Brujeria - Divulgação

Líder do Brujeria revela nome do novo disco da banda e explica a importância do anonimato

"O Brujeria não começou pensando em fama ou em ser conhecido, é justamente o contrário", afirma Juan Brujo, que faz shows no Brasil nesta semana

Daniel Mangione/ Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 06/03/2014, às 19h05 - Atualizado em 07/03/2014, às 16h11

O Brujeria é conhecido por ser um grupo polêmico, e o líder Juan Brujo (na foto, ao centro) parece se preocupar em manter essa aura. Formada nos Estados Unidos, mas com fortes raízes no México, a banda aborda assuntos controversos nas letras, estampa imagens chocantes nas capas dos discos e busca sempre uma sonoridade brutal. Mas talvez a principal característica deles seja cantar em espanhol, em um cenário no qual a maioria esmagadora dos artistas canta em inglês.

Idolatrado entre os apaixonados pelo grindcore, o Brujeria surgiu em 1989 e tem três álbuns na bagagem (Matando Güeros, de 1993, Raza Odiada, de 1995 e Brujerizmo, de 2000). O jejum de 14 anos sem um trabalho de inéditas deve ser quebrado em breve, como contou Brujo, por e-mail, em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil. Pronto para shows no país (nesta quinta, 6, em Curitiba, e no domingo, 9, em São Paulo), o vocalista revela o nome do próximo disco, relembra as raízes da banda e explica a importância do anonimato.

A capa do primeiro disco da banda, Matando Güeros (1993) é extremamente forte [a foto mostra uma cabeça decaptada]. Qual foi a intenção de usar uma imagem como aquela?

A intenção foi ter uma capa que seguisse o conceito da música e o nome do disco. Quando vi a foto, soube na hora que tinha de ser a capa! Não podia ser outra para um álbum com um som tão brutal e com o nome Matando Güeros [“Matando Brancos”].

Existem boatos sobre um novo álbum há algum tempo. Há algum plano real para este trabalho? Datas?

O disco já está pronto, mas ainda não escolhemos uma gravadora que nos convenha. Há várias de metal e música extrema interessadas, mas não o considero apenas um álbum de metal, dentro dos padrões que existem hoje em dia. Está mais para uma mistura de metal e punk, algo eclético e um pouco mais comercial, mas sei lá. O problema é que a maioria das gravadoras demora muito para disponibilizar o produto. Mesmo se assinasse com uma gravadora hoje, com todo o disco pronto, ele só começaria a ser vendido no final de 2014 ou em 2015. Assim é a indústria.

Esse disco será o primeiro sem Asesino (Dino) na guitarra. Como isso afetou as novas músicas?

Para mim continua tudo igual, se não melhor. Os músicos que tenho hoje são os melhores que pude encontrar para este estilo de música, já sabem como as músicas do Brujeria devem soar, e elas saíram, como sempre, muito fortes e pesadas. Com certeza tudo correu muito mais facilmente sem o Asesino no grupo.

Dino tem a fama de acabar brigando com todos os músicos com quem trabalha. Por quê?

Não sei quanto às outras bandas, mas ele não saiu brigado com a gente. Mas é muito difícil trabalhar com ele por ser muito fechado, e por achar que é um astro do rock. Ele quer que tudo gire ao redor dele, por isso foi o primeiro que tirou a máscara e saiu dizendo que tocava com o Brujeria, usando seu nome verdadeiro em cada revista publicada naquela época. Esse foi um pecado mortal. Ele nunca obedecia às regras do grupo, dizia uma coisa, mas fazia o oposto. Lembre que não havia internet naquela época [os primeiros anos do grupo, que foi formado em 1989], então era muito difícil encontrar informações sobre o Brujeria.

Só que não houve conflito no Brujeria. Dino saiu da banda e nos deixou na mão uma semana antes de tocar no Rock al Parque, na Colômbia, em 2004, por isso tivemos de cancelar o show. Ele não se importava. Saiu para gravar uma faixa para uma coletânea em vez de ir ao Rock al Parque. Essa foi a gota d’água para todos. Só que ele deixou o Brujeria na boa, ninguém brigou para que ficasse. O Hongo assumiu a guitarra e nosso amigo El Cynico entrou como baixista. A banda reformada ficou melhor sem ele, todos ficaram felizes e tudo foi correndo mais fácil.

Há intenção de fazer outra capa polêmica, como a de Matando Güeros? Algum tema novo nas letras?

