Cerca de quatro milhões de pessoas passearam pelas ruas de São Paulo na quinta edição da Virada Cultural; Maria Rita fechou a programação
Por Adriana Douglas e Anna Virginia Balloussier Publicado em 06/05/2009, às 13h01
O clima deu uma colher de chá e o sol apareceu na segunda parte da Virada Cultural, maratona das artes que varou a madrugada de sábado, 2, até a noite deste domingo, 3 (confira a cobertura de sábado aqui), em São Paulo. Depois de tantas atrações - e muita bebedeira -, as horas finais garantiram que, a cada esquina, houvesse pessoas que deram arrego às pálpebras e caíram no sono, onde quer que estivessem (tudo servia: da calçada nada salubre ao capô do carro - alheio).
Enquete: qual foi o melhor show da Virada?
O intensivão cultural teve público de cerca de quatro milhões de pessoas, informa a assessoria de imprensa da Prefeitura, contra os 3,5 mi de 2008 - e, por favor, sem esquecer que, devido à redução orçamentária (R$ 4,5 milhões vs. R$ 6 mi da edição anterior), os palcos foram enxugados de 26, no ano passado, para 22. Com tanta gente circulando pelas ruas, foi, como de praxe, inevitável: uma caminhada pelo centro da cidade revelava a Gomorra da folia, com calçadas banhadas por oceanos de urina e repletas de cordilheiras de lixo de toda natureza, de latinha de cerveja a camisinha usada. Em compensação, até o momento não foram divulgadas ocorrências policiais graves.
Quem "virou" já pode começar a fazer as apostas para o ano que vem. Quem não virou, confere, abaixo, o que rolou em alguns dos shows deste domingo.
Cordel do Fogo Encantado, às 9h
Depois da noite agitada, o palco principal ainda dava os últimos bocejos, às 9h, antes de receber o grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado. A plateia de aproximadamente cinco mil pessoas mostrou o primeiro sinal de empolgação quando os músicos abriram a apresentação com "Sobre as Folhas". Ornamentadas pelas coreografias do vocalista Lira Paes, o Lirinha, faixas dos três discos da banda (Cordel do Fogo Encantado - 2001, O Palhaço do Circo Sem Futuro - 2002 e Transfiguração - 2006) foram apreciadas pelo público. Em "Poeira", todos acordaram de vez. O quinteto, que havia se apresentado às 3h no Sesc Santana, mandou também "Matadeira", "Os Oim do Meu Amor", "Cio da Terra" e "Chover", todas cantaroladas e dançadas pelos espectadores. Com pouco menos de uma hora de show, os pernambucanos encerraram a apresentação, com direito a um bis do vocalista, narrando o poema "Ai! Se Sêsse", do escritor Zé da Luz. (Adriana Douglas)
Nação Zumbi, às 12h
Enquanto os fãs de CPM 22 deixavam o palco roqueiro da Praça da República, uma multidão já estava a postos para aguardar o show dos pernambucanos da Nação Zumbi. Pela segunda vez na Virada (a primeira foi em 2007), a banda surgiu dez minutos antes do esperado e mandou logo de cara a energética "Fome de Tudo", que dá nome ao último álbum de estúdio, de 2007. Tocando por pouco mais de uma hora, Jorge Du Peixe e sua trupe tiveram grandes momentos com as músicas "Meu Maracatu Pesa uma Tonelada", "Bossa Nostra" e "Carnaval", sem deixar de fora faixas como "Manguetown" e "O Cidadão do Mundo", dos tempos de Chico Science. Du Peixe chegou a comparar o evento ao carnaval de Recife, elogiando a "festa" no centro. Para o grand finale, a clássica "Quando a Maré Encher", do disco Rádio S.Amb.A., de 2000, foi perfeitamente entoada pela plateia frontal que, afoita para ouvir um pouco mais da banda, nem notou um pequeno bate-cabeça à esquerda do palco. (Adriana Douglas)
Nasi, às 14h
Banda no palco, som no ponto e uma plateia ansiosa para o show. Cerca de doze horas depois de se apresentar no palco Toca Raul, o cantor Nasi voltou ao centro de São Paulo, na Praça da República. A faixa "Bebendo Vinho", gravada pelo Ira! (a composição é de Wander Wildner), ex-banda do músico, abriu os trabalhos. Digna dos gritos de garotas da grade, a apresentação foi marcada por diversos covers, entre eles "Should I Stay or Should I Go", do The Clash, "Música Urbana 2", do Legião Urbana, "O Tempo Não Para", de Cazuza, e "Epitáfio", dos Titãs, em um setlist que agradou por completo. Mas a verdadeira surpresa foi quando, depois de chamar para o palco o vocalista Fábio Elias, da banda Relespública, Nasi anunciou: "Já que ninguém pediu até agora, eu peço: TOCA RAUL!". Foi a vez de "Metamorfose Ambulante" e "Sociedade Alternativa", de Raul Seixas, com direito a dentada do guitarrista nas cordas de seu instrumento. Uma hora após o começo, o show só foi concluído, no bis, novamente inspirado em Raul, com a música "Aluga-se". (Adriana Douglas)
