Bananada 2015: Criolo canta para 10 mil pessoas e festival se fortalece como o maior evento independente do país

Hellbenders venceu o desafio e conquistou o público que lotou o Centro Cultural Oscar Niemeyer

Luciana Rabassallo, de Goiânia

Publicado em 18/05/2015, às 19h10 - Atualizado em 19/05/2015, às 16h08
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Criolo faz show no Festival Bananada 2015 - Claudio Cologni

Criolo é o responsável pelo melhor show brasileiro de 2015. Em turnê de divulgação do álbum Convoque Seu Buda, o terceiro de estúdio da carreira dele, o rapper tem excursionado por todo o país. Na noite deste domingo, 17, Criolo foi a Goiânia para fazer a primeira apresentação do registro na cidade e encerrar com chave de ouro a 17ª edição do Festival Bananada. Muito se especulou sobre a capacidade de Criolo em manter o sucesso e a qualidade do aclamado Nó Na Orelha (2011), disco que o colocou em evidência, sem repetir a fórmula e soar uma cópia de si mesmo. Contudo, Convoque Seu Buda, que chegou à internet em 3 de novembro de 2014, parece mesmo ter arrebatado os ouvidos dos fãs.

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Assim que o produtor Carlos Eduardo Miranda, mestre-de-cerimônias do festival, entrou em cena para anunciar a atração, as 10 mil pessoas que foram ao Centro Cultural Oscar Niemeyer se aglomeraram em frente ao palco Pyguá. "Esse aqui é o maior Festival Bananada de todos os tempos. Quero agradecer a todos vocês que estão aqui e fizeram isso acontecer", afirmou, antes de chamar Criolo e enlouquecer o público.

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Extremante concentrado, o rapper surgiu ao som do single homônimo “Convoque Seu Buda” e ganhou uma recepção calorosa dos fãs. Na canção que abre o álbum, Criolo rima sobre as reintegrações de posse violentas que aconteceram em São Paulo, embalado por um beat com pegada oriental. Seguindo a ordem da tracklist presente no disco, a canção seguinte foi “Esquiva da Esgrima”, em que ele cita nomes como Black Alien, Ferréz, Sartre, Nietzsche, Sabotage e Perrenoud, enquanto faz uma crítica ao preconceito racial.

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Quebrando o tom sério das duas primeiras faixas, veio “Subirusdoistiozin”, disco Nó Na Orelha. “Muito obrigado a todos vocês que saíram de suas casas nesse dia para dividir esse momento comigo. Vocês são os responsáveis por isso aqui estar acontecendo. Que a música possa mudar cada um de nós”, disse o rapper, na primeira inteiração com o público. Voltando às inéditas, o setlist avançou com “Casa de Papelão”, que narra a solidão dos milhares de viciados em crack que vivem à margem da sociedade nas ruas do país, e “Duas de Cinco”, canção que também aborda o uso de drogas e que já havia saído no EP de mesmo nome, lançado em 2013.

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Em “Pé de Breque”, uma ode ao estilo de vida pregado pelo Movimento Rastafári, Criolo colocou no palco uma camiseta com a imagem de Bob Marley. A sessão "reggae/dub" ainda teve “Grajauex” e “Lion Man” – ambas de Nó Na Orelha. Em “Pegue Pra Ela”, balada romântica com pegada de baião, o festival se tornou um grande baile. Casais arriscavam passos de forró enquanto a letra era cantada em uníssono pela plateia. O momento de ápice seguiu com o samba “Fermento Pra Massa”, que a descreve a falta de pão na padaria por conta de uma greve de ônibus na cidade, fato que impossibilitou a ida do padeiro ao trabalho.

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O grande destaque do show, contudo, foi a parceria entre Criolo e Tulipa Ruiz. Com frases como “parcela no cartão essa gente indigesta”, “Cartão de Visita”, pode ser interpretada como uma resposta de Criolo aos críticos que menosprezam o trabalho dele. Há também a parte em que ele cita a entrevista que deu ao apresentador Lázaro Ramos e que virou motivo de piada na internet por conta do discurso pouco claro de rapper. “A alma flutua/ Leite a criança quer beber/ Lázaro ou alguém nos ajude a entender", estava na boca dos fãs – que, ao que tudo indica, entenderam o pano de fundo da canção.

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As escolhidas para o bis foram “Sucrilhos”, “Tô Pra Ver” e “Demorô”. Antes de se despedir, Criolo cantou, a capella e com ajuda do público, "Ainda Há Tempo". Os versos de "Não quero ver você triste assim não / Que a minha música possa te levar amor" emocionaram grande parte da plateia. "Muito obrigada ao Festival Bananada pelo convite. Que cada um de vocês possam voltar para casa de forma tranquila e segura. Tenham uma ótima semana", disse o músico enquanto deixava o palco.

