Baixista ficou ‘decepcionado’ com a reunião recente da banda
PATRICK DOYLE / Tradução: LIGIA FONSECA Publicado em 08/06/2013, às 12h02 - Atualizado às 13h41
Desde que o baixista Bill Wyman deixou os Rolling Stones, em 1991, lançou vários livros, dedicou tempo a seu restaurante Sticky Fingers, em Londres, realizou exposições de fotos, fez turnês, gravou novas músicas com sua banda, Rhythm Kings, e até patenteou seu próprio detector de metal. "Sempre tive muita sorte no sentido de que, quando coloco a mão em algo, uma coisa incrível acontece”, Wyman conta à Rolling Stone EUA. "Conheço pessoas incríveis e saio nestas tangentes fantásticas com outros projetos, é tão empolgante. É muito melhor do que só tocar rock a vida inteira."
Wyman, um arquivista obcecado, acaba de lançar Bill Wyman's Scrapbook, um grande livro decorativo em edição limitada com imagens que vão de sua infância em Londres a seu último show completo com a banda no Estádio Wembley, em Londres, em 1990. Imagens dos Stones incluem fotos de shows, da gravação de "You Can't Always Get What You Want" com um coral e festas com David Bowie em 1975. Wyman falou com a Rolling Stone sobre o novo livro, seus muitos outros interesses artísticos e científicos e do motivo pelo qual sua reunião com a banda, em dezembro, em Londres, não foi muito divertida.
Por que foi importante para você trabalhar como arquivista, guardando recortes de jornais, ingressos, etc., mesmo quando a banda só estava começando?
Bom, sou assim. A banda não estava nada interessada em compilar qualquer coisa e achava que eu era um idiota por fazer isso, mas não me acha mais. Fiz isso porque tinha um bebê de oito meses quando entrei para a banda e queria guardar coisas para que ele soubesse que já estive em uma banda que apareceu na TV e gravou dois discos. Então, tive um pequeno livro de recortes das primeiras notas, a coisa continuou e acabei tendo 15 livros, que se tornaram algumas caixas de papelão, que virarão seis baús, depois 30. Foi assim, porque depois que comecei, pensei: “E daí? Posso continuar”. Achei que só duraria um ano ou dois, como todos nós achávamos na época.
Você vê o Bill Wyman que toca música e o homem interessado em arquivar e escavar coisas antigas como dois lados seus completamente diferentes?
Desde adolescente me interesso por diversas coisas. Sempre me interessei por culturas antigas, arqueologia, astronomia, fotografia, arte – e à medida que fui crescendo, tentei aprender mais e aprimorar essas coisas lendo livros e vendo documentários e filmes. Quando estava na banda havia 30 anos, era muito difícil, porque não tive a oportunidade de passar tanto tempo fazendo isso, mas conheci grandes artistas na França, como Marc Chagall. Aprendi sobre arte e conheci historiadores, cientistas, fui olhar estrelas em observatórios, e isso abriu minha vida para muitos, muitos outros aspectos diferentes.
Então, esse é um dos motivos pelos quais saí [do Rolling Stones], porque queria me envolver em outras coisas que amava, mas para as quais não tinha tempo, e é por isso que escrevi livros sobre diversos temas em arqueologia. Encontrei sítios romanos que as pessoas nem sabiam que estavam ali. Moedas e toneladas de itens. Tirei 25.000 fotos, sabe, e depois descobri que as pessoas queriam exibir minhas fotos, então é isso o que faço agora. Já fiz oito exposições e isso faz parte do livro. Este é meu oitavo livro e explica para quem não me conhece, ou até para quem me conhece, o escopo da minha vida, que tem sido incrível. Queria dividir isso.
Onde você guarda todas essas coisas?
Não vou contar [risos].
Algum depósito em algum lugar?
Com certeza não. Há um cofre subterrâneo.
E quanto aos acessórios que vocês usavam nas turnês? Você guardou algum?
Não, não, claro que não. Não. Não eram meus, em particular. Guardo minhas roupas de shows e todo tipo de coisa: milhares de pôsteres, guitarras. Tenho meu baixo feito em casa, fabricado em 1961, antes do Stones, que foi o primeiro baixo sem trastes já feito. Só soube que tinha montado um baixo sem trastes quando começaram a fabricar instrumentos deste tipo seis anos depois. Muitas coisas aconteceram na minha vida, algumas delas incríveis. Sempre tive muita sorte no sentido de que, quando coloco a mão em algo, uma coisa incrível acontece. Conheço pessoas impressionantes e saio nessas tangentes fantásticas com outros projetos, é tão empolgante. É muito melhor do que só tocar rock a vida inteira. Sabe, é por isso que quis seguir em frente. Acho que está mostrado no livro, se você realmente prestar atenção nele.
