Tim Lefebvre descreve o icônico artista como “imensamente generoso” e “extraordinariamente bem-humorado”
Rolling Stone EUA Publicado em 12/01/2016, às 13h09 - Atualizado às 13h34
Tim Lefebvre, integrante do Tedeschi Trucks Band, tocou baixo em todas as faixas do último álbum de David Bowie,Blackstar. Abaixo, ele compartilha as reações iniciais dele à morte de Bowie – no último domingo, 10, após curta batalha contra um câncer – e descreve como foi passar tempo em estúdio com a lenda do rock and roll.
Agora você consegue entender melhor do que Blackstar trata. Eu sabia que David estava doente, mas não a esse ponto. Ele nos fez entender que estava debilitado. Não percebemos. Quando ele cantava, quando ele tocava, ele tinha força e uma impulsão real. Estou chocado.
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Noite passada, eu estava tocando no Blue Whale, um clube em Los Angeles, quando, entre sets, eu recebi a notícia. Chequei meu celular e li uma mensagem de texto que dizia: “Ele se foi”. Mark Giuliana, baterista em Blackstar, estava comigo. Voltei ao palco pensando: “Não pode ser verdade”. Foi inacreditável e destruidor, mas eu fui tocar, transportado por essa energia avassaladora de David.
Eterna mutação: uma discografia selecionada com o que David Bowie fez de melhor.
Ele criou este álbum sabendo que iria morrer e ele nunca se deixou levar até o fim. É o testamento dele, a parte final do legado dele, um presente final para todos nós. Você consegue perceber a generosidade desse artista imenso? Nós frequentemente somos tão cheios de autopiedade; e nesse meio tempo David trabalhou, dando tudo de si com um sorriso, apesar da doença.
Opinião: com David Bowie, a música não podia ser desassociada da imagem.
Ouça todas as músicas de Blackstar e só agora percebo que “Dollar Days” é uma crônica de uma morte anunciada. Senti a tristeza incrível dessa canção enquanto estávamos gravando. A voz, as palavras dele – “I'm falling”; “I’m dying to” – eram cheias de lágrimas, de esperança, de dor e também de solidão. É, ao mesmo tempo, uma última busca pela sobrevivência e o reconhecimento de que ele não conseguiria suportar.
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Serei incapaz de tocar esse disco novamente hoje.
David era um astro. Ele sabia disso. A pessoa era mais poderosa que a imagem. Ele conseguia controlar tudo. Ele era um rei e um cavalheiro. Tratava todos com respeito e amor. Era sincero, autêntico e valente. Ele te fazia se sentir importante. Era o primeiro a aplaudir quando ficava admirado com alguém tocando. Ele ficava admirado com frequência. Muito maravilhoso.
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David Bowie era como John Lennon. Um artista, um ícone, alguém verdadeiramente engajado que nunca será esquecido. Ele foi o maior músico que já escutei. Um gênio que revolucionou o pop e o rock, quebrando todas as barreiras.
É como se David nos levasse na espaçonave com ele, mostrando-nos a vista da Terra da estratosfera: em “Heroes” – falando sobre o Muro de Berlim – ou em “Blackstar”, uma canção política com muitas camadas que ainda estou tentando entender. Aprendi muito com ele, com a imaginação extraordinária e o incrível poder de contar histórias. Vi com meus próprios olhos como ele podia se transformar, virando um personagem feminino, extravagante ou raivoso.
Relato: pelo direito de chorar por David Bowie.
David era um homem cheio de amor e com um humor extraordinário. Durante a gravação de Blackstar, passamos nossos últimos dias rindo. David e eu batalhamos com as palavras. Era hilário. Ele as soltava com um grande sotaque britânico. Ele ria e me dava o apelido de “Cunt”, uma referência à canção dos comediantes britânicos Peter Cook e Dudley Moore, quando eles ficam repetindo a palavra “cunt”. No fim das contas, todo mundo me chamava de “cunt”, até o engenheiro de som.
Amizade com diva transgênero e o nascimento de "Heroes": os anos de Bowie em Berlim.
Não consigo acreditar que ele não está mais aqui. Então, o que resta para mim? A incrível inspiração para fazer discos e músicas tão poderosas quanto as dele, bem como fizemos juntos naquele pequeno estúdio em Nova York – sem floreios, apenas o que é essencial.
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