”
RS: Seu irmão mais velho, George, produtor dos primeiros álbuns do AC/DC, não o desencorajou a seguir as tendências?
AY: Sim. Ele disse sobre se conformar ser o beijo da morte. Sempre disse, era o beijo da morte para qualquer uma das grandes bandas. Ninguém gosta de vê-los aparecer e começar a mudar quem são e tentar ser diferente. Então, sempre disse: “Quando você toca ao vivo, é muito poderoso. E a arte é obter esse poder em um disco e fazer justiça.”
RS: Malcolm o encorajou a manter o AC/DC funcionando sem ele. Foi difícil para você querer continuar?
AY: É muito difícil porque ele foi o começo de tudo. Foi o fundador disso, e, quero dizer, me deu um emprego no começo, na época, eu fiquei meio chocado.
RS: Por que você ficou chocado por ele querer você na banda?
AY: Crescemos e tocamos juntos, mas pensei: “Por quê?” Ele disse: “Bem, a banda precisa de outro instrumento. E você é um guitarrista bom.”
RS: Qual foi sua atitude em relação ao AC/DC no final da vida de Malcolm?
AY: Mesmo quando ele estava muito doente, ainda fazia o possível para tentar continuar. E sempre [me disse para seguir em frente].
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RS: Como ele lidou com isso em 1980, quando Bon Scott morreu?
aY: Me ligou e disse: “Vamos, vamos voltar ao assunto”. Porque escrevíamos músicas na época, mais tarde se tornariam faixas no Back In Black. Ele disse: “Olha, em vez de ficarmos tristes, vamos apenas entrar no estúdio e fazer como fazíamos antes. Vamos jogar e nos ajudar com sorte.” Fizemos isso. Foi uma boa terapia e provavelmente foi minha maneira de lidar com tudo. Era provavelmente a força de Malcolm. Ele dizia: “OK, vamos ver o possível a se fazer.”
RS: Uma das melhores músicas do novo disco é “Through the Mists of Time”. É quase introspectivo, com Brian cantando sobre ver fotos antigas em uma parede. Você se pega considerando muito o passado?
AY: Não foi isso. Às vezes, quando você faz uma música,pode simplesmente escrever qualquer palavra, se couber. Alguém uma vez me disse sobre Paul McCartney ter o costume de cantar “Yesterday” com [as palavras] “ovos mexidos” para lembrar [a melodia]. Conosco, é um pouco igual. Neste caso, Malcolm escreveu algumas frases no primeiro verso. E quando toquei, procurei algo melhor ... Suas palavras cantadas soavam tão bem. As linhas acabaram de se encaixar. E pensei: “Vou deixá-las como estão”.
RS: Achei que Brian talvez estivesse cantando sobre o passado do AC/DC.
AY: Não,não, não. AC/DC nunca foi sobre uma mensagem ou declaração. Nossa única mensagem foi sobre querer mais pessoas sintonizadas com o rock.
RS: O AC/DC parecia se desintegrar na última turnê. Como você manteve as coisas funcionando?
AY: Bem, novamente, observei como meu irmão lidava com muito. Ele poderia ficar calmo em uma tempestade. Às vezes, quando você está no meio de algo, é difícil tomar decisões, mas você tenta e diz: “Bem, vou tentar fazer o melhor em uma situação ruim”.
Quando Brian teve seu problema de audição, foi avisado sobre não poder continuar [as turnês]. Tínhamos alguns compromissos aos quais estávamos presos, e não queria sentar em uma sala cheia de advogados e brigar [sobre cancelamentos] com um monte de gente. Então, a sugestão foi “OK, talvez alguém possa preencher e fazer essas datas. Axl Rose entrou em contato conosco. Serei eternamente grato por isso. Ele foi muito profissional. Ele realmente teve um ótimo desempenho.
RS: Quando Axl Rose cantou com você, pediu para você cantar várias músicas do AC/DC nunca tocadas ao vivo ou abandonadas há muito tempo, como “Live Wire” e “Rock ‘n’ Roll Damnation”. Isso te deu uma nova apreciação por alguma coisa anterior do AC/DC?