Você pode contar sobre o melhor período para relembrar, quando olha para essas imagens?
Quando eu era garoto, depois da guerra. Éramos muito, muito pobres, então sempre houve muita dificuldade, mas entrar para o exército e a Força Aérea na Alemanha foi um momento especial, porque foi lá que ouvi o começo do rock, em 1955, na American Forces Radio, que ficava em uma zona norte-americana, perto da nossa. Ouvi o início do rock, com Elvis, Bill Haley, Little Richard e tudo o mais, e pirei, porque isso ainda não tinha acontecido na Inglaterra.
Quando você conheceu esses heróis, algum deles foi uma decepção?
Só o Chuck Berry.
Por quê?
Você sabe o porquê [risos]. Todos neste mundo – 95% das pessoas – são gente fantástica. Quando fizemos o The T.A.M.I. Show pela primeira vez, no começo de 1964, James Brown, Supremes, Marvin Gaye, eram pessoas fantásticas. Sempre foram ótimos, sabe, não eram pretensiosos, nem um pouco difíceis. Bo Diddley. Só que Chuck Berry sempre foi tão difícil e tão impossível de lidar. Uma hora ele era simpático e, no minuto seguinte, não falava com você. Há algumas pessoas assim, mas são raras.
Há uma carta ótima [no livro] que você escreveu para uma fã em 1965. Fiquei surpreso por vocês terem tempo de fazer isso.
Sempre tentei fazer isso. Todos nós fazíamos. Na verdade, há imagens de nós autografando coisas nos camarins. Todos tentamos. Havia pilhas e pilhas de livros autografados, programas para serem assinados, e pegávamos alguns e escrevíamos o nome de todos. Aprendemos a copiar a assinatura uns dos outros [risos]. Exceto Charlie, ele não assinava nada, mas eu, Keith, Mick e Brian conseguíamos imitar a assinatura uns dos outros. Quando as vejo à venda agora, sei que duas delas não são deles – originais e coisas assim, mas era a única maneira de fazer aquilo, porque não dava para passar essas coisas para cada um, não havia tempo. Você tinha de estar no palco em 10 minutos.
Alguma coisa no livro lhe deixa um pouco emotivo?
Ah, fico emocionado o tempo todo. Se você diz a coisa certa, fico emotivo conversando com você. Sou um pouco assim, meio mole. Quando tenho de fazer discursos ou algo assim, sempre fico um pouco emocionado, quando recebo prêmios e tal, então sempre tenho de disfarçar, do jeito tipicamente inglês. Perguntam: “Cadê o ar durão?” e você responde: “Não está vendo o queixo duro?” Gosto das coisas fora do Stones porque não foram tão retratadas e provavelmente parecerão mais novas para quem vê e para as pessoas que comprarem o livro, porque elas conhecem todas as outras coisas e é bom ter um pouco disso, mas não queria que o foco fosse só naquilo.
Um motivo para você ter saído da banda é que não queria mais viajar de avião. Keith fala um pouco sobre isso no livro dele e diz que não entendia como isso pode ter acontecido, porque vocês enfrentaram muitos voos e nunca levaram um susto [Ele escreveu: "Viajei em algumas das piores companhias aéreas do mundo com o cara e ele nunca nem piscou"]. Como você reagiu a isso?
Bom, eu viajava de avião antes do Stones, sabe. Voava quando estava no exército, anos antes da banda. Depois de 40 anos e alguns momentos bem assustadores – como estar em um bimotor na pista e ver um avião vindo bem em nossa direção e tendo de manobrar para o lado – cheguei a um ponto em nossa turnê no Japão, em 1990, que não queria mais voar. Fiz a última perna da turnê na Europa viajando de ônibus e chegava ao lugar antes da banda. Eles perguntavam “Como você conseguiu?” Era bem engraçado.
Depois daquilo, pensei: “Não preciso voar mais”. Tenho minha carreira e posso fazer qualquer coisa agora. Vou ter uma nova família, quero ficar com ela. Não quero viajar pelo mundo. Tenho um ótimo restaurante, não vou financiá-lo nem franqueá-lo, porque isso significa ter de viajar de novo. Farei tudo de casa. E foi isso o que fiz, e nunca estive tão feliz.
Há alguns anos, Bob Dylan disse que, depois que você saiu, o Stones virou uma banda de funk ["Eles serão os verdadeiros Rolling Stones quando chamarem Bill de volta"].
