O Ministério publicou 4 notas técnicas para reforçar que não há comprovação científica da eficácia da vitamina D, mas Bolsonaro defendeu uso do composto mesmo assim
Redação Publicado em 18/05/2021, às 12h05
Jair Bolsonaro (sem partido) ignorou quatro notas técnicas do Ministério da Saúde ao defender a vitamina D como tratamento e prevenção da Covid-19. O composto não tem eficácia comprovada. As informações são da Folha de S. Paulo.
O Ministério da Saúde publicou no Diário Oficial, em 8 de abril de 2020, uma medida que zerou impostos para a importação de vitamina D para “facilitar combate à pandemia”. Contudo, horas mais tarde, a pasta divulgou uma nota técnica dizendo que o composto não tem eficácia no tratamento da doença.
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Os técnicos da Saúde confirmaram, por meio de estudo, que não há associação entre a falta de vitamina D e o agravamento da infecção por Covid-19. Contudo, quatro dias antes da publicação do documento, Bolsonaro anunciou o fim dos impostos na importação de vitamina D, hidroxicloroquina e azitromicina - todos sem eficácia contra a doença:
“Todos usados no tratamento de pacientes portadores da Covid-19,” disse o presidente em rede social. Em maio e setembro de 2020, o Ministério publicou novas notas nas quais reforçou a oposição. "É prudente aguardar os resultados de estudos com maior qualidade e rigor metodológicos e interpretar com cautela o compilado de evidências atualmente disponíveis na literatura científica," escreveu a pasta.
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No entanto, Bolsonaro ignorou as recomendações do órgão. Em live semanal, o presidente reclamou do fechamento de praias e alegou que a medida de isolamento social é prejudicial para Covid-19 devido à vitamina D.
"É um abuso o que está acontecendo. Uma forma de blindar a Covid é a vitamina D. Então, você pega sol. E ficam dando ordem, igual a esse do governador de São Paulo, que não tem como ser cumprida", declarou o presidente.
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Conforme noticiado pela Folha de S. Paulo, o Ministério publicou, novamente, uma nota técnica sobre o tema em março de 2021. O documento afirma a importância de esperar estudos com mais qualidade para afirmar a eficácia da vitamina D.
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Nesta quarta, 5 de maio, Jair Bolsonaro (sem partido) comentou sobre a CPI da Covid, que investiga a atuação do governo federal durante a pandemia. Durante declaração, o presidente chamou de “canalha” quem não concorda com o tratamento precoce contra a doença e não "apresenta alternativa". As informações são do G1.
Um dos pontos de investigação da CPI da Covid é a promoção governamental de medidas sem eficácia comprovada contra a doença, como o tratamento precoce. Bolsonaro é um dos defensores do uso desses medicamentos, como hidroxicloroquina, e afirma que se curou da Covid-19 graças ao remédio.
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No Palácio do Planalto nesta quarta, 5, Bolsonaro disse: "Canalha é aquele que é contra o tratamento precoce e não apresenta alternativa. Esse é um canalha. O que eu tomei [para tratar a Covid], todo mundo sabe. Ouso dizer que milhões de pessoas fizeram esse tratamento. Por que é contra?"
Segundo o G1, o presidente também disse esperar que a investigação da CPI também seja feita em relação ao resultado do uso de hidroxicloroquina em Manaus no início de 2021: "Espero que a experiência de Manaus com doses cavalares de hidroxicloroquina seja completamente desnudada pelos senadores. Por que não se investe em remédio? Por que é barato demais? É lucrativo para empresas farmacêuticas ou para laboratórios investir no que é caro? Nós conhecemos isso."
Durante o discurso, Bolsonaro sugeriu aos senadores integrantes da CPI que ouçam profissionais defensores do tratamento precoce: "Essa CPI, eu tenho certeza, parlamentares, senadores, em especial, vai ser excepcional no final da linha. Que vai mostrar sim o que alguns fizeram erradamente com os bilhões entregues pelo governo para os seus respectivos estados e municípios. Junto àqueles que são isentos e apoiam a verdade, senadores, estamos sugerindo que seja convocado ou convidado autoridades que venham falar do tratamento precoce."
Além de não prevenir contra a Covid-19, o chamado tratamento precoce pode ter diversos efeitos colaterais. Muitas vezes, os medicamentos são usados em altas dosagens e sem acompanhamento médico, o que pode causar hemorragias, doenças no fígado e insuficiência renal.
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Também chamado de “kit-covid”, o tratamento com remédios sem eficácia pode ter diversas complicações no organismo, além de atrasar a busca por atendimento após o diagnóstico de Covid-19.
Em entrevista ao Estadão, o médico Valmir Crestani Filho explicou: “Em um dos últimos plantões, atendi um paciente que estava tomando cloroquina e usando oxigênio em casa. Ele chegou azul. Tive de intubar na hora.”
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Além de defender o tratamento precoce, Bolsonaro também insinuou que o vírus foi criado em “laboratório.” Sem mencionar a China, o presidente questionou se a pandemia seria, de fato, uma “guerra química”.
"É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês," disse.
A hipótese já foi descartada pela OMS, conforme noticiado pelo G1. A organização realizou um estudo que indicou ser "extremamente improvável" que o vírus tenha sido criado devido a um incidente em laboratório.
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