Muitas bandas mexicanas e muitas páginas na internet já estão cheias dessas coisas. Hoje, fotos como a de Matando Güeros já não causam tanta comoção ou controvérsia como antes. A capa do novo disco, que se chamará Pocho Aztlan, será como um desenho do futuro, uma cidade moderna do futuro. Os temas das letras terão um pouco de todos os estilos do Brujeria. Há coisas com mensagens e códigos secretos escondidos nas letras de uma das faixas, códigos de coisas muito importantes do passado, presente e futuro. Alguns são encontrados facilmente, outros são mais complicados. Demoro para juntar essas coisas, será que alguém vai entender? Se não entender, explicarei tudo, mas só depois que o disco estiver nas lojas.


Você parece preferir não se relacionar com os principais selos. Quem perde: as gravadoras, o Brujeria ou os fãs?

Não entendo quando você diz que não gosto de me relacionar com gravadoras. Todos os discos que lançamos saíram pela Roadrunner, que Dino escolheu. Imagino que você esteja falando do disco Brujerizmo. A história por trás dele é que, antes do lançamento, eu poderia sair ou cancelar o contrato com a Roadrunner, porque encontrei uma cláusula que eles não cumpriram direito. Livres da Roadrunner, pensamos em lançar o Brujerizmo sozinhos, mas a gravadora voltou querendo os direitos do disco. Depois de um ano de negociações duríssimas, vendi o licenciamento para a Roadrunner, mas por um valor sete vezes maior do que ela queria nos pagar com o contrato antigo. Por isso não quis me relacionar com um selo e, no final, a gravadora ganhou a briga, mas a um custo alto.

Você costuma usar um machete. O que esse arma significa para você?

É uma arma simples para o soldado mais pobre. Quando o machete é levantado, tem uma potência muito grande. Um soldado que vai à guerra só com um machete na mão é aquele que não tem medo de nada, já que também tem o poder de mudar as coisas ao seu redor. Eu me sinto assim quando estou no palco com o machete na mão.

E o mascote Coco Loco, o que significa hoje em dia? Ele pode ser considerado o Eddie (Iron Maiden) do Brujeria?

Mais ou menos, mas não é tão elaborado quanto o do Maiden. Infelizmente, a má notícia é que, desta vez, deixaremos o Coco Loco em casa. É que temos problemas para tentar levar o senhor Coco sem visto.

O Brujeria cobre vários temas em suas letras: drogas, satanismo, sexo, política. Qual é a mensagem principal da banda?

A mensagem é a de cantar sobre coisas que acontecem onde vivemos, isso tem muito a ver com os temas de nossas músicas. É sobre o que está acontecendo por ali e à nossa volta, ainda mais hoje do que antes.

Também há outros temas que testemunham o que aconteceria no futuro. Por exemplo, Matando Güeros saiu em 1993 com temas fortes. Só mais de dez anos depois é que a guerra contra as drogas ficou bem intensa e muitas cabeças e corpos decapitados foram encontrados por todas as partes do México.

O disco Raza Odiada, gravado em 1994, começa com uma faixa falando do político Pete Wilson, então governador da Califórnia, que odiava secretamente os mexicanos, ainda mais os que entravam nos Estados Unidos ilegalmente. Por acaso um dia o conheci, em uma festa do Grammy, em 1993. Caminhando na saída do evento, topamos um com o outro. Quando ele me viu, o único mexicano em uma festa luxuosa, parou e voltou rapidamente para cobrir a esposa, como se a estivesse protegendo de mim! Isso me surpreendeu. Eu sabia que isso aconteceu porque sou mexicano, mas não dei importância nesse dia, porque coisas assim sempre acontecem comigo.

Depois de alguns meses, vi que Wilson estava aprovando algumas leis meio racistas sob o pretexto de economizar dinheiro para o estado. Digo “racistas” porque elas só afetaram os latinos. Foi aí que me dei conta do tipo de homem que ele era. Olhei diretamente em seus olhos quando cobriu a esposa no Grammy. Já tinha visto aquele tipo de olhar e não tive dúvida. Pensei: “Se ele se candidatar a presidente um dia, acabará com toda raça latina nos Estados Unidos, legal ou ilegal!” Fiz o que tinha de fazer, e por isso escrevi a faixa “Raza Odiada”. Um ano depois de compô-la, Wilson anunciou que se candidataria a presidente. Meu pesadelo acabou virando uma profecia. Se não fosse pelos votos dos latinos que se uniram contra ele, poderíamos ter tido um presidente que simplesmente odiava os mexicanos. Nossa música ajudou a soar o alarme, dando o sinal para os latinos de que esse homem nos causaria problemas graves no futuro se fosse eleito presidente. Ele nunca chegou a nada, mas foi por pouco.