AY: Ele sempre me lembrava das canções e, naquela época, eu dizia: “Sim, acredito ter tocado em algum lugar”. E o problema era, geralmente, ele fazia isso no dia do show. Dizia: “Podemos fazer isso?” E eu respondia: “Oh, tudo bem. Vou tentar.” Tive sorte. Tenho um técnico de guitarra, tocou em uma banda cover. Eu pedia: “Diga-me o primeiro acorde e, então, eu pego”. Foi divertido. Isso nos manteve alerta também.
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RS: Na época, Axl disse acreditar na possibilidade de você e ele trabalharem em alguma música juntos. Isso já aconteceu?
AY: Nada realmente saiu sólido. Ele tem muitos projetos. Nem sei se você diria se encaixar em música. Mas ele estava envolvido em várias ideias.
RS: Ele fez parecer como se quisesse escrever música juntos, vocês dois. E por isso fiquei curioso.
AY: Não, não. Isso nunca aconteceu.
RS: Alguns de seus fãs ficaram muito chateados com a rapidez na qual você substituiu Brian. Você se arrepende do jeito como saiu?
AY: AC/DC nunca esteve no ramo de RP. Estávamos apenas tentando informar as pessoas sobre nossas informações e não queríamos iludir ninguém. Para ser honesto com você, Cliff e eu pensamos: “Bem, pelo menos podemos terminar todos os nossos projetos assinados”. Eu entendo se muitas pessoas estivessem olhando para algo assim como um desastre [risos].
RS: Como Brian acabou voltando para o Power Up?
AY: Bem, não era o caso dele voltar. Eu sabia sobre ele ter consultado especialistas em audição e alguém tinha inventado uma nova tecnologia, existia a possibilidade de realmente funcionar com Brian. Informava sobre seus bons resultados, estava otimista. Então, eu sabia, ele sentia-se capaz de fazer um disco de estúdio. Pensei: “Bem, isso será muito bom, porque dará a oportunidade de juntar as músicas”. Todos estavam ansiosos para embarcar nisso.
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RS: Quando você voltou a entrar em contato com Phil Rudd?
AY: Vi Phil no funeral de Mal, e fiquei muito feliz. Ele começou a trabalhar com muita terapia e parecia realmente saudável, o melhor que o vi em muito, muito tempo. Conversei e mantive contato.
RS: E Cliff? Não disse sobre querer a turnê mais recente da banda como última?
AY: Quando saiu da estrada, disse a ele: “Se eu fizer alguma coisa ou se for fazer algum projeto, se você quiser eu entro em contato com você, e me diz se deseja entrar a bordo ou não?” Ele disse para entrar em contato com ele definitivamente. Então, ele estava ansioso para fazer parte do disco.
RS: Este ano marca o 40º aniversário de Back In Black, o segundo disco mais vendido de todos os tempos -
AY: O segundo? Qual é o primeiro?
RS: Thriller de Michael Jackson.
AY: Preciso me livrar deles [risos]
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RS: Por que você acha que Back In Black era tão popular?
AY: Com Brian [substituindo Bon] na banda, íamos para o desconhecido, então, não sabíamos como seria recebido. Sabíamos da força das músicas, e tínhamos Mutt Lange produzindo. Gravamos nas Bahamas, obtendo as melhores performances de todas. Depois disso, não sabíamos como seria recebido.
Quero dizer, foi até uma luta tentar conseguir a capa daquele disco como queríamos. Era necessário ficar dizendo: “Não, queremos preto”, sendo o preto a cor do luto. Muitas pessoas pensaram na possibilidade disso ser visto de uma forma muito negativa, mas insistimos: “Não, é assim como deve ser.” Então, quando o disco foi lançado, houve muitos resultados positivos. Estávamos realmente em turnê com esse disco. Quando terminamos, não foi até depois do final dessa turnê, comecei a ouvir sobre ele estar indo muito bem. Para nós, foi algo bom.
Mas não sabia se venderia bem. Porque as pessoas por trás do nosso gerenciamento à época nos disseram: “Você pode vender alguns milhões ou algo assim se for realmente proeminente”. Ficaram chocados com o fato de ter vendido tanto. Então, na minha opinião, esse álbum apenas cresceu com as pessoas. Ficou cada vez maior conforme avançava. Mas nunca chegou a ser número um nos Estados Unidos à época, Malcolm achou muito bom. Disse: “Se você chegar a Número Um, só há um outro lugar para onde você pode ir”. [risos]
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