Vigésimo álbum da carreira do músico faz passeio pela vida pessoal e profissional do artista - e não demonstra sinais de desaceleramento
Redação
Publicado em 23/10/2020, às 07h00Aos 71 anos, Bruce Springsteen não mostra sinais de desaceleramento na carreira. O álbum Letter For You chega ao público nesta sexta-feira, 23, e marca o vigésimo de estúdio do músico. Desde o lançamento de Greetings from Asbury Park, N.J. (1973), disco de estreia, Springsteen mantém o ritmo de um novo trabalho a cada dois ou três anos, em média, e passou as últimas décadas em turnês mundiais de sucesso.
“A maior emoção da minha vida é estar em frente ao microfone com vocês atrás de mim”, confessa Springsteen aos colegas da E Street Band, banda formada pelo músico na década de 1970 e com a qual colaborou em diversos trabalhos da carreira. A conversa é parte do documentário Letter For You, filmado durante as gravações do álbum, em novembro de 2019, e lançado na AppleTV+. O disco anterior, Western Stars (2019), também ganhou um filme com performances e entrevistas.
O álbum é um olhar gentil sobre a própria trajetória, com histórias da juventude e dos sonhos de viver de música e momentos introspectivos de reflexão. “One Minute You’re Here” abre o trabalho com a voz forte e grave de Springsteen e acompanhamento quase acústico, enquanto ele confessa solidão e o desejo de voltar ao lar.
Mesmo com a voz madura após uma carreira de 50 anos, faixas animadas como “Burnin’ Train” e “Letter to You” são poderosas como os hits lançados no auge da carreira de Springsteen. Na sequência, “Janey Needs a Shooter” completa os primeiros de hinos de estádio do novo álbum, prontos para o coro da multidão de fãs após a tão aguardada retomada de shows e turnês de grande porte, paralisados desde março pela pandemia de coronavírus e ainda sem previsão concreta de retorno. O country que dominou o lançamento anterior também se faz presente nessa e em outras músicas, mas não determina a sonoridade do projeto.
“Last Man Standing” resume o sentimento de boas lembranças ao olhar para trás, para os anos 1960 e os tempos de The Castiles, do qual ele é o último homem em pe Clarence Clemons e George Theiss morreram em 2011 e 2018, respectivamente. “Fotos apagadas em um álbum velho / Fotos apagadas que alguém tirou / Quando você era jovem e orgulhoso”, começa a música.
Na leve e animada “The Power of Prayer”, Springsteen demonstra esperança de “atingir o céu” em meio às lembranças, mas o tom mais pessoal e sentimental, com referências à espiritualidade, logo retorna com as baladas poderosas “House of a Thousand Guitars” e “Rainmaker”. O culto íntimo do cantor segue com o órgão de “If I Was a Priest”, uma música antiga que finalmente ganhou um lugar na discografia.
Próximo do fim, o vigor inesgotável do artista retorna com “Ghosts”, com direito a um coro com todos os integrantes da E Street Band em clima de companheirismo e conforto. “Fantasmas correndo pela noite / Nossos espíritos cheios de luz / Preciso de você ao meu lado”, canta em um voto de compromisso com o poder da música. O country retorna com mais força em “Song for Orphans”, antes da solar “I’ll See You In My Dreams” fechar o álbum com a síntese dessa jornada - a paixão pela música, a religiosidade, a sede pelo futuro e o compromisso de seguir - no refrão. “Te verei em meus sonhos quando todos os verões chegarem ao fim / Te verei em meus sonhos, nos encontraremos em outro lugar / Porque a morte não é o fim”.
A carta de Springsteen é direcionada ao público fiel, os amigos e parceiros na viagem da vida, mas também ao poder eterno e reanimador do rock - e chega em boa hora. O álbum mistura explosões de energia com momentos nostálgicos na medida certa, um equilíbrio delicado, bem vindo e ainda mais poderoso em tempos incertos. É olhar para trás, viajar pelo mundo das emoções e memórias, e reunir da certeza de uma vida bem vivida a força para seguir, triunfante, em direção ao futuro.
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