Agora, no disco novo, Pocho Aztlan, acho que haverá temas que podem acabar se tornando profecias do futuro, como já aconteceu, quem sabe?

Li que, em geral, você escolhe os piores lugares para fazer shows com o Brujeria. É verdade?

É um pouco difícil responder isso, porque depende muito da pessoa que pensa assim. Essa opinião com certeza saiu de uma pessoa mais velha, que está há anos por fora da cena musical e não sai para ver shows. Ela só vai aonde possa levar a família e onde haja mesas para colocar bebidas. Esses lugares não aguentam música pesada, porque se os fãs pegam fogo, começam a atirar garrafas. O que gosto é de tocar em lugares que aguentam muita energia e movimento, onde nada quebra quando o caos começa, porque são desses lugares que saem as apresentações mais incríveis. Onde os fãs podem ficar na frente do palco sem que lhe roubem o lugar, onde podem subir ao palco e se jogar no meio da plateia, onde acontece algo muito íntimo.

Os shows de metal devem ser assim. Era do que eu gostava na época em que era jovem e bonito e ia a shows de punk e metal, como o Black Flag no Stardust Ballroom, em Hollywood, em 1981. Vi até o Circle Jerks no salão de uma escola católica em 1982. Meus preferidos: Fear Vex, com cerveja a 50 centavos para todas as idades. Depois, o Carcass em 1991 em um bar velho. Fear Factory em 1993 sobre seis mesas portáteis em um beco perto do centro de Los Angeles, onde quebraram a janela de um prédio para tentar usar a eletricidade para o equipamento. Napalm Death tocando em uma igreja antiga em Nova York em 1994. Shows tremendos e inesquecíveis para quem esteve lá! Esses são do tipo que mudam sua vida! São minhas raízes, é o que mais quero quando se trata dos shows do Brujeria. Nada me deixa mais feliz do que os shows dos quais os fãs saem dizendo que foi o mais louco, o melhor da vida deles. São os que acontecem apenas nos “piores lugares”, de onde ninguém espera algo bom.

Para o Brujeria, os melhores lugares podem ser os “piores” para gente mais velha, ou que não sente nada pela música e está mais preocupada com a possibilidade de alguém jogar cerveja sobre sua família.


Para você, qual é a característica principal do público do Brujeria?

É simplesmente o público que vive sua vida com o lema “me dê caos ou me dê a morte!”, ou algo assim, como a vida de um pirata [risos].

O que você acha da música, em geral, hoje em dia? Quais novos artistas tem escutado?

É muito mais do mesmo. Não gosto muito do novo metal, mas sempre gosto do que meus amigos músicos fazem. Até estou percebendo que tenho de ser amigo dos membros da banda primeiro para poder gostar da música. Não sei como fiquei tão delicado, mas estou assim. Minha banda preferida atualmente é uma de San Antonio, Texas, que se chama Piñata Protest. É punk com música do norte do México, meio em inglês e meio em espanhol, tudo misturado e totalmente divertido.

Uma das características do Brujeria é manter o anonimato dos integrantes, que nunca mostram o rosto. Por quê? Qual é a maior vantagem de manter sua identidade "secreta"?

A vantagem é simples e direta: ninguém conhece a pessoa por trás da máscara, sabe? Há vários motivos, mas se trata mais de dizer coisas fortes sem ver a si mesmo como alguém que só busca atenção e fama – como, digamos, a atenção que deram a Ice-T com a música “Cop Killer”, muito tempo atrás.

Para explicar a ideia sobre a identidade secreta, vou contar a história sobre como o Brujeria começou. Aqui está a verdade: há vários anos, antes de começarmos a banda, a cena de metal no México e na América Latina não era forte, faltavam colhões. O que se escutava em espanhol era lento e fraco, não emocionava, enquanto os outros países estavam fazendo um metal muito rápido e forte, com vocais monstruosos e sons malditos. Os grupos latinos de metal naqueles dias eram como ovelhas perdidas em um mundo de lobos raivosos, onde os lobos devoravam as ovelhas e ninguém as ajudava.

Em 1989, fomos a um show do Terrorizer, no pátio atrás de uma casa. Não os deixaram tocar em clubes ou lugares bons, porque a intensidade era alta e os cabeludos loucos ficavam muito descontrolados, então os clubes tinham medo de realizar esse tipo de show. Chegando ao lugar do show, percebi que havia a pura raça mexicana. Havia muitos loucos e metaleiros, e também vi que ninguém falava e nem sabia inglês. Achei estranho, porque estávamos em Los Angeles, Califórnia.

