"Prioridades Pra Quem" é a primeira música lançada pelo selo e é uma parceria de Babu Santana, Kowl, Manuh Silva, Mc Estudante e Lacerda
Isabela Guiduci Publicado em 30/04/2021, às 09h00
Dos encontros naturais da vida e do amor pela arte, nasceu a Paizão Records, um selo musical idealizado pelo cantor e ator Babu Santana. Pensado e criado durante a pandemia, o projeto busca dar visibilidade aos artistas do cenário do rap, funk e, principalmente, do trap - e aumentar o espaço do gênero dentro da complexa bolha do mainstream.
"A introspecção [na pandemia] levou à expiração. A maior dificuldade do artista é o fato dele precisar ser mais criativo na falta do palco. [...] Comecei a me engajar na música, que era uma coisa que eu podia fazer em casa com poucas pessoas [...] De pesquisas musicais, nasceram as ideias de fundar a Paizão Records. Minha quarentena tem sido introspectiva, mas inspiradora também", explica Babu Santana em entrevista à Rolling Stone Brasil.
O artista acrescenta sobre idealizar o selo musical: "Está sendo revigorante e, como artista, estou sempre querendo estudar. Para mim, [ser Diretor Artístico da Paizão Records] é algo novo. Quando me sinto desafiado, quando o frio da barriga aumenta, tudo é melhor."
Babu conta que os primeiros passos da Paizão Records foram dados a partir do encontro dele com o produtor musical e beatmaker Lacerda - o qual desejava explorar mais a cena do trap. Devido à convivência entre os dois artistas ter sido certeira, rapidamente começaram a se envolver no projeto que, mais tarde, resultaria no selo musical.
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Para somar ao desejo de Lacerda em relação ao trap, os dois convidaram Kowl (Douglas), que logo trouxe Manuh Silva. Juntos, compuseram três canções, que "chamaram atenção" de Babu - não para a discografia da banda dele, Babu Santana e Os Cabeças de Água Viva, mas como projetos independentes.
Com todos os cuidados devido à pandemia de coronavírus, os músicos foram conhecendo novas pessoas, que agregaram à ideia do projeto. Ao lado de Lacerda, do produtor artístico Hugo Grativol, e de uma gama de artistas potentes, o ator acredita ter formado um time de “altíssima qualidade” para as produções.
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Babu cedeu o próprio home estúdio para os artistas e profissionais que já estavam em isolamento social na casa dele. Assim, ao morarem juntos, passaram a compartilhar as rotinas, ideias, questionamentos, etc. A Paizão Records, no entanto, não é um projeto social e os royalties são divididos igualmente por todas as partes envolvidas.
O idealizador e também Diretor Artístico do projeto conta os aspectos positivos de dividir essa experiência com jovens: "Eles me escutam muito, é muito bacana vê-los evoluindo a cada dia. Nós estamos há três meses morando juntos e já temos quase 15 tracks prontas e três clipes feitos", diz.
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Responsável pela curadoria das letras, Babu explica ter o costume de reforçar sempre aos artistas de que "o trap é proveniente do hip-hop e o hip-hop é uma conquista do gueto, é uma voz do gueto. Tento bombardear eles de informação, peço para lerem livros e ouvirem outros segmentos que não só o trap".
Ele complementa sobre a importância de conhecer outros gêneros para além do trap: "Quero saber como outro segmento pode contribuir, como outro segmento pode me transformar em algo diferente no mercado. [...] Falo muito para esse povo: ‘Vamos lá no funk, vamos lá no James Brown, lá no Jimi Hendrix, Tony Tornado e no Tim Maia’."
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Lançado na terça, 27 de abril, o single "Prioridades Pra Quem" abre o cronograma de lançamentos da Paizão Records preparado para 2021. Acompanhado de um clipe dirigido por Babu Santana, a música é uma parceria do cantor e ator ao lado de Kowl, Manuh Silva, Lacerda e MC Estudante.
Com uma mensagem urgente, a faixa reflete sobre o cenário conturbado da pandemia. "Quero vacina, não cloroquina. Não é questão de aglomeração, o mundo está em fase de mutação. Tenha consciência", diz um dos trechos cantados por Babu.
"‘Prioridades Pra Quem’ surgiu de um dia que acordamos e comecei a falar para eles: ‘Vocês só estão falando de ostentação. Disso, de aquilo outro. Olha só o que está a nossa volta, tem pessoas morrendo, temos uma pandemia. Não vamos falar disso?’. Aí, comecei a fazer uma lista e dessa lista o Kowl fez uma letra. Aí eles me incentivaram a cantar, porque até então eu queria ficar nessa visão de fora, mas eles me convencerem a cantar", conta.
Conforme fala o Diretor Artístico, o processo criativo é de completa imersão. Pelo fato de morarem juntos, todas as canções e composições acontecem naturalmente: "A gente só foi vivendo". Inclusive, brinca que, se em algum momento decidirem lançar um disco, precisaria ser intitulado "orgânico".
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A Paizão Records já tem cinco músicas e clipes prontos para serem divulgados nas próximas semanas. Os lançamentos serão feitos quinzenalmente nas primeiras três músicas e, depois, lançadas a cada mês.
Assista ao clipe de "Prioridades Pra Quem":
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Há algum tempo, o artista refletia sobre o ‘desejo de dirigir’, mas não imaginou que comandaria um selo musical pensado para dar visibilidade ao trap - um gênero sobre o qual Babu não tinha "tanto conhecimento": "Não fazemos apenas trap, sempre temos questionamentos filosóficos. Nós somos muito parecidos, somos todos a cara do 'Freio da Blazer' [referência à música de L7NNON]", explica.
"A Paizão Records é a organização de todas essas explosões de sentimento, de estudos e conhecimentos em uma tentativa de capitalizar, porque estamos na selva capitalista, então precisamos capitalizar o que produzimos. A Paizão Rercords é uma forma de organizar esse encontro que foi bem abençoado com esses meninos os quais me identifico", acrescenta.
Apesar de atualmente se identificar significativamente com o trap e o rap, inicialmente Babu teve dúvidas se teria "lugar de voz" neste cenário. Gradualmente, o músico começou a perceber uma conexão pessoal com os estilos musicais.
"O rap e o trap são músicas que surgiram no gueto. Foram músicas que embalaram minha juventude. Comecei a pensar: ‘Cara, eu sou do gueto, sou homem preto, sou um cara da black music’. Tenho sim lugar de voz aqui. Vou chegar com toda humildade, tem muitas pessoas de altíssima qualidade e [quero aprender com isso]. Vamos fazer porque a voz é do gueto, a voz é do povo e estamos aqui", reflete.
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O trap é um dos gêneros em ascensão no Brasil atualmente, com ótimos nomes representando a cena. De fato, a intenção da Paizão Records é somar grandemente com o gênero no país, além de ajudar a direcionar e expandir a carreira dos artistas.
"Quero brincar com essa liberdade do trap. Quero armar essa armadilha aí. Quero que todos possam acessar. Estou de olho no cenário do trap, quero muito agradar essa galera desse cenário. Penso que consigo apresentar esse segmento para outras pessoas que não conhecem, para quem me segue e para quem está aí. Quero fazer trap, [...] quero fazer música boa", finaliza Babu.
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