Em Porto Alegre, ícones britânicos tocaram hinos e mostraram empenho
Pablo Miyazawa, de Porto Alegre Publicado em 10/10/2013, às 03h48 - Atualizado às 17h08
Poucas experiências na música se comparam à de presenciar a reunião da formação clássica de uma banda lendária há muito afastada dos palcos. A raridade desse tipo de acontecimento, além do esgotamento da fonte de artistas com status de "lenda", só contribui para valorizar ainda mais tais ocasiões. Em se tratando da volta do Black Sabbath, o impacto ainda é enorme, mesmo diante das circunstâncias adversas: após diversos encontros e e desencontros ao longo dos últimos 15 anos, o grupo retornou à estrada em definitivo no ano passado, com um novo disco gravado por três quartos do line-up original – o baterista Bill Ward ficou de fora, por “razões contratuais”. Houve um drama a mais pelo caminho: o guitarrista Tony Iommi revelou sofrer de linfoma e atualmente passa por tratamento.
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A histórica noite de quarta-feira, 9 de outubro, marcou a estreia de Iommi, do vocalista Ozzy Osbourne e do baixista Geezer Butler juntos em um palco brasileiro. Na arena montada no estacionamento da FIERGS, em Porto Alegre (RS), os três integrantes fundadores do Black Sabbath não precisaram se esforçar para justificar por que a banda é considerada a inventora de todo um gênero (o heavy metal, rótulo o qual renegam) e a fonte primária de inspiração de qualquer músico de rock considerado "pesado".
Não que o trio precisasse fazer muito para agradar. Ozzy, Geezer e Tony pareceram animados e dispostos o suficiente para atravessar sem crises o set list de 16 músicas em cravadas duas horas de show. Ozzy é o frontman perfeito por excelência: poucos vocalistas exibem um prazer tão genuíno em levantar e interagir com os fãs do alto do palco. Faz o que pode, o que, no atual estado dele, não significa muita movimentação: Ozzy pouco se mexe, sendo contáveis nos dedos da mão as vezes que abandonou o pedestal do microfone e se dirigiu para as extremidades do cenário. A rotina é tão previsível quanto irresistível: apresentando cada música pelo título, ele incessantemente pediu palmas, sugeriu coreografias e exigiu que a plateia gritasse ou “get crazy”.
Butler e Iommi também não chamam a atenção pela mobilidade: estacionado como um monolito e sem alterar a expressão concentrada, o virtuoso baixista jamais deixa o posto do lado esquerdo de quem o assiste; já Iommi, que não dá pista alguma de que atravessa um tratamento de saúde, mostra mais atitude, ainda que sem grandes ousadias: o guitarrista no máximo se encaminha até o lado de Butler durante um solo, mas retorna ao canto direito antes mesmo de alguém perceber que ele mudou de posição.
Não que houvesse algo de errado, no fim das contas. Todos esses aspectos sempre fizeram parte da experiência proporcionada pelo Black Sabbath ao vivo. Por parte do público, o comportamento pode ser descrito como igualmente estático, ainda que tivesse possibilidade de ser mais ativo. Ficou rapidamente claro que este é um show para ser assistido, mais do que experimentado de um modo mais físico. Por mais que Ozzy tentasse insistentemente provocar a multidão, a verdade é que havia pouco a ser feito: as músicas do Sabbath raramente são rápidas e pulsantes o bastante para estimular rodas de pogo, palmas ou saltos repetitivos (em “Children of the Grave”, cujo riff principal traz certo groove, o vocalista ordenou: “Pulem”. Foi obedecido, mas durou pouco). Com ênfase nos riffs de Iommi, letras não tão memoráveis e refrãos pouco convencionais, o repertório do Sabbath não é do tipo que convida à cantoria generalizada – o tema mais repetido da noite pela multidão foi um impessoal "olê, olê, olê, olê". Somando esses aspectos ao posicionamento quase intimidador do trio de frente, o resultado é um show de teor morno no que diz respeito à interação artista-fã. Ninguém tem culpa, no caso – é apenas a confirmação da natureza contemplativa de uma apresentação do Black Sabbath, como tem sido desde que a banda se estabeleceu no final da década de 60.