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Com uma banda afiadíssima - formada por DJ DanDan (voz e picapes), Daniel Ganjaman (teclado e programação eletrônica), Marcelo Cabral (baixo), Guilherme Held (guitarra), Maurício Badé (percussão) e Sérgio Machado (bateria) -, que serve de respaldo para o cantor circular livremente entre gêneros como rap, reggae, samba, forró e afrobeat, o show Convoque Seu Buda é o melhor do ano na música nacional. O intervalo que separou Nó Na Orelha de Convoque Seu Buda foi essencial para o amadurecimento de Criolo como cantor e letrista. A apresentação desta noite provou que o disco tem grande aceitação e não caiu no limbo do “mais do mesmo”. Quem presenciou o espetáculo teve a oportunidade de ver um grande artista em cena - que merece ser reconhecido como tal. Criolo vive o melhor momento da carreira dele e fechou de forma brilhante o festival mais legal que tomes atualmente no Brasil.

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A banda goiana Hellbenders, a maior herança da grande geração stoner rock local da qual saíram grupos como o MQN e o Black Drawing Chalks, foi a escolhida para encerrar os trabalhos do palco Palco Yguá e precisou enfrentar um grande desafio: atrair atenção das 10 mil pessoas que aguardavam com ansiedade o show do rapper Criolo. Antes da apresentação, o guitarrista e vocalista Braz Torres se mostrou ciente da missão que o grupo teria de enfrentar: "Estamos tocando em casa e isso é uma coisa muito boa. Isso vai nos ajudar. Temos um público cativo que deve agitar a apresentação. Será bacana". O quarteto, que também conta com o guitarrista Diogo Fleury e o baixista Augusto Scartezini, fez um "showzaço".

No reportório estavam canções como "Hurricane”, "No Thinking” e “Outburst”, do álbum Brand New Fear, lançado em setembro de 2013, com produção de Carlos Eduardo Miranda. A velocidade com a qual o baixo, a guitarra e a bateria são tocados, misturados ao timbre rouco de Fleury, soam como um grande soco no estômago. A sensação de quem acompanha o show de perto é de, literalmente, tomar uma "surra sonora".

Posicionados na linha limítrofe entre o stoner e o garage rock, o grupo canta apenas em inglês. A barreira da língua, contudo, não é um obstáculo para os fãs. As letras das músicas foram reproduzidas com fidelidade e aos berros pelo público. Enquanto a banda se esmerava no palco, uma roda de pogo se alastrava no chão. Em determinado momento, Ynaiã Benthroldo, baterista do Boogarins, entrou em cena para o "clássico banho de cerveja" dos shows do Hellbenders. Ele derrubou uma lata de cerveja na cabeça de Braz, que a cada gota parecia tocar de forma ainda melhor. Ao se despedir da multidão no Bananada, o grupo deixou uma grande expectativa pelo segundo disco de estúdio, gravado nos Estados Unidos, mas ainda sem data de lançamento. Assim como o conterrâneo Boogarins, os garotos do Hellbenders têm talento, experiência e boa música para ganhar os ouvidos de todo o país.

Encerrando um ciclo

Uma das grandes surpresas deste domingo, 17, no festival goiano foi a força dos gritos com os quais a banda Vivendo do Ócio contou durante toda a performance do grupo. "Saímos do estúdio literalmente para o palco. Estamos trabalhando em um novo registro e essa energia de vocês será muito importante nesse momento", disse o vocalista e guitarrista Jajá Cardoso. De Selva Mundo, o sucessor de O Pensamento é um Imã (2012), o grupo de Salvador mostrou “A Lista”, uma canção que parece protestar contra o uso excessivo de telefones celulares.

Vale ressaltar que o quarto registro de estúdio da banda terá produção de Curumin e Fernando Sanches e será financiado por crowdfunding. "Nós somos roqueiros, mas Luiz Gonzaga e o baião influenciaram muito a nossa sonoridade", disse Jajá entes da introdução de "O Mais Clichê". O show ainda contou com as conhecidas “Radioatividade”, “Nostalgia” e “Silas” - todas de O Pensamento é um Imã.

Os fãs de Boogarins

O duo chileno Magaly Fields foi uma das atrações internacionais mais interessantes a passar pelo palco da 17ª edição do festival Bananada. Com muita atitude e habilidade, Tomas Stewart (guitarra e voz) e Diego Cifuentes (bateria e voz) mostraram as canções que estão álbum Chromatic Days, lançado em 2014. Em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil, os músicos contaram que estavam muito felizes pelo convite para participar do evento.

"É uma vitrine muito importante para nós. Além disso, pudemos ouvir as novidades musicais que estão sendo produzidas aqui no Brasil", disse Cifuentes. O duo, que embarca em breve para tocar no festival Primavera Sound, em Barcelona, disse ter ficado impressionado com o show da banda Boogarins: "Eles são incríveis. Têm uma sonoridade marcante". O vocalista ainda ressaltou que a banda local é "formada por músicos de extrema habilidade".

Outro nome que despertou muito interesse em Stewart e Cifuentes é o Water Rats, que mistura de punk da década de 1980 com rock alternativo dos anos 1990. "Além de termos gostado muito das musicas, nós nos tornamos amigos de alguns dos caras. Foi muito divertido passar algum tempo com eles", finalizou Cifuentes, antes de elogiar a feijoada que comeu no almoço: "Estava ótima!".

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