Seis atores, inclusive Cate Blanchett, interpretam Bob Dylan no filme de Todd Haynes
André Rodrigues, colaboração para o site da RS Publicado em 29/10/2007, às 14h47
Pedras rolantes não criam musgo - nem rostos. Senhoras e senhores, podem se jogar nas poltronas porque mister Bob Dylan vem aí. Ou o que parece ser o ídolo máximo do folk.
Mas esqueçam títulos, estereótipos e padrões. I'm Not There, espécie - e bote espécie nisso - de cinebiografia de Robert Allen Zimmerman, ou Bob Dylan, promete agitar algumas das sessões mais concorridas da Mostra de Cinema de São Paulo.
O filme de Todd Haynes (Velvet Goldmine) levou o prêmio especial do júri e o de melhor atriz (Cate Blanchett) no último Festival de Veneza e agora deixa em êxtase quem curte um cinema inovador, moderno e que propõe um infindável quebra-cabeça emocional, histórico e musical.
No longa, seis histórias principais seguem entrelaçadas. A saber:
1. O garoto negro Woody pula para dentro de um vagão de trem e carrega um case de violão com a inscrição "Isso aqui mata fascistas". Mas Woody também é Bob Dylan.
2. Um jovem cantor de sucesso (Christian Bale) abandona repentinamente a fama e ganha um documentário que refaz seu percurso. Mas Bale também é Bob Dylan.
3. Na Inglaterra, Jude (Cate Blanchett) sobe ao palco e é vaiado por fãs ensandecidos, que acusam o cantor de trair os seus princípios musicais. Mordaz e arredio, ele curte seu sonho de popstar enquanto brinca no jardim com os Beatles e conversa com o poeta e ídolo beat Allen Ginsberg. Mas Jude também é Bob Dylan.
4. Um garoto (Bem Whishaw) fala diretamente para a câmera e explica por que gostaria de ser esquecido. Mas ele também é Bob Dylan.
5. Heath Ledger interpreta um ator que é alvo de fofocas e de paparazzis, o que acaba prejudicando seu casamento. Mas Ledger também é Bob Dylan.
6. Billy (Richard Gere), mítica figura norte-americana, busca o isolamento numa cidade dos Estados Unidos e tenta ajudar os arquétipos habitantes locais a barrar a construção de uma rodovia. Mas Billy também é Bob Dylan.
Ao abordar seis personagens aparentemente distintos - e dotar cada um deles de trejeitos, histórias e marcas consagradas por Bob Dylan - Haynes foge das convenções e também estrutura seu filme a partir dessa fragmentação.
Cada um desses segmentos/histórias recebe um tratamento cinematográfico distinto. Há cenas em preto e branco, cor, imagens de um falso documentário (com Julianne Moore "interpretando Joan Baez") e videoclipes.
Indo e voltando nas histórias e no tempo, I'm Not There reflete sobre os diferentes momentos e vidas de um artista - e, concomitantemente, de cada espectador - e brinca com os fatos com imensa liberdade criativa (como muitas das canções de Dylan).
Além disso, trafega por diversos pontos da história norte-americana, mostrando cenas do Vietnã, Nixon, Panteras Negras e outros movimentos civis, jogando na tela a formação de Bob e montando, em paralelo, um belo panorama da sociedade dos EUA. Na trilha sonora, reúnem-se clássicos de Dylan e de outros mutantes, como Sonic Youth, Antony & The Johnsons e Yo La Tengo.
Ao renovar a força dramática das cinebiografias de ídolos pop, "I'm Not There" ganha aquela aura de clássico logo nos primeiros acordes e tem um final digno de um concerto de rock. Não vai restar pedra sobre pedra nos cinemas.
I'm Not There, de Todd Haynes
21/10, domingo, às 21h40 - Sessão 214
Cinemateca: Lgo. Sen. Raul Cardoso, 207, Vila Clementino. Informações: 11 5084-2177
22/10, segunda, às 19h - Sessão 330
Reserva Cultural 1: Av. Paulista, 900. Informações: 11 3287-3529
28/10, domingo, às 15h - Sessão 831
Cinesesc: R. Augusta, 2.075. Informações: 11 3082-0213
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