Novos Baianos, às 15h
Ano passado tinham sido os Mutantes. Desta vez, o grande retorno ficou por conta dos Novos Baianos, que celebraram os 40 anos de carreira com um único desfalque, Moraes Moreira. O ideário bicho-grilo - que para nós, da Rolling Stone Brasil, garantiu à banda o topo na lista dos 100 melhores discos brasileiros de todos os tempos - foi reforçado por hits como "A Menina Dança", "Besta É Tu" e "Preta, Pretinha", além de um cover de "Sampa", de Caetano Veloso. Claro que muita coisa mudou dos anos 1970 para cá. O regime militar acabou; chegaram mais rugas, quilos e, por parte de Baby do Brasil, até uma Bíblia na cabeceira (a cantora agora é envagélica, lembrem-se). Mas a animação seguiu inabalável - ainda que a microfinia tenha estado presente em mais de uma música. Momento "lenços na mão" veio com a balada "Acabou Chorare" - Paulinho Boca de Cantor fez questão de relembrar que o título vem de palavras proferidas por uma então miúda Bebel Gilberto, filha de João Gilberto, após abrir o berreiro. Dedicada a companheiros já mortos, a canção, de certa forma, simbolizou o último momento do show: contagiada pelo cafuné do público, Baby perguntou se rolava um bis, mas um produtor, histérico, sinalizou com um "nem pensar". Nada feito - "acabou chorare". (Anna Virginia Balloussier)
Ike Willis & Central Scrutinizer Band, às 17h20
No final da tarde do domingo, a praça da República já tinha virado um Woodstock à brasileira, com lama, gramado e outro tipo de folha verde às pencas em suas imediações. O guitarrista norte-americano Ike Willis, também ex-vocalista da banda de Frank Zappa, foi encarregado de fechar a programação do local ao lado dos paulistas da Central Scrutinizer Band, tida como uma das melhores bandas cover do lendário guitarrista Frank Zappa, morto em 1993. Zappa foi bem representado por Willis, um grande homem - em espírito, corpo e voz. Aos poucos, o músico foi se acertando com o som do palco (chegou a fazer cara feia e reclamar publicamente do microfone baixo) e entoou hits de Zappa, com seu vozeirão rasgado para o blues. Só levou vaia quando, do palco, louvou o Corinthians, que tinha acabado de faturar o Campeonato Paulista. "Sou brasileiro agora. Estou do lado certo!", ele tentou se justificar. Não rolou. (Anna Virginia Balloussier)
Maria Rita, às 18h
Já anoitecia no centro de São Paulo quando o samba aflorou na Avenida São João. A cantora Maria Rita fez jus às suas raízes e se apresentou, de maneira impecável, para um mar de pessoas espalhadas ao longo da via. Exatamente às 18h05, a multidão foi calada com a voz da artista, escondida no backstage. Todos reconheceram os versos de "Samba Meu", que, rapidamente, foi iniciada pela banda. Então, eis que aparece Maria Rita, reluzente em um vestido curto, cheio de penduricalhos cintilantes, cheia de samba do pé. Sempre sorridente, brincalhona e com pose, a cantora apresentou boa parte de seu último lançamento, Samba Meu (2007), emendando canções de seus outros dois álbuns, como "Encontros e Despedidas", "A Festa", "Pagu", de Rita Lee, "Cara Valente", de Marcelo Camelo, e "Caminho das Águas". Maria Rita também incluiu a faixa "Santa Chuva" no repertório, deixando o público fixado em sua animada performance. Em seguida, fez sua versão para "Não Deixe o Samba Morrer", imortalizada na voz de Alcione, finamente apresentada pela banda e acompanhada por todos. Para encerrar os noventa minutos de show, a escolhida foi "O Homem Falou", verdadeiro samba de raiz. Quando a música chegou ao fim, Maria Rita se retirou sem grandes despedidas, sendo seguida pelo restante dos músicos, e decretando, oficialmente, o fim da quinta edição da Virada. (Adriana Douglas)
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