Em duas horas, grupo mostrou show "cibernético" e provou que não tem pudor em fazer música com o intuito de divertir
Por Bruna Veloso Publicado em 05/11/2010, às 15h45
"O objetivo é o escapismo", disse Fergie sobre o disco The E.N.D., em entrevista à Rolling Stone EUA, no início desse ano. "Nós queríamos especificamente que as pessoas se esquecessem dos problemas com dinheiro, do desemprego, dos problemas em casa." Em São Paulo, diante de mais de 60 mil pessoas em um Morumbi lotado, foi isso que a voluptuosa cantora e seus companheiros no Black Eyed Peas ofereceram: pouco mais de duas horas de puro entretenimento, lasers esquizofrênicos e batidas sonoras que fizeram com que quem estivesse ali perdesse a noção do significado da palavra "problema".
No show do Black Eyed Peas, tudo é superlativo - do palco, adornado por grandes telões espalhados por toda sua extensão, ao figurino do grupo, que às vezes fica exatamente no limite entre o brega e o cool. A lista de músicas do repertório é feita para ser reconhecida - não há nenhuma faixa dos dois primeiros discos, lançados antes da chegada de Fergie, que entrou oficialmente para o BEP em 2002. De "Let's Get It Started" (Elephunk, 2003), a primeira da noite, passando por "Don't Phunk With My Heart" (Monkey Business, 2005) e chegando a "Boom Boom Pow" (The E.N.D., 2009), Will.i.am, Apl.de.ap, Fergie e Taboo comandaram uma grande festa, que atingiu, do começo ao fim, o objetivo citado acima pela cantora.
Will.i.am, mentor do BEP e símbolo, nos anos 2000, da mente mercadológica inerente a grande parte dos astros pop, chegou a parecer assustado diante da gigantesca plateia logo no início do show. Enquanto ele se soltou no decorrer da apresentação, Fergie pareceu, desde o início, dona do palco: sensual e sem nenhum pudor de usar mais o corpo que a voz, ela caminhou diversas vezes pela passarela que invadia a pista vip com diversos figurinos - de roupa robótica a microvestido preto -, chamando a atenção pelo modo como olhava para as câmeras, sempre ciente de que uma boa pose faz bem aos telões.
É muito difícil que em um grupo musical de quatro pessoas as atenções sejam divididas de forma igualitária - mas, pelo menos no show do Black Eyed Peas, todos têm momento de destaque garantido. Depois de um freestyle de Will.i.am (em que ele, um declarado amante da cultura brasileira, fez ode ao país), com direito a trecho de "Chove Chuva" (de Jorge Ben Jor, ídolo de Will.i.am que, depois de acusar, em 1999, o grupo de plágio, subiu ao palco para cantar com os integrantes no Rio de Janeiro), hits como "My Humps", "Hey Mama" e a versão para "Mas que Nada", com a presença de passistas de carnaval, foi a hora de Apl.de.ap tomar o palco para si. O rapper filipino, que aprendeu a falar inglês com fluência só na adolescência, deixou de lado seu trabalho solo para cantar "Bebot" e "Mare".
Depois, os telões indicaram que era a vez de Taboo que, todo de branco, citou MC Gorila e Preto e promoveu um dueto virtual com o cantor colombiano Juanes, que apareceu nos telões cantando "La Paga". Em seu momento solo, Fergie foi prejudicada pelo baixo volume nas caixas de som, a começar no irresistível hit "Fergalicious". Ali e em "Big Girls Don't Cry" ela mostrou que, ao menos ao vivo e em um show tão energético quanto aquele, não canta para valer - mas poupa a voz para gritar alto, como se precisasse provar que, sim, tem uma grande potência vocal, apesar de não esbanjar melodia.
Na porção "I Am Robot" do show, Will.i.am surgiu logo após a saída de Fergie, vestido de robô e como se tivesse, como indicaram os telões, saído de uma nave espacial. Depois de ir até a frente da passarela, ele foi içado por um elevador, junto a um laptop, que usou para comandar um DJ set que teve samples de Sergio Mendes ("Magalenha"), Michael Jackson ("Thriller"), Nirvana ("Smells Like Teen Spirit") e Blur ("Song 2"), para citar alguns, além da (infelizmente) tosca nova música do BEP, "The Time (The Dirty Bit)".
Juntos novamente, os quatro ainda cantaram "Pump it", "Don't Lie" e "Where's the Love", hit que catapultou o Black Eyed Peas para as paradas de sucesso em 2003. Depois de deixarem as vistas do público, os quatro surgiram repentinamente de uma parte mais baixa do palco, um de cada vez, impulsionados pelo mesmo tipo de elevador que os dançarinos de Michael Jackson usariam nos shows do cantor, como mostra o filme This Is It.
Antes de encerrar com o mega-hit "I Gotta Feeling" (coproduzido pelo DJ francês David Guetta, que abriu o show no Morumbi) e um trecho de "Rap das Armas", Will.i.am declarou, mais uma vez, seu amor ao país. Dizendo que em 2011 vai comprar uma casa no Rio de Janeiro e um apartamento em São Paulo, o cantor desejou sorte a Dilma Rousseff e disse que o Brasil é o seu lugar favorito no mundo ("Verdade, no mentiras!", ele repetiu).
Ao final, depois de nove shows da turnê The E.N.D. no país, a chuva de papel picado jogado na plateia coroou a celebração da música feita para divertir, sem preocupação e sem vergonha de ser realizada para as massas: pop por excelência.
Nando Reis diz que usou drogas durante 30 anos: 'Foi consumindo minha vida'
Morre Andy Paley, compositor da trilha sonora de Bob Esponja, aos 72 anos
Viola Davis receberá o prêmio Cecil B. DeMille do Globo de Ouro
Jeff Goldblum toca música de Wicked no piano em estação de trem de Londres
Jaqueta de couro usada por Olivia Newton-John em Grease será leiloada
Anne Hathaway estrelará adaptação cinematográfica de Verity de Colleen Hoover