Produtor foi acusado de assediar sexualmente mais de 25 mulheres, incluindo atrizes como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow; Meryl Streep, Woody Allen e George Clooney estão entre celebridades que se posicionaram
Jenna Scherer Publicado em 17/10/2017, às 15h07 - Atualizado às 19h19
A bomba sobre Harvey Weinstein, magnata de Hollywood, explodiu no dia 5 de outubro, quando o The New York Times publicou uma matéria detalhando como o cofundador da Miramax Films e da The Weinstein Company assediou mulheres sexualmente ao longo das últimas décadas. Desde a revelação, opiniões, posições e relatos relacionados ao caso do produtor vem surgindo.
Para entender a magnitude do acontecimento, é preciso esclarecer o nível de influência de Weinstein na indústria do cinema norte-americano. Em 1979, ele fundou, com o irmão Bob, a Miramax, produtora responsável por alguns dos mais importantes longas dos anos 1990, como Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), Shakespeare Apaixonado (1998) e Gênio Indomável (1997). A próxima empresa dele, a The Weinstein Company, também assinou projetos de sucessos estrondosos. Django Livre (2012), O Discurso do Rei (2010) e Namorados para Sempre (2010) são alguns dos exemplos.
E tanto poder e fama aparentemente foram capazes de mascarar uma história de agressões contra mulheres. O The Cut publicou uma lista compilando 29 denúncias contra ele de assédio e abuso sexual. Entre as relatoras estão desde ex-funcionárias das empresas até atrizes como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow. De acordo com as declarações, as atitudes do empresário foram sempre banalizadas por executivos, assistentes e produtores.
No último domingo, 14, Bob Weinstein, irmão de Harvey, disse, em uma entrevista ao The Hollywood Reporter, que “não imaginava” que Harvey pudesse se comportar dessa maneira. “Eu achava que ele só saía e traía a mulher dele. Não era como se ele tivesse uma amante, era uma após a outra até onde eu sei. Mas isso é muito diferente do que li no The New York Times. De jeito nenhum eu imaginei que ele era esse tipo de predador. E como ele convencia as pessoas a fazerem coisas? Eu pensei que eram todas relações consensuais.”
Após a reportagem, Weinstein foi demitido da empresa que leva o nome dele, e quatro membros da diretoria — todos homens — também pediram demissão. De acordo com o The Hollywood Reporter, um novo nome para comandar a empresa será anunciado em breve, com rumores de que o rapper Jay-Z poderia ser um dos candidatos. A Variety apontou que Georgina Chapman, esposa dele, pretende se divorciar do marido.
Ainda há muito a ser discutido, já que novas acusações surgem ao longo dos dias. Aqui, fizemos um resumo do caso até agora, com informações essenciais sobre o caso e também com os reflexos da situação em Hollywood.
Quais são as acusações contra Harvey Weinstein?
A primeira acusação contra Weinstein é de 1984, ano em que o produtor chamou a atriz Tomi-Ann Roberts, então com 20 anos, para ir ao seu hotel discutir um possível papel em um filme. Ao The New York Times, ela afirmou que ao chegar o encontrou pelado na banheira, e que Weinstein a encorajou a também tirar a roupa, o que ela recusou.
O padrão se repetiu nas outras alegações que vieram à tona, com o produtor sempre sendo acusado de convidar uma mulher jovem ao seu hotel, a partir de uma suposta pretensão profissional, para depois se utilizar da situação, aparecendo em um robe de banho ou completamente pelado, pedindo massagens e/ou favores sexuais em troca de recompensas profissionais.
Gwyneth Paltrow afirmou que, aos 22 anos, enquanto trabalhava em Emma (1996), foi assediada sexualmente por Weinstein em um encontro na suíte de hotel dele. Brad Pitt, namorado dela na época, confrontou o produtor, mas com medo de ter a carreira prejudicada, a atriz não falou publicamente sobre o acontecimento. “Era esperado que eu mantivesse isso em segredo”, relembrou, ao The New York Times.
A modelo e atriz Cara Delevigne contou a história dela com Weinstein em uma publicação no Instagram (leia abaixo na íntegra, em inglês). Ela declarou que o empresário tentou iniciar uma relação sexual com ela e outra mulher durante o que havia sido apresentado como um encontro profissional. “Assim que ficamos sozinhos, ele começou a se gabar sobre as atrizes com quem tinha dormido e sobre como ele tinha as ajudado em suas carreiras”, escreveu. “Então me convidou ao seu quarto. Quando falei que queria sair, ele ficou de pé em frente à porta e tentou me beijar. Eu consegui pará-lo e fugir de lá.”
