Músico é uma das grandes atrações do festival Planeta Terra, que ocorre neste sábado, 9, no Campo de Marte, em São Paulo
Pedro Antunes Publicado em 08/11/2013, às 20h16 - Atualizado às 21h52
Beck já não é mais o perdedor de “Loser”, hit que impulsionou a carreira dele, aos 23 anos. Ainda assim, duas décadas depois, ele conserva um pouco daquele humor autodepreciativo que exalava durante a década de 90. A pergunta era sobre o Rock in Rio de 2001, única oportunidade que o músico teve em terras brasileiras, mas descambou para uma pouco provável confusão com Axl Rose, estrela e líder do Guns N’ Roses. “Acharam que eu fosse o Axl”, diz ele, divertindo-se com a própria história, ao relembrar quando chegou ao Rio de Janeiro em um avião com apenas dois passageiros: ele e o mitológico guitarrista.
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Talvez fossem as longas madeixas loiras, ou os óculos escuros, mas nada realmente parece justificar a confusão. Beck deixou o avião e, já no aeroporto carioca, se viu rodeado de câmeras de televisão, fotógrafos e repórteres. “E eles gritavam: ‘Axl! Axl! Axl!!’”, diz ele, com voz esganiçada. “De repente, eles perceberam que não era ele. E passaram a me perguntar ‘o que eu sabia sobre Axl; como ele estava; e se tinha tido algum contado com ele’. Ao ser deixado em paz pelos profissionais da imprensa, foi o momento de Beck enfrentar uma nova trupe, os fãs do Guns.
“Começaram a me dar bilhetes. ‘Entregue isso a ele’, diziam. ‘Digam a ele que nós o amamos’”, conta Beck. “E eu sequer fui apresentado a ele!”. O outro contato com o vocalista foi durante uma tarde passada à beira da piscina do hotel onde todos os artistas estavam hospedados. “De repente, ouço um helicóptero se aproximando, ele pousa próximo da piscina e o Axl salta dele. Ele andava de helicópteros”, conta. “Era bem esquisito, estar no hotel com Britney Spears, Guns N’ Roses e Foo Fighters. Muito esquisito, mesmo.”
O músico é a principal atração do palco Smirnoff do festival Planeta Terra, realizado neste sábado, 9, e mostrará um repertório muito mais pomposo e completo do que aquele apresentado na primeira e última vinda ao Brasil – ele ainda passaria por Porto Alegre, mas o show foi cancelado por alegações de “problemas técnicos”.
“Imagino que a sensação para alguém que tenha visto meu show em 2001 e verá agora é a de reencontro com um velho amigo”, compara. Tem sentido. Beck caminhou a passos largos em direção da criação de uma identidade musical muito própria. Logo, como dois amigos que não se encontram há muito tempo, a essência da amizade é a mesma, mas há muito que colocar em dia. “Eu tentava juntar, no palco, James Brown e Devo”, lembra ele. “Era uma versão punk de um show do Prince, entende?”
Um dos principais assuntos para deixar em dia é o disco Sea Change, lançado no ano seguinte, e composto sob os cacos de um coração partido por uma dolorosa separação. O álbum, triste e criado uma semana depois do fim do relacionamento de nove anos com Leigh Limon, foi um novo marco na carreira do músico, uma prova importante amadurecimento. Depois dele, vieram Guero (2005), The Information (2006), Modern Guilt (2008).
No último mês, Beck anunciou que voltou a trabalhar com a gravadora major Capitol Records para gravar o disco Morning Phase, previsto para sair no ano que vem. A proposta do trabalho é resgatar a sonoridade de Sea Change, de certa forma. A ideia de fazer um disco coloca o fim de um hiato de seis anos, embora o período não tenha sido necessariamente de pouco trabalho.
Em dezembro de 2012, Beck lançou um ousado projeto chamado Song Reader, que, na verdade, era basicamente uma daquelas revistinhas com as cifras e as notas para tocar no violão vendidas em bancas de jornal. Neste caso, as faixas eram inéditas. Ele pediu para que as pessoas criassem as próprias interpretações e enviassem a ele – às vezes, ele também toca essas músicas nos shows.
Depois disso, já em 2003, ele recriou “Sound and Vision”, de David Bowie, com uma orquestra formada por 160 músicos, e que saiu no formato de clipe interativo. Também lançou material inédito, como as canções “Wake Up”, “Defriended”, “Gimme” e “I Won't Be Long” – esta última com participação de Kim Gordon. “São todas músicas criadas há quatro ou cinco anos”, diz ele. “É horrível pensar em nunca lançá-las.” As faixas chegam com formatos de singles e não estarão no disco, garante ele. “Eu sabia que o momento delas tinha passado [para sair em um álbum]. Mas elas fazem parte da minha trajetória, achava que seria interessante vê-las por aí”.
O que chamou a atenção, principalmente, foi a sonoridade de “I Won't Be Long”, cheia de guitarras que remetem ao trabalho do Strokes em 2011, o disco Angles. A diferença é que a faixa foi lançada três anos antes. “Eu acredito que, na música, você capta coisas que estão no ar. Ouço as características dessas músicas em bandas atuais”, reflete ele. “Se eu tivesse lançado Odelay em 2000, e não em 1996, ele soaria como vários discos que vieram depois dele”, explica Beck. “O mesmo aconteceria com Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, se ele saísse em 1972, e não em 1967. Isso seria esquisito.” Beck, enfim, volta ao Brasil. Doze anos depois, mais maduro e, o melhor de tudo, sem Axl Rose por perto para perturbá-lo.
Ouça “I Won’t Be Long” abaixo:
Veja a programação do festival Planeta Terra:
PALCO TERRA
13h45 – Hatchets
15h00 – O Terno
16h15 – BNegão
17h30 – Travis
19h30 – Lana Del Rey
21h30 – Blur
PALCO SMIRNOFF
14h15 – Concurso de Bandas Axe
15h15 – Clarice Falcão
16h30 – Palma Violets
18h00 – The Roots
20h00 – Beck
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