Cena do filme <i>Artista do Desastre</i>, estrelado por James Franco - Reprodução

Artista do Desastre é uma celebração hilariante do cinema trash, mas prepare-se para o festival de vergonha alheia

Obra de James Franco dá nova vida a The Room, considerado um dos piores filmes de todos os tempos

PAULO CAVALCANTI Publicado em 24/01/2018, às 15h33 - Atualizado às 16h38

Você vai ver mais filmes ruins do que bons ao longo da vida. É bom já se acostumar. E em vez de sofrer e lamentar pelo dinheiro e tempo jogados fora, vale é tentar extrair algo positivo da experiência de assistir às porcarias exibidas na tela grande. Este é mais ou menos o mote de Artista do Desastre, comédia dramática estrelada, produzida e dirigida por James Franco. O filme versa sobre a estranha saga de The Room (2003), considerado um dos piores filmes de todos os tempos, a ponto de ganhar o apelido de “o Cidadão Kane dos filmes ruins”. Com o tempo, ele acabou se tornando uma produção cult por excelência. Até hoje o filme é exibido nos Estados Unidos em sessões à meia-noite, com os fãs se trajando como os personagens e recitando cada linha do bizarro roteiro. Como não poderia deixar de ser, Artista do Desastre também celebra o excêntrico e inacreditável cineasta Tommy Wiseau, a figura por trás de The Room.

O filme começa em 1998, em São Francisco, dentro uma escola de interpretação. Greg Sestero é um fã de James Dean que aos 19 anos deseja intensamente ser ator, mas não percebe que não tem nenhum tipo de talento, além de ser muito tímido para interpretar. Depois de tomar uma carinhosa repreensão da professora de interpretação, quando fracassa em uma cena de Esperando Godot, Sestero observa o próximo candidato ao estrelato exibir o que aprendeu no mundo das artes cênicas. Ele é Tommy Wiseau, um sujeito cujo visual lembra um Jim Morrison muito mal-ajambrado. Wiseau, ao contrário de Sestero, é o mestre da extroversão. Ele, então, mostra para os desavisados sua peculiar interpretação para uma cena de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams. Wiseau, que interpreta com se fosse o King Kong sofrendo um ataque de cólicas, impressiona a todos, mas de uma forma negativa. Menos Sestero, que acha que a cara-de-pau dele, na verdade, é a tradução de um talento nato.

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Apesar das enormes diferenças existentes entre eles e contra todas as probabilidades, Sestero e Wiseau tornam se grandes amigos – ou melhor, Sestero parece ser o único amigo que Wiseau tem na vida. O ingênuo rapaz atura as excentricidades e até banca o pai adotivo de Wiseau, uma figura sem noção metade vampiro, metade pirata, e 100% mala sem alça. Ele dirige uma Mercedes-Benz, tem um belo apartamento na cidade e é titular de uma misteriosa conta bancária cujos fundos parecem não ter limite. Ele também fala que veio de Nova Orleans, mas tem um sotaque da Europa oriental (hoje, todos sabem que ele nasceu na Polônia, mas isso não é revelado no filme). Ele fala que tem 19 anos, mas fica claro que tem o dobro disto. Wiseau não tem limites para a bizarrice e vive em um mundo particular. Em meio a inúmeros momentos de vergonha alheia, a dupla vai parar em Los Angeles, com a esperança de triunfar.

A vida em LA não é nada fácil: o tempo passa e as portas continuam sendo batidas na cara de Wiseau e Sestero. Desanimados, os amigos têm uma epifania: já que ninguém em Hollywood quer saber deles, o caminho é fazer o próprio filme. Wiseau tem dinheiro de sobra e, assim, ele torra US$ 6 milhões na produção de The Room.

O resto de Artista do Desastre é uma radiografia hilariante dos bastidores do filme, embora a graça só tenha aparecido posteriormente para quem teve que participar de tudo aquilo. Tanto como cineasta como na função de ator, Wiseau faz todas as escolhas erradas, embora, obviamente, não pense assim. Para piorar, o elenco e a equipe técnica não recebem um tratamento digno por parte dele. The Room é supostamente um drama existencial, com um triângulo amoroso envolvendo o banqueiro Johnny (o próprio Wiseau), seu melhor amigo Mark (Sestero) e Liza (a atriz Juliette Danielle, que aqui é vivida por Ari Graynor). Mas o filme se torna incompreensível e mais surreal a cada cena filmada. Sandy Schklair (Seth Rogen), o supervisor de roteiro, percebe que Wiseau está totalmente fora de seu elemento e que o caminho para o desastre estava aberto. Ele tenta dar alguma coerência à produção, mas não tinha mais jeito – a nave estava sem rota.

Artista do Desastre triunfa em elevar a percepção existente sobre a arte trash, falando também sobre persistência e amizade. Existem nele elementos de outros filmes clássicos sobre o fracasso artístico, como Primavera para Hitler, Ed Wood e This is Spinal Tap, mas ainda assim ele se mostra totalmente original e com frescor. Franco imita com perfeição o indescritível Wiseau, mas não cai em uma caricatura óbvia, demonstrando respeito e consideração pelo sujeito. Dave Franco, irmão de James, também brilha como o eternamente perplexo Greg Sestero, cujo livro The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made, coescrito com Tom Bissell, foi a base para o roteiro.

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