Estreia do segundo final de semana de evento em São Luís teve também shows de Lurdez da Luz e LaBaq
Anna Mota, de São Luís Publicado em 01/12/2017, às 16h17 - Atualizado às 16h45
“Sempre vale a pena esperar pelo BR, né?”. A frase foi dita por uma menina em meio ao numeroso público do BR 135, mas condensa o sentimento que tomou o centro histórico de São Luís, no Maranhão, na noite da última quinta, 30. Após uma semana focada em programação instrumental, a data marcou o início da segunda etapa do festival, que traz cinco shows por noite ao palco principal da praça Nauro Machado, até este sábado, 2.
A sequência de grandes apresentações começou às 19h30, com os maranhenses do Bloco Afro Akomabu. Mas a configuração gratuita fez com que horários e line-ups fossem meras formalidades, com atividades ocupando todas as esquinas do arquitetonicamente belo centro da cidade — um patrimônio cultural da humanidade, tombado pela UNESCO desde 1997.
Duas Cidades, do BaianaSystem, entrou na nossa lista de Melhores Discos Nacionais de 2016
A sexta edição teve a descentralização como característica. No Beco dos Catraeiros, separado por uma caminhada de dois minutos da praça, foi montada uma “kombi musical” onde, desde às 19h, bandas locais selecionadas pela curadoria do festival se alternaram apresentando covers variados (desde “Você Ainda Pensa?”, de Johnny Hooker, até “Olhos Coloridos”, de Sandra de Sá) e produções autorais. A outros poucos metros, a Praça do Reggae também atraía centenas de pessoas para um set de DJs que honraram o apelido de “Jamaica do Brasil” da capital com faixas que colocaram todos para dançar — juntos, no maior estilo de reggae lento maranhense.
Na Lauro Machado, a paulista LaBaq subiu ao palco às 20h15 para uma suave apresentação guiada pelos nuances da guitarra elétrica, e das delicadas músicas do disco de estreia dela, voa (2016). O contraste do show veio às 21h, com a forte performance da atriz Áurea Maranhão, inspirada na política “Todo Mundo Nasce Artista”, do debute da paraense Aíla, Trelelê (2012).
Áurea apresenta o festival há quatro anos, e sempre prepara performances exclusivas para o evento, que dependem do line-up e do contexto político de cada edição. “Hoje o tema foi arte contra censura. Nós temos vivenciado muita repressão em relação à arte contemporânea, aos artistas, então foi um pedido para que nos unamos. Afinal, nós somos os construtores desse país, não pedintes, não vagabundos e nem pedófilos. Apenas artistas”, explica.
Lurdez da Luz continuou a predominância e o poder feminino da noite. No palco, a paulistana teve a companhia do músico Craca (que se apresenta novamente no festival nesta sexta, 1, com Dani Nega) e passeou por hits da carreira calcada no hip-hop, que começou com o elogiado disco autointitulado, fruto da colaboração com Jorge Du Peixe, do Nação Zumbi, e do norte-americano Rob Mazurek.
A noite terminou com o esperado show do BaianaSystem, que se mostrou mais uma vez um dos melhores da música contemporânea nacional. Acompanhado do guitarrista Roberto Barreto, do baixista Marcelo Seko, dos percussionistas Ícaro Sá e Japa System e do DJ João Meirelles, Russo Passapusso fez uma performance completamente entregue ao público.
A estreia da banda no Maranhão foi política (repleta de gritos que clamavam “fora, Temer!” e “cala a boca da mídia suja”), forte e completa, não deixando que o público sentisse falta de nenhum sucesso do aclamado Duas Cidades (2016), com “Lucro: Descomprimido” e “Dia de Caça” sendo extremamente celebradas. Uma apresentação que não é reggae, não é rock, não é samba, mas sim uma “terapia”, como diz a música homônima da banda. Uma mistura de energias que representou muito bem a pluralidade celebrada em cada canto do BR 135.
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