Eu sei. Foi muito, muito doce da parte dele, não? Ele falou: “A melhor maneira de voltarem ao que eram antes seria tendo Bill de volta na banda”. Achei que foi muita gentileza dele. Tom Petty falou a mesma coisa e Lenny Kravitz e Bob Geldof também. Há muita gente boa de quem sou amigo ou conheci no passado que tem sido muito lisonjeira neste sentido, mas não dá para recapturar algo que já se foi. Não dá para refazer.
Ver imagens suas no palco com o Stones novamente em Londres [recentemente], tocando "It's Only Rock & Roll" e "Honky Tonk Women" foi muito poderoso. Como foi a experiência para você?
Como foi? Foi boa, porque amei tocar com o Charlie, em primeiro lugar, mas o principal foi que minhas três filhas adolescentes me assistiram pela primeira vez com o Stones no palco, o que nunca tinha acontecido. Eu as levava aos shows do Stones e elas me viram muito no palco com minha banda, mas nunca me viram tocando ao vivo com o Stones, então foi especial por este motivo, mas fiquei cinco minutos lá e saí, obviamente. Fiquei um pouco decepcionado com isso. Ponto final, sabe.
Por que eles não podiam ter você para tocar mais músicas?
Eles não quiseram que eu tocasse mais. Disseram: “Você só vai tocar duas."
Quem disse isso?
Mick. Então, é por isso que não fui aos Estados Unidos, sabe? Porque respondi: “Não vou [viajar] por duas semanas para tocar duas músicas em três shows”. Não quero mais falar disso. Já dissemos várias vezes, mas percebi que não dá para trazer algo de volta do passado depois de anos, porque não é o mesmo. Reuniões de escola, ex-namoradas, divórcios, voltar com a esposa – não funciona. É a mesma coisa com uma banda. Estou muito feliz com minha vida agora e ainda somos grandes amigos. Ainda mandamos presentes de aniversário e Natal uns para os outros, como sempre. Somos ótimos amigos. Encontro com o Ronnie em eventos e saímos juntos, mas não fazemos negócios. Faço negócios com eles se forem coisas que me envolvem, mas não quero mais estar na banda, entende? Deixei isso há 20 anos e os 30 anos em que estive na banda foram fantásticos, mas fiz outras coisas. Fiz arqueologia, escrevo livros, tenho um restaurante de sucesso e uma bela família com três filhas lindas, e é tudo o que quero da vida.
É mais difícil ficar empolgado em tocar rock quando se envelhece?
Bom, não toco rock na minha banda. Toco uma coisa completamente... Tenho alguns músicos na minha banda, como o [guitarrista] Martin Taylor, o [tecladista] Gary Brooker. Muita gente já passou por ela. Tocamos jazz, blues, soul, country, folk, gospel, rock, rockabilly, uma mistura de estilos, porque há vocalistas na banda que cantam estilos diferentes, fazemos um show e há tanta variedade nele que acho muito mais interessante do que simplesmente tocar rock pesado.
E, claro, quanto mais velho você fica, passa a não gostar muito de música alta. Há duas coisas de que você não gosta quando envelhece – você vai descobrir quando chegar lá: volume e velocidade. Os dois são melhores quando reduzidos, e não se gosta mais realmente daquilo.
Você sente o peso da idade?
Não, sempre fui saudável, sempre pareci mais jovem. Sempre fui mais velho do que eles. Tenho sete anos a mais do que Mick e Keith, cinco anos a mais do que Charlie. Nos anos 70 e 80, [as pessoas] sempre pensavam que eu era o mais novo e, claro, não me opus a isso. Simplesmente deixei que acreditassem. Especialmente as garotas.
Você tem a reputação de ter conquistado mais mulheres do que todos na banda.
Fui assim. Chamei muita atenção, isso não acontece agora. Estou casado há 20 anos, estamos comemorando nosso 20º aniversário neste fim de semana e vou viajar com minha esposa para a França por alguns dias. É como uma segunda lua de mel. Foi onde nos casamos, então será bom.
Veremos você no Hyde Park quando o Stones tocar, possivelmente?
Estarei de férias com minha família na França nessa época, muito convenientemente.
Alfa Anderson, vocalista principal do Chic, morre aos 78 anos
Blake Lively se pronuncia sobre acusação de assédio contra Justin Baldoni
Luigi Mangione enfrenta acusações federais de assassinato e perseguição
Prince e The Clash receberão o Grammy pelo conjunto da obra na edição de 2025
Música de Robbie Williams é desqualificada do Oscar por supostas semelhanças com outras canções
Detonautas divulga agenda de shows de 2025; veja