<i>T2</i>, sequência de <i>Trainspotting — Sem Limites</i> (1996) - Divulgação

T2 Trainspotting é um ótimo reencontro com velhos conhecidos

Sequência traz de volta os anti-heróis de Trainspotting – Sem Limites, que marcaram a década de 1990

Paulo Cavalcanti Publicado em 22/03/2017, às 14h04 - Atualizado às 15h23

Trainspotting – Sem Limites (1996), baseado no livro homônimo escrito por Irvine Welsh, tornou-se um poderoso e persistente artefato cultural, uma radiografia de um período de mudanças na sociedade e na cultura pop. Na Inglaterra, o britpop já mostrava desgaste e a cena eletrônica regada à substâncias químicas era o que dominava. Para a juventude da época, as drogas pareciam ser uma saída atraente. A vida de muita gente girava em torno delas, fosse para consumo, comercialização ou ambos. Com humor negro, realismo e alguma tragédia, Trainspotting – Sem Limites refletiu este estado de espírito que tomava conta do Reino Unido (e também em várias partes do mundo).

Sem dúvida soa como algo arriscado fazer uma sequência de um filme tão cultuado e dissecado, mas Danny Boyle e John Hodge, respectivamente o diretor e o roteirista do original, reuniram a velha gangue de junkies com sucesso. Em T2 Trainspotting, nos encontramos novamente com Mark "Rent Boy" Renton (Ewan McGregor), Daniel "Spud" Murphy (Ewen Bremner), Simon "Sick Boy" Williamson (Jonny Lee Miller) e Francis "Franco" Begbie (Robert Carlyle). Eles estão mais velhos, sem o frescor juvenil de antes, mas ainda anda remam à margem da sociedade. Ainda querem fazer a coisa errada, mas agora de um jeito certo.

Baseado no livro Porno, que Irvine Welsh lançou em 2002, T2 começa onde o original parou. Rent Boy agora mora na Holanda e, aparentemente, tem uma vida estável. Depois de sofrer um ataque cardíaco enquanto se exercitava na academia e saber que a mãe havia morrido, ele decide voltar para sua cidade, Edimburgo, na Escócia, e acertar as contas com o passado. Ele sabe que vai ter que encarar os amigos que roubou duas décadas atrás.

Spud perdeu o pouco que tinha, está mais viciado em heroína do que nunca e contempla seriamente o suicídio. Sick Boy é gerente de um pub falido e ganha a vida chantageando pervertidos sexuais endinheirados. Ele trocou a heroína pela cocaína e tem como namorada e parceira de negócios uma búlgara chamada Veronica (Anjela Nedyalkova, com uma ótima presença). O doentio Franco seguia preso, já que em virtude se seu comportamento violento teve a liberdade condicional negada todas as vezes. Mas ele dá um jeito de fugir e irá apavorar a família e os antigos companheiros. Todos estes desajustados ainda estão envolvidos em esquemas dúbios para enriquecer e o espectro das drogas não os abandona.

Ver o quarteto original novamente lado a lado é como assistir ao retorno de uma banda clássica de rock – neste caso, seria como ver os Sex Pistols reunidos. As roupas já não se ajustam como antes e eles estão com menos fios de cabelo, mas ainda dão um bom show. O quarteto não amadureceu ou adquiriu o que se pode chamar de responsabilidade social. A diferença é que agora se preocupam com o núcleo familiar, sejam os pais que vão morrendo ou esposas e filhos que estão crescendo e envelhecendo sem eles por perto. E algumas vezes olham para o passado e lamentam os danos que causaram a outras pessoas.

Existe alguma redenção aqui, especialmente no caso de Spud, que segue como a régua moral da trupe. Franco não deixa de ser repulsivo e fica evidente, mesmo para os amigos amorais, que ele é um caso perdido. Já Renton e Sick Boy, eternamente entre o amor e o ódio, percebem que agora são “dinossauros”. Os ex-donos do pedaço agora são humilhados por um gângster local, que os chama de “perdedores”. Existe uma juventude renovada dando as cartas e estes homens que estão chegando à meia-idade sabem que não fazem mais parte dela. Eles têm consciência que não são as figuras exuberantes de duas décadas atrás, mas são muito “casca grossa” para simplesmente desistirem.

Como foi já foi revelado no trailer, Renton atualiza o definidor discurso “Escolha Vida”. Mas em vez de optar por um emprego, ou uma vida “normal”, as escolhas agora seriam as redes sociais e a efemeridade da comunicação instantânea. Segundo o personagem, refletindo a lógica dos junkies e malucos dos anos 1990, havia mais contato humano e olho no olho naquela época do que hoje. “Você tem que reconciliar com o que tem, não com que você espera”, diz Renton. Em contrapartida, Sick Boy diz a Renton que o amigo “é um turista na própria juventude”. Mas estas digressões sobre envelhecimento e passagem do tempo não importam. Por alguns momentos, até parece que estamos novamente em 1996.

Boyle dirige com estilo e energia, e o novo longa é habilmente costurado com algumas cenas do filme de 1996. Da mesma forma como aconteceu no original, a trilha sonora também dá vida ao filme. "Lust for Life”, de Iggy Pop, e "Born Slippy .NUXX", do Underworld, por exemplo, retornam com grande efeito. T2 Trainspotting não deixa de ser um exercício de nostalgia, mas nestes tempos tão anêmicos, nada melhor do que reencontrar nossos velhos conhecidos desajustados.

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