Cineasta Daniel Gordon, especialista em futebol norte-coreano e responsável pelo doc The Game of Their Lives, fala sobre as chances do primeiro adversário do Brasil na Copa
Por Paulo Terron Publicado em 14/06/2010, às 13h29
É provável que o britânico Daniel Gordon seja o maior especialista em futebol norte-coreano. Ele dirigiu, em 2002, o documentário The Game of Their Lives, sobre o lendário desempenho da seleção nacional da Coreia do Norte em 1966, que na Copa do Mundo derrotou a Itália e só foi eliminada por Portugal, nas quartas de final.
Com autorização do governo, ele mostrou o que aconteceu com os jogadores daquele time (vários seguiram carreira no exército) e recriou a trajetória do time azarão que assustou os grandes do futebol. Gordon ainda voltou ao país asiático para fazer outro filme, A State of Mind, sobre os jogos nacionais norte-coreanos (uma grande apresentação de ginástica relacionada pelo governo).
O britânico ainda teve permissão para acompanhar os treinos do 25 de Abril - o time do exército que, nesta Copa, mandou seis jogadores à seleção -, algo normalmente vetado aos jornalistas esportivos. Por e-mail, Daniel Gordon falou sobre o futebol norte-coreano, as chances do primeiro adversário do Brasil no campeonato e as negociações para a realização de The Game of Their Lives. Abaixo, você confere o trailer do documentário:
Como surgiu a ideia para o documentário? Deve ser difícil já começar pensando: "É uma boa história, mas também teremos de lidar com um monte de questões políticas".
Sempre tive uma fascinação com esse time, desde quando meu pai me comprou uma VHS do filme oficial da Copa do Mundo de 1966. Eu era só uma criança, mas fui cativado pelo time e pelo o que eles conseguiram! Inicialmente, não sabia das questões políticas, eu queria fazer um filme puramente sobre futebol. Mas acabei com muito mais...
Você tinha algum contato com a cultura da Coreia do Norte antes disso?
Nada. Eu sabia os nomes de todos os jogadores que derrotaram a Itália, sabia quem marcou os gols de cada jogo - e em que minuto. Mas não fazia ideia de quem era Kim Il Sung [presidente eterno da Coreia do Norte, morto em 1994, mas que continua como líder simbólico do país, hoje comandado por seu filho, Kim Jong Il].
O quanto de burocracia vocês tiveram de enfrentar para poder entrar no país?
Não foi nem uma questão de burocracia, mas sim de idas e voltas para ganhar confiança. Eles precisavam ter certeza de que eu era exatamente quem eu dizia ser, e que o filme se manteria em um tom neutro. Isso envolveu muita persuasão, mas, quando eles concordaram, não poderia ter sido melhor.
Assim como na seleção que está nesta Copa, muitos dos que integravam aquele time de 1966 saíram do 25 de Abril, o time do exército. Você teve acesso ao time? Como você o compararia, por exemplo, a um time britânico?
Vi muitos dos treinos do 25 de Abril, em todos os níveis. O time principal é bom, consistente - mas não dá para compará-lo a um bom time da liga europeia, os padrões não são os mesmos. Ainda assim, eles têm a capacidade de jogar melhor em uma eliminatória, o que é um alerta aos oponentes deles na Copa do Mundo!
Você se sentiu pressionado para ser crítico em relação ao esquema "país isolado sem liberdade civil" da Coreia do Norte?
Nem um pouco. Eu estava lá para fazer um filme sobre o time de 1966. As imagens dizem tudo.
E a nova seleção? Ela tem alguma chance na Copa do Mundo?
Tudo é possível. Simplesmente não dá para saber - eles são desconhecidos e, na classificação, mostraram o que podem fazer sob pressão. Jogar contra gente como Brasil, Costa do Marfim e Portugal é uma missão gigantesca, mas uma vitória e um empate pode colocá-los na próxima fase - e eles certamente estão nesse nível.
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