Sonny Rollins faz show gratuito para maior público do Tim Festival paulistano
Por Artur Tavares Publicado em 27/10/2008, às 12h41
O primeiro show gratuito da história do Tim Festival aconteceu neste sábado, em São Paulo, com um dos maiores mestres do jazz, o saxofonista Sonnny Rollins. Aos 78 anos e acompanhado de um quarteto, um dos pais do gênero fez uma apresentação à moda antiga: um bebop com linhas tradicionais de guitarra, baixo e bateria, e duetos de trombone e sax.
A apresentação estava marcada para às 11h, com palco virado para o Parque do Ibirapuera, mas atrasou meia hora. Sonny havia acabado de passar o som, e precisava de um tempo para descansar. Foi tempo suficiente para que a audiência lotasse o espaço na frente do palco, sentado na grama, uns embaixo do sol, outros se escondendo nas sombras de árvores que ficavam mais distantes.
Começou com "Duke of Iron", em uma jam que durou mais de vinte minutos. Teve início com uma batida caribenha semelhante à batida do calypso, estilo de jazz da região de ilhas na América do Norte, mais notadamente de Cuba. Anunciado pelo curador Zuza Homem de Mello como "colossal", Rollins provou que os efeitos da idade refletiam apenas sua aparência. Mancava ao andar, bem devagarzinho, mas tinha um fôlego invejado por muitos garotões nos seus vinte anos, que assistiam ao show.
Os músicos revezavam o destaque na apresentação. Juntos, estavam muito sintonizados. Quando tocavam quase sozinhos, com os outros instrumentos apenas dando o compasso em um tom mais baixo, todos se mostraram virtuosos instrumentistas. O baixo seguia linhas clássicas, e a guitarra era repleta de agudos, principalmente em "They Say It's Wonderful", a mais tradicional das músicas tocadas.
"In a Sentimental Mood" começou lenta, triste, e ao longo de seus quinze minutos cresceu. Desta vez, o baixo acompanhava mais grosso e melódico, com menos cadência do que havia tido até então. A cada vez que Rollins pegava seu instrumento para tocar, a platéia já o aplaudia fervorosamente.
A peça musical foi encerrada com o trombone, abrindo espaço para a curta "Blues 6". O calor no parque deu uma trégua quando uma pequena nuvem encobriu o sol. A comemoração daqueles que ficaram embaixo do quentíssimo sol do meio-dia por uma hora foi empolgada.
Quando o saxofonista fechou a apresentação, foi aplaudido de pé, e, momentos depois, ao voltar para o bis, não conseguiu fazer com que a audiência voltasse a se sentar. Quando "Isn't She Lovely" começou, grande parte do público se aglomerava atrás da grade que separava as pessoas de uma área isolada - isso porque na frente do palco ficam alguns ninhos do pássaro quero-quero, que chocam seus ovos durante a primavera.
Rollins fechou o show com aquele que talvez seja seu maior clássico, a batida "St. Thomas", que se estendeu por uma jam de dez minutos. Antes de sair, ainda mais aplaudido do que da vez anterior em que havia saído do palco, ele fez uma última graça com a platéia, quando tocava mais um de seus solos. Desta vez, acompanhou a música dançando e acenando com as mãos.
Assim que a apresentação acabou, o maior público de todo o Tim Festival paulistano até agora saiu triste, desejando que o show durasse mais. Sabem que, com a idade do mestre jazzista, aquela pode ter sido a última - e no caso de alguns a única - vez em que viram Sonny tocar.
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