Brittany Howard, vocalista do Alabama Shakes - Robb D. Cohen/AP

Brittany Howard, do Alabama Shakes, lembra encontro com Paul McCartney e vida como carteira

Em entrevista à Rolling Stone, vocalista e guitarrista conta como foi dividir o palco com Prince

SIMON VOZICK-LEVINSON Publicado em 06/12/2015, às 12h04

Este ano tem sido muito bom para Brittany Howard. Em abril, ela levou o Alabama Shakes ao topo das paradas norte-americanas com o segundo álbum da banda, Sound & Color. Cinco meses depois, o projeto paralelo dela, Thunderbitch, lançou um disco de estreia que soa como uma festa bagunçada, tarde da noite, em algum bar de Memphis.

Galeria: discos internacionais lançados no primeiro semestre que você deve ouvir.

Brittany ligou de Dublim, na Irlanda, poucas horas antes de subir ao palco com o Alabama Shakes, para esta entrevista. “Esta é nossa última turnê do ano então eu vou sair com tudo”, diz ela. “Definitivamente não pegarei leve ou serei preguiçosa.”

No último verão (do hemisfério norte), você apresentou “Get Back” com Paul McCartney no Lollapalooza e fez uma jam com Prince no Paisley Park. Quem é mais legal?

Ai, meu deus, não posso responder isso! Paul é um cara bem descontraído e muito bom em fazer você esquecer que ele é um beatle. Eu estava nervosa até subir ao palco, e então era minha vez de cantar – “Ahhhhh!” – e então era minha vez de fazer um solo – “Ai, meu deus!” – e então a coisa toda acabou. Foi muito divertido.

E o Prince?

Prince é muito misterioso. Ele te chama, você encontra ele e você não sabe sobre o que conversar – você fica apenas tentando não surtar. Ele estava tipo: “Vou tocar essa música com você. Vou aprendê-la rapidinho”. Em 15 minutos, ele sabia a música inteira. Quando tocamos juntos, não sabíamos quando ele iria sair – mas então ele fez o solo mais épico. A plateia foi ao delírio. É uma pena que ninguém tenha gravado aquilo.

Você tem algum herói do rock vivo que ainda não conheceu?

Sim, David Bowie. Ele é demais. Sinto que provavelmente teríamos boas conversas. Talvez poderíamos tomar um chá ou alguma coisa um dia desses.

O primeiro disco do Alabama Shakes, Boys & Girls, foi taxado como saudosista, mas Sound & Color é bem diferente. Vocês estavam tentando se livrar desse título?

Com Boys & Girls, só queríamos ser uma banda de verdade. Nunca imaginávamos que aquele disco se sairia daquele jeito. Sound & Color foi uma experiência muito diferente e foi meio intimidador. Não tínhamos nada além de tempo e recursos, e poderíamos fazer o que quiséssemos – mas comecei a pensar: “Acho que eu deveria fazer um disco como o primeiro, porque é daquilo que as pessoas gostaram”. Tive muito problema em fazer isso. Então basicamente fiz o que era interessante para mim.

Não há muitas jovens bandas de rock de sucesso atualmente. O rock parece ser uma arte perdida para você?

Nah! Há muitas bandas boas, cara. Eles estão por aí. King Gizzard and the Lizard Wizard, Promised Land Sound. Não me vejo muito mais popular que essas duas bandas, para dizer a verdade.

Sério? Eles não estão tocando em grandes palcos por aí, como vocês estão?

Às vezes é estranho. Considero-nos uma banda de clubes – alguém que você vê em um lugar com capacidade para 500 pessoas. É onde sempre me senti confortável. Então você tem esses teatros lindos e eu me sinto desconectada. Mas todo mundo vem nos ver, então acho que está tudo bem.

Antes de o Alabama Shakes começar, você trabalhava para o serviço de Correios norte-americano. Há algo de que você sinta falta naquele trabalho?

Ai, meu deus, não sinto falta de nada. Tenho muito respeito pelos carteiros – é um trabalho bem difícil. Uma vez entreguei uma encomenda em uma tempestade. Olhei para o céu e vi essas nuvens carregadas e com cara de raivosas. Não há rádio no caminhão de entrega, então eu estava chamando todo mundo, tipo: “O que está acontecendo?” E eles estavam tipo: “Ah, você sabe, um tornado”. Comecei a entregar as encomendas extremamente rápido para poder voltar a algum lugar seguro. Pude ver o tornado se formando. Então um pneu furou. Fui até a casa de um estranho e disse: “Sou sua carteira, posso entrar? Há um tornado!”

O que você acha das redes sociais?

Estou no Instagram. Cara, muitas pessoas me seguem no Twitter, e eu nunca digo nada. Não entendo o conceito – quem se importa com o que estou pensando?

Acho que essas pessoas que seguem você se importam, certo?

Ah, sim. Isso foi meio cruel. Talvez eu poste um pedido de desculpas ou algo.

Li que você curte ciência – de que tipo?

Amo todo tipo de ciência. Sempre tive o sonho de que eu trabalharia para a NASA. Poderia ser uma das engenheiras aeronáuticas que instalam chips e fios de cobre nos equipamentos.

Você recentemente disse que Björk lhe inspira a sentir que “toda faceta de nosso ser criativo pode ser divulgada”. O que quis dizer com aquilo?

Todo aspecto dela – as roupas, a música, imagem – é inovador. Alguém pode olhá-la na quitanda e pensar: “Ah, ela é apenas essa pequena mulher”, mas ela é muito mais do que aquilo. O disco que ela lançou recentemente, Vulnicura, é tão pessoal. Ela nos deu muito. Ela expressou o que é ter família entrando colapso, e fiquei muito emocionada com aquilo. Ela está usando a criatividade dela de uma maneira divina para se ajudar.

Este tipo de abordagem pessoal interessa a você? São estes aspectos seus que você quer colocar na sua música e ainda não colou?

Tenho certeza de que falta algo. Mas tenho que descobrir o que é por conta própria. Porque, por mais que eu seja inspirada pela Björk, eu não posso ser a Björk. Tenho que ser eu mesma.

O Alabama Shakes trará a atual apresentação ao Brasil em 2016, como parte da próximo edição nacional do Lollapalooza. Eles retornarão ao palco do evento depois de tocar no festival em 2013, na época com apenas um álbum na bagagem (Boys & Girls, 2012). Veja o line-up completo do Lollapalooza Brasil 2016 aqui.

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