Festival Bananada recebe 7 mil pessoas na noite de sexta-feira, 16, que ainda contou com shows de Liniker e os Caramelows, Luedji Luna, Jaloo, MC Tha, entre outros
Pedro Antunes, de Goiânia* Publicado em 17/08/2019, às 15h05
"Gustavo!", gritava o público do lado de cá. "Gustavo! Gustavo!" Chamavam pelo rapper Black Alien, ali no palco do Festival Bananada, na noite desta sexta-feira, 16, no espaço montado para os três últimos dias de festa no estacionamento do Passeio das Águas Shopping, em Goiânia.
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Mas, afinal, o que significa ter um artista no palco chamado pelo nome de batismo, Gus, em vez da persona artística. Intimidade, talvez. Proximidade, de certo. Empatia, definitivamente.
Gustavo já foi engolido pela entidade Black Alien, rapper dos melhores da sua geração dos anos 1990. Atormentado pelos vícios, atropelado pelas dependências que usava como muleta. Hoje, limpo, rima sobre os mesmos fantasmas que um dia já o impediram de estar onde gosta, no palco, nos ouvidos e na língua dos versados no rap.
"Eu sou o agora", ele repete, como um mantra, ao final de "Que Nem o Meu Cachorro", música do disco Abaixo de Zero: Hello Hell, lançado em 2019 e já transformado em um dos melhores álbuns do ano. O "agora", ele diz. É o presente que derrotou o passado, enfim.
O Festival Bananada fez, no quinto dia de evento e primeiro realizado no Passeio das Águas Shopping com o formato de festivalzão, com mais palcos e shows simultâneos, um passeio metafórico por passado, presente e futuro apoiado em três figuras proeminentes do rap nacional.
Black Alien duela com o seu passado a cada faixa. Está no palco limpo. Busca as garrafas d'água sempre que pode e canta sobre um tempo no qual essa cena não existiria. Gustavo viveu o seu inferno e voltou de lá renovado. Se ainda sente o peso dessa jornada, ele transforma a luta em combustível para disparar por uma estrada de curvas sinuosas sem derrapar e sair da pista. Passado vencido. Presente, sóbrio, enfim bem vivido.
É contra esse presente que luta Baco Exu do Blues. O rapper, atração principal da noite de sexta do Festival Bananada, foi alçado a maior nome do rap nacional ao estourar a própria bolha com o hit "Te Amo Disgraça", de 2017. Foi parar na tela da TV Globo, amado por famosos e influenciadores.
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Hoje ele vive a pressão de novo de quem está debaixo dos holofotes e na posição de destaque do maior festival independente do País. O presente de Baco Exu do Blues exige e cobra seu preço para quem se deixou voar alto.
No final de julho, ele lançou o single "Blackstreetboys" e um dos versos da música colocou o rapper no centro de uma nova espiral de comentários e críticas nas redes "Depois que Jay-z ficou estéril, Beyoncé me ligou perguntando se doo sêmen", diz ele, na música em questão.
Baco não falou sobre isso no palco do Bananada. Pelo contrário, fez do presente o que o levou até aqui. Com a participação de duas das três vozes do Tuyo, Lil e Lay Soares, entregou uma versão intensa de "Flamingos", música do disco mais recente, Bluesman (2018).
"Te Amo Disgraça", por sua vez, tem se tornando outra música no palco, a cada show. O público canta mais do que o próprio rapper, como uma entidade que tomasse vida própria já nas primeiras notas.
Com os discos Esú (2017) e Bluesman (2018), ele expôs suas angústias, abriu as portas de quem é. E sofreu com isso, também. Já foi combativo, já errou, já amou demais, já sentiu a pressão de ser quem é.
No fim, Baco, ou Diogo Moncorvo, ainda é um garoto de 20 e poucos anos e sorriso doce. Estar no topo não é para qualquer um. Se manter ali, também. Machuca.
Antes de Black Alien e Baco Exu do Blues, o rap viu o futuro. E ele é assustador. O rapper Edgar tomou o palco do Festival Bananada como uma figura mascarada e pronta para espalhar o caos.
Edgar tem um flow intenso. Sua voz, aguda, é fina como uma navalha que corta a realidade, o presente, para entregar o que está por vir. O agudo se contrasta com o som sintético e grave vindo dos dois DJs que o acompanham.
Com o disco Ultrassom, ótimo álbum de 2018, Edgar é um profeta do apocalipse. Trata de temas tão reais, aterrorizantemente palpáveis, que assusta até. O que ele faz, no palco, não existe em nenhum outro lugar. Cria a louca sensação de imersão em uma realidade que parece distorcida da nossa, embora seja, na verdade, cruelmente verídica.
Violentamente verdadeiro, Edgar também soa profético. Porque ele expõe os problemas do presente como uma espinha no meio da testa, horrível e repleta de pus. Quer espremê-la para evitar que o futuro seja menos apocalíptico do que se apresenta.
Como ele mesmo diz, em "Plástico", "o futuro é uma criança com medo de nós".
Fora da esfera do rap, o Bananada também trouxe apresentações de nuances e intensidades diversas. Liniker e os Caramelows mostram como a estrada fez bem para a banda. Confortáveis no palco, entregam uma performance que também pode ser chamada de celebração. De auto-amor, principalmente.
Luedji Luna, por sua vez, transforma o palco em um local de celebração. Ressignifica sua história. Seu trabalho nasceu do questionar o seu lugar no mundo. Ao transformar a calmaria em oração, ela encontra. É no palco.
Jaloo, também à vontade no palco, foi avassalador. Embalado por aquelas sofrências das boas, o artista teve a companhia de MC Tha. É um show que se mostra funcionar bem em palcos de festivais ou em casas fechadas. Afinal, para sentir o coração basta ter um. Não importa onde estiver.
Iniciado na segunda-feira, 12, com shows espalhados por Goiânia, o Festival Bananada ainda toma Passeio das Águas Shopping ainda neste sábado, 17, e domingo, 18.
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