Quando entrou o Terrorizer, que são três cabeludos mexicanos-americanos, desde a primeira nota o pessoal entrou em um pit fatal. Vendo que os fãs eram totalmente latinos, mas que a música estava em inglês, apesar de serem mexicanos tocando, pensei: “Por que não há bandas tocando metal extremo em espanhol?” A resposta era fácil: porque não havia gravadoras que contratavam grupos que não cantavam em inglês, porque não vendiam. Não existiam bandas fortes de metal em espanhol.

Foi aí que falei para meus colegas que tinha de montar uma banda de metal brutal em espanhol, para matar a fome desses fãs. Queríamos fazer tudo sozinhos, não se tratava de ir atrás de gravadoras nem de vender, só de fazer algo muito forte. Todos concordamos.

Naquela mesma hora, pensei no nome Brujeria. Tinha de ser totalmente em espanhol, com letras extremas e música brutal. E para mandar ver nas letras mais extremas, tínhamos de cobrir o rosto e manter o anonimato.

Em pouco tempo, meu plano se realizou quase perfeitamente. Pegou no México e em grande parte dos Estados Unidos. Os discos se vendiam sozinhos e foram pirateados por todo lado, infectando a América Latina. Além disso, os skatistas e snowboarders dos Estados Unidos gostaram muito. Como aconteceu? Não sei! [risos]

Mas logo chegou o dia em que um integrante [Dino] saiu na imprensa usando seu nome verdadeiro, anunciando que fazia parte do Brujeria, buscando atenção só para ele, rompendo com o pacto mágico. Isso prejudicou um pouco, mas não matou [a ideia], e continua mágico, e com mais força do que antes. Por esse pacto, 25 anos depois, minha identidade continua secreta.

Como você vê a superexposição da nova geração nas redes sociais?

É uma coisa mais para os jovens se comunicarem ou para gente mais velha que busca atenção, gente plantada em casa com muito tempo nas mãos. Você encontra muitas coisas falsas, mas, ao mesmo tempo, adoro ver impostores no Facebook que têm muitos seguidores apaixonados. Por exemplo, quando busco o nome “Juan Brujo” no Facebook, há muitos – mas eu não tenho um Facebook como Juan Brujo. Algumas pessoas montam páginas do Juan Brujo, que acho muito divertidas e bem feitas. Então, deixo para elas o trabalho de falar sobre mim. Todos ficam felizes! Obrigado! [risos] Um dia, um promotor da América do Sul me contatou, pedindo para montar uma turnê. Falou: “Minha esposa falou com você via Facebook por muitos meses”. Quando respondi que não tinha Facebook como Juan Brujo, ele ficou calado... e a ideia da turnê foi por água abaixo. Então, você não deve acreditar em tudo o que vê nas redes.

Há alguma desvantagem no anonimato?

Não vejo nenhuma. Nadinha. Não estou buscando a fama dessa forma. O Brujeria não começou pensando em fama ou em ser conhecido, é justamente o contrário.

Além de pedir uma mensagem aos fãs brasileiros, também quero que você mande uma mensagem aos “güeros”.

Eu lhes dou minha benção. Não sei se gostam ou não, mas logo nos veremos, e espero encontrar muitos fãs. Embora não acreditem em bruxos, respondo que isso é... Brujeria!

Brujeria em Curitiba

6 de março, às 21h30

Local: Music Hall - R. Engenheiros Rebouças, 1645

Ingressos: R$ 100 no primeiro lote (há meia entrada)

Informações: (41) 3315-0808

Brujeria em Brasília

7 de março

Local: Cedec 912 Sul

Informações: (61) 8605 6617

Brujeria em Palmas

8 de março, às 22h

Local: Tendencies Rock - 104 Sul, Avenida LO3 - Lote 73

Brujeria em São Paulo

9 de março, abertura às 18h

Local: Clash Club - R. Barra Funda, 969

Ingressos: entre R$ 80 e R$ 240 (há meia entrada)

Informações: (11) 3661 1500

Brujeria no Rio de Janeiro

11 de março, às 19h

Local: Teatro Odisseia - Avenida Mem de Sá, 66 - Centro

Ingressos: R$ 70

Informações: ticketbrasil.com.br

Brujeria em Manaus

13 de março, às 19h

Local: Arena Aparecida

Ingressos: entre R$ 80 e R$ 100

Informações: (92) 9142 7541 e (92) 9270 1514

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