O cantor de R&B lançou o disco em 5 de junho de 2020 e conversou com a Rolling Stone Brasil sobre as reflexões neste momento
Camilla Millan
Publicado em 22/06/2020, às 07h00“Essa é a grande beleza da composição musical: dizer eu te amo de uma maneira que ninguém falou antes”, disse Bruno Major à Rolling Stone Brasil sobre as letras honestas do blues de To Let a Good Thing Die, disco lançado por ele em 5 de junho de 2020.
Em meio à pandemia de coronavírus, movimento Black Lives Matter e protestos ao redor do mundo, o britânico de 32 anos decidiu lançar o segundo - e talvez mais sincero - álbum da carreira, mas não antes de um grande momento de reflexão.
“Foi complicado lançar este álbum... Não há dúvidas que o Black Lives Matter é um movimento social enormemente importante, algo histórico que estamos vivendo. Foi uma decisão difícil. Trabalhei no disco durante dois anos. Quatro dias antes, tudo aconteceu e eu pensei ‘não quero falar sobre o meu disco agora, quem liga? Nem eu ligo porque esse movimento é bem mais importante’, mas aí não quis adiar”, explicou Major.
Segundo o artista, o disco estreou da forma que foi criado - sem pressa: “Não quis me afastar disso tudo. Minha música é, esperançosamente, muito atemporal. As pessoas a acharão quando precisarem e elas vão apreciá-la quando quiserem. Então tudo bem”.
Em depoimento oficial, prestou solidariedade aos recentes protestos e mobilizações antirracistas, além de explicar aos fãs que o disco realmente veio para confortá-los diante do momento atual: “Faço isso em solidariedade à comunidade negra e em profunda reverência à cultura negra. Sem ela, minha música não existiria. O poder de um artista é unir as pessoas, a quem e onde quer que elas estejam. Espero que em To Let A Good Thing Die, você encontre 32 minutos de conforto. Estou muito orgulhoso desse álbum”.
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Com letras românticas e, ao mesmo tempo, profundamente pautadas em uma reflexão interior, Bruno Major trouxe para o disco as angústias de um mundo no qual somos atacados enquanto tentamos sobreviver - um mundo quebrado por nós mesmos.
Questionado sobre a canção do disco que representaria o próprio estado de espírito, Bruno Major respondeu: “Provavelmente ‘I'll Sleep When I’m Older’. Ela é exatamente como estou me sentindo agora. É sobre sentir que não tenho tempo suficiente porque estou ocupado demais tirando o lixo, pagando contas, trabalhando, comendo, tomando banho, dormindo… Todas essas coisas estúpidas que fazemos para sobreviver”.
“Não sobra muito tempo para pularmos de um avião, nos apaixonarmos ou vermos o nascer do sol e como ele é deslumbrante. Acredito que essa música sou eu falando ‘quero fazer muitas coisas, tudo o que quiser. Quero experimentar tudo’”, continuou o cantor.
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“I'll Sleep When I’m Older” não é uma música que escapa do tom do disco. To Let a Good Thing Die é um trabalho repleto de reflexões existenciais que partem do cotidiano. A música-título é quase como um conselho para si mesmo: “Não adianta rezar pelos seus dias de juventude se estiver ficando sem tempo/Às vezes, é hora de deixar uma coisa boa morrer”.
Nesta reflexão, também se discute sobre o amor - da forma mais simples possível. É o exemplo da canção "Nothing": “Vamos jogar Nintendo embora eu sempre perca/ Porque você assiste TV enquanto estou assistindo você”.
Mesmo em meio à pandemia e protestos, parece que os fãs entenderam a mensagem de acolhimento do álbum. “Tive muitas respostas de pessoas falando ‘obrigada por lançar o disco no momento em que você o fez porque está me ajudando com minha ansiedade durante o lockdown”, disse Bruno Major.
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Segundo o músico, foi uma surpresa receber mensagens como essa após o lançamento: “Não esperava essa reação, mas amei. Antes de me tornar artista, pensei em ser musicoterapeuta, usando a música para ajudar as pessoas. Então é muito bom receber mensagens como ‘eu coloco meu bebê para dormir com a sua música’. É a coisa mais bonita do mundo”.
Bruno Major lançou o primeiro disco da carreira, A Song For Every Moon, em agosto de 2017. O álbum teve mais de 400 milhões de streams até o momento, com o destaque para o single “Easily”, que ganhou certificado de ouro na América do Norte.
Com o sucesso do primeiro disco, o cantor estreou em festivais, abriu a turnê europeia de Sam Smith e foi convidado para se apresentar no Late Late Show de James Corden - e após tantas experiências, Bruno Major diz estar mais preparado agora, com o segundo disco.
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“Me sinto mais confiante. Certamente fui um jovem inseguro e preocupado e acredito que a cada ano que envelheço e aprendo mais sobre mim, entendo um pouco mais sobre o que quero fazer… E espero que isso reflita na minha música. A Song For Every Moon(2017) é um início do estilo com o qual minha carreira iria se afirmar, e espero que To Let A Good Thing Die seja uma evolução, uma continuação do estilo e também algo novo”, explicou Major sobre o novo disco.
Certamente, o blues de A Song For Every Moon (2017) não é o mesmo de To Let A Good Thing Die. O R&B predominante do novo disco é recheado de harmonias e acordes que diferenciam uma música da outra com um toque íntimo - dando uma nova sensação ao mais comum sentimento.
Repleto de influências musicais, Major acredita que é produto de grandes inspirações que leva para a carreira, como o cantor D'Angelo e o rapper J. Cole: “Há muitas influências que poderia falar, mas quando você cresce e aprende a tocar, todas as suas inspirações são otimizadas e isso se torna uma tela - e você escolhe como pintá-la”.
Uma das inspirações de Major é Finneas O'Connell. O cantor e compositor é irmão de Billie Eilish, e além de ajudá-la na composição das músicas, fez parte do novo disco de Major, em “The Most Beautiful Thing”.
“Ele é um ser humano excepcional, com o cérebro do tamanho da lua e cheio de talento. Não é difícil trabalhar com ele, nós estamos naturalmente juntos, somos fãs da música do outro e grandes amigos. Sentamos para conversar por um tempo e acabamos compondo uma música juntos. Espero que ainda façamos mais músicas”, disse Major sobre a parceria com o amigo.
Rever as amizades é o principal objetivo do músico após o lockdown: “Após o final da pandemia vou dar festas. Sinto falta dos meus amigos e de beber com eles, então farei muito isso. É louco como tem muita energia presa. Acho que todos estão, literalmente trancados, e as pessoas estão ficando loucas. Quando acabar, espero que isso aconteça”.
"Não sei se será a mesma coisa ou se acharemos uma cura. Não acho que em algum momento as pessoas estarão 'ok, vou assistir a shows novamente', e acho que se acontecer será diferente. Espero que consigamos dar shows e que pessoas queiram aparecer, mas não tenho certeza", concluiu o artista.
Em meio a dúvidas sobre como o mundo estará após a pandemia e sobre o futuro de shows e público, Bruno Major entende que o momento não é apenas de impedimentos: “O que sei é ninguém pode me impedir de escrever músicas e botar para fora. A internet tem sido uma salvação durante este período”.
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