Uma publicação compartilhada por Cara Delevingne (@caradelevingne) em
Em muitos casos, segundo informações do The New York Times e da New Yorker, os funcionários da Miramax e da The Weinstein Company foram cúmplices, de forma voluntária ou involuntária. Lauren O’Connor, que distribuiu um memorando na empresa do produtor para falar sobre os diversos assédios de Weinstein e sobre o “ambiente tóxico para as mulheres” afirmou que o chefe dela a pedia para “ter reuniões com novas atrizes após elas terem encontros privados com ele em hotéis”.
Como Weinstein respondeu às acusações?
Em 5 de outubro, Weinstein enviou uma resposta à reportagem do The New York Times. “Eu cresci nos anos 1960 e 1970, quando todas as regras sobre comportamento e trabalho eram diferentes. Isso era uma cultura na época”, afirmou. “Mas aprendi que isso não é uma desculpa, nem no escritório nem fora dele. Para ninguém. Percebi há algum tempo que eu precisava ser uma pessoa melhor e minhas interações com meus colegas de trabalho mudaram. Sei que a maneira como me comportei no passado causou muita dor, e eu peço sinceras desculpas.”
Mas essa não é a história completa. Lisa Bloom, ex-integrante do time jurídico do empresário, declarou que Weinstein “nega muitas das acusações”. De acordo com o Deadline, o advogado Charles Harder disse estar preparando um processo contra o The New York Times pela publicação de uma história “cheia de falsas e difamatórias informações sobre Harvey Weinstein”.
Reações em Hollywood
Muitos da indústria do entretenimento condenaram as atitudes de Weinstein. Meryl Streep, que trabalhou em projetos recentes com o produtor (como A Dama de Ferro), expressou surpresa acerca das revelações, mas aplaudiu as mulheres que relataram os casos. “As vergonhosas notícias sobre Harvey Weinstein foram desaprovadas mesmo por quem teve o trabalho apoiado por ele. As corajosas mulheres que levantaram a voz para expor esse abuso são nossas heroínas”, declarou ao The Huffington Post.
George Clooney, que teve o primeiro papel de sucesso em Um Drink no Inferno (1996), produzido pela Miramax, disse que ouviu rumores sobre o comportamento de Weinstein ao longo dos anos mas que nunca testemunhou nada. “É indefensável”, opinou, ao The Daily Beast.
Hillary Clinton e Barack Obama também condenaram o produtor, que fez várias doações ao Partido Democrata. No Twitter, ela falou que estava “chocada e decepcionada” com as notícias.
Statement from Secretary Clinton on Harvey Weinstein: pic.twitter.com/L1l2wl9l0I
— Nick Merrill (@NickMerrill) October 10, 2017
Woody Allen, que enfrentou acusações similares de abuso sexual, em entrevista à BBC, opinou que a situação era “toda muito triste”. “É trágico para as pobres mulheres envolvidas, e para Harvey, por ter a vida tão bagunçada. Não há ganhadores nisso.” Apesar do sentimento, o diretor opinou que espera que o acontecimento não leve “a um clima de caça às bruxas”.
“Você também não quer que isso se transforme em uma atmosfera de caça, em que cada cara que pisca para uma mulher no escritório de repente tenha que chamar um advogado para se defender. Isso também não é certo”, disse. “Mas claro que esperamos que isso possa se transformar em um benefício para as pessoas em vez de só uma situação triste ou trágica.”
A declaração de Allen causou polêmica, assim como a da atriz Mayim Bialik, de Big Bang Theory. Após publicar um texto no The New York Times relatando sua experiência como atriz em Hollywood, ela foi criticada por ter “culpabilizado as vítimas”.
No depoimento, ela escreveu sobre algumas medidas de “autoproteção” que ela tomou quando era jovem na indústria. “Eu decidi que minha personalidade sexual cabe melhor em situações privadas com pessoas que são íntimas. Eu me visto modestamente. Eu não flerto com homens a todo momento.” Após as críticas, ela se desculpou.
“Dizer isso nunca foi minha intenção e eu sei que não há uma maneira para se evitar ser vítima de um assédio. Não importa o que você veste ou como você se comporta. Eu estava falando sobre uma experiência específica em uma indústria ainda mais específica. Os únicos responsáveis por esses comportamentos são os homens que cometem esses atos horrorosos.”
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