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Sem tirar nem por ou qualquer desvio, o repertório do Sabbath permanece o mesmo desde o início da segunda fase da turnê atual, marcada pelo lançamento do disco 13, em junho passado. No primeiro dos quatro shows no Brasil (o grupo tocará ainda em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), não houve surpresas, talvez com uma exceção: em “Under the Sun”, de Vol. IV (1971), a banda omitiu o coda melodioso (batizado em certas versões do álbum como “Every Day Comes and Goes”). Foi o único momento destoante em relação às apresentações da banda nos últimos três meses. Aliás, nesta faixa e na anterior, “Into the Void”, a voz de Ozzy deu sinais de que não atingiria certos patamares. A impressão se dissipou daí em diante, com o vocalista mais à vontade, principalmente nas canções do novo disco (as afinações mais graves em relação às gravações originais, como nas músicas de Paranoid, permitiram a Ozzy não se esforçar tanto). Era notável também que o cantor raramente deixava de acompanhar o teleprompter com a “cola” das letras, mesmo em faixas recentes, como no single "God Is Dead?". Descontados esses detalhes, toda a performance de Ozzy foi muito o que se espera dele: declarou amor e abençoou a plateia, pediu atenção, sorriu e às vezes faz cara de quem se perdeu pelo caminho. Mas Ozzy é tão focado quanto Butler e Iommi – os "deslizes" fazem parte do charme do artista, que tem garantido para si a posição de frontman definitivo da história da música pesada.
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No quesito mais relevante, o sonoro, o Sabbath ao vivo é uma experiência crescentemente impressionante, ainda mais pelo fato de não se valer de qualquer tipo de aditivo: o que se escuta vem "apenas" da Gibson SG de Iommi, do baixo de Butler e da bateria eficiente e bem trabalhada do convidado Tommy Clufetos. A parede sonora e maciça não dá chances a espaços vazios, mesmo durante os solos – o baixo retumbante de notas cavalgadas não apenas preenche, mas oferece caminhos melódicos alternativos aos riffs e licks emblemáticos costurados por Iommi com notável beleza e brutal precisão. Como autênticos operários do metal, os dois músicos realizam o ofício com eficiência marcial, quase sem permitir improvisações ou licenças poéticas, salvo uma ou outra nota fora do lugar (o fato de a banda ter surgido na soturna Birmingham, na zona industrial inglesa, não é um detalhe que deve ser ignorado).
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Após mais de 40 anos de atividade e tocando a mesma lista de clássicos ("Paranoid", "Iron Man", "Black Sabbath", "Snowblind", "N.I.B."), impressiona e emociona perceber o quanto os integrantes-fundadores do Black Sabbath são eficientes no que fazem, ainda soando originais e relevantes após quatro décadas. É como se a excessiva prática só os tivesse tornado mais espontaneamente eficientes. O Sabbath de hoje ainda consegue soar como se fosse aquela tímida banda de inspirações blueseiras que tocava em palcos minúsculos diante de punhados de motoqueiros bêbados em 1969. A naturalidade é a mesma, e o poder avassalador das músicas também. No caso de Ozzy, Iommi e Butler, o peso da idade significa apenas mais experiência e a manutenção de um indiscutível e merecido status de lendas vivas. Para quem assistiu ao show, a sensação inevitável foi a de se estar presenciando a história do rock sendo escrita.
Veja abaixo o set list do Black Sabbath em Porto Alegre:
“War Pigs”
“Into the Void”
“Under the Sun”
“Snowblind”
“Age of Reason”
“Black Sabbath”
“Behind the Wall of Sleep”
“N.I.B.”
“End of the Beginning”
“Fairies Wear Boots”
“Rat Salad”
“Iron Man”
“God is Dead?”
“Dirty Women”
“Children of the Grave”
“Paranoid”
Megadeth: curto, grosso e amigável
Fazendo a abertura, o Megadeth primou por ser conciso. Em um show curto, eficiente e energético, o grupo liderado por Dave Mustaine ignorou quase completamente os discos recentes, concentrando esforços nos clássicos da primeira fase da banda, como “Wake Up Dead”, “Peace Sells”, “In My Darkest Hour”, “Hangar 18” e “Tornado of Souls”. Mustaine pareceu animado e bem disposto a agradar um público que não estava lá apenas para vê-lo, lidando tranquilamente com a posição de coadjuvante de luxo. Com o modo "paz e amor" ligado no máximo, o historicamente temperamental vocalista/guitarrista fez questão de deixar uma boa impressão, apesar de mal ter citado o privilégio de estar abrindo para o maior nome do metal em todos os tempos. Ao final, após a icônica “Holy Wars”, o frontman gastou mais alguns minutos agradecendo o público de um modo tão afetuoso que até fãs antigos devem ter estranhado.
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