O trabalho de Alberto Pitta exposto na parede da Bienal, durante a semana de moda - Rodrigo Bueno

As cores vivas da Bahia

Artista plástico Alberto Pitta, um dos responsáveis pelas pinturas expostas na Bienal durante a SPFW, fala sobre a importância do intercâmbio Sudeste-Nordeste

Por Patrícia Colombo Publicado em 15/06/2010, às 12h46

As paredes do Pavilhão da Bienal, onde foi realizada a 29ª edição da São Paulo Fashion Week, trouxeram as cores intensas das pinturas de alguns dos artistas plásticos de blocos afro de Salvador. Um deles, Alberto Pitta, idealizador do bloco Cortejo Afro, apareceu no evento nesta segunda, 14, e conversou com os jornalistas em uma entrevista coletiva. Durante o bate-papo, ele ressaltou o diferencial da arte nordestina e exemplificou a semana de moda como uma importante ponte para a divulgação da cultura regional, como meio de aproximação entre as diversas regiões do Brasil. "O sudeste agora começa a aprender, a entender e respeitar signos e símbolos do Nordeste", afirmou o artista.

Foi a frequência em terreiros de candomblé desde a infância que levou Alberto Pitta às artes plásticas. "Independente da questão religiosa, tem a parte estética. Das indumentárias, dos símbolos, das ferramentas, dos orixás, do verde e da natureza", explicou. "Me alimento de tudo isso e penso que também se trata de artes plásticas. Isso é Brasil." Ele trabalhou em diversos blocos, entre eles o Olodum, no qual era responsável por cenário e figurino. Após um convite de Caetano Veloso para decorar sua casa, há cerca de 15 anos, ampliou também sua visão em relação à decoração. "Saí do Olodum visando algo mais ousado, onde pudesse trabalhar com artes plásticas e fazer instalações no carnaval", contou.

Diante da realidade de uma festa cada vez mais comercial em Salvador, Pitta busca, por meio do Cortejo Afro, resgatar o que chama de "cores perdidas" do carnaval da Bahia: a raiz da cultura negra, sem deixar de agregar novos elementos. "Percebo essa necessidade de resgatar essas cores e intervenções artísticas para que o povo conheça. Acho que a estética é o grande lance para melhorar a vida das pessoas."

Sobre a SPFW, foram só elogios. Esta foi a primeira vez que Pitta participou de uma semana de moda, convidado por Paulo Borges e Daniela Thomas, e alguns dos desenhos expostos foram criados especialmente para a ocasião. "Essa questão da alma, da Anima [tema desta edição do evento], fez com que eu pudesse pensar e criar algumas coisas exclusivas", revelou, completando que sua participação foi, além de inaugural, experimental. "É você se dar ao luxo de fazer sem se preocupar em errar."

Ao discorrer sobre o evento, Alberto Pitta destacou, além da questão da reflexão do que é a arte brasileira, o estabelecimento do canal Sudeste-Nordeste. Para o artista, há um grande desconhecimento por parte do centro-sul em relação à riqueza cultural existente mais acima no mapa do Brasil. Contudo, ele salienta que este cenário vem sofrendo mudanças positivas. "De certo modo, tem se percebido a necessidade de lançar olhares sobre o que acontece no nordeste", afirmou. Pitta acredita que para aumentar a junção e a aceitação das diferenciadas expressões artísticas presentes no país, seria necessária a aplicação de um plano cultural mais eficiente. "É preciso uma política cultural mais bem resolvida", disse. "Independente do desejo do nordeste, do sul e do sudeste, isso não anda só. A questão política viabilizaria isso."

Apesar das diferenças autorais dos artistas, um aspecto unia os trabalhos expostos na Bienal: a presença de cores vivas. Pitta explica que um dos temperos baianos está exatamente aí. "No nordeste, usamos as cores fortes sem medo de errar", falou. "Quando as elites brasileiras perceberem e entenderem que o Brasil só será de fato autossuficiente a partir do momento em que assumir suas cores, sua diversidade e a sua gente, a situação mudará", afirmou. "Enquanto isso não acontecer de fato, seremos eternamente um país em desenvolvimento e, aos olhos dos outros, exótico."

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