Caetano falou sobre sexo e rock'n'roll à Rolling Stone; a matéria foi publicada na edição 11 (agosto 07) da revista - Daniel Klajmic

Caetano avalia a música brasileira atual

Para ele, "não há nada de velho" em referências antigas

Por Marcus Preto Publicado em 29/08/2007, às 12h14 - Atualizado em 11/09/2007, às 16h50

"O rock'n'roll era muito mais mal visto criticamente nos anos cinqüenta do que o axé music é hoje", Caetano Veloso provoca, se referindo ao hype desproporcional que a imprensa musical brasileira costuma dedicar ao gênero de língua inglesa.

"Outro dia, li um cara dizendo que todas as cantoras brasileiras da nova geração imitam a Elis Regina. Não é verdade. Se Mariana Aydar é mais Elis, Roberta Sá é mais Marisa Monte, que é mais Gal - como Vanessa da Mata. E não há Elis em Marisa. Há Baby Consuelo, mas não há Elis. Mas, mesmo que fosse, mesmo que todas imitassem Elis, isso seria justo. E não há nada de velho nisso. Por que o cantor do Arcade Fire pode imitar o David Byrne dos Talking Heads e ninguém diz que isso é velho?", ele pergunta, provocativo.

Leia um trecho da matéria especial publicada na edição 11 da revista (agosto 07)

Seu tom de voz vai subindo gradativamente até se tornar um discurso inflamado: "Isso é o seguinte: horror em admitir que o Brasil existe, e que há uma organicidade histórica brasileira que se dá, e que não pode ser submetida aos automatismos da mente colonizada. Faz parte de não se ter uma mente colonizada não temer a presença, inclusive predominante, da cultura colonizadora internacional dominante, que é norte-americana. Mas isso não significa que você tem que se suicidar todos os dias e dizer que a sua vida não vale, que só vale de verdade a vida dos americanos. Porque o conteúdo por trás de tudo isso é este. Isso eu não admito. A minha vida individual vale mais para mim do que tudo neste mundo. Então, não dá. Para mim é guerra! Eu não engulo isso, jamais engolirei! Acho que é uma coisa estreita, pobre, fraca, covarde e pequena".

Saindo da esfera das cantoras e partindo para os trabalhos coletivos, Caetano chega ao seu quintal, onde plantam novos frutos os meninos da Orquestra Imperial e do +2, dois projetos dos quais seu filho Moreno Veloso faz parte. "Esses eu adoro, estão sempre muito próximos a mim e sempre colaboram com meu trabalho", diz. "Mas há muita gente. Você ouve o garoto do Cidadão Instigado e vê que ele pensa coisas interessantes de um outro ponto de vista. Tem uma ironia interessante, e um comprometimento com o som muito responsável também".

Por fim, o cantor faz um balanço da internacionalização instantânea da música produzida no Brasil graças aos suportes criados pela internet. "É uma mudança de perspectiva. Um país onde acontece um fenômeno como o Bonde do Rolê na velocidade e do jeito que aconteceu é um outro país. [O Bonde] é a recuperação do fenômeno funk carioca em uma maneira de afirmar uma força que se apresentou no cenário da criação espontânea de música no Brasil, e se torna uma referência normal no âmbito internacional. E num espaço muito curto de tempo. Isso para mim é um sintoma de que está havendo mudança de perspectiva. Como o Cansei de Ser Sexy, que ganhou o mundo de uma maneira imediata", diz.

"Tudo isso acompanhando esse período em que se pensa que não haverá mais álbum e que as gravadoras estão falindo por causa da produtibilidade digital e da distribuição virtual. Você tanto pode comprar um CD pirata baratíssimo como baixar qualquer coisa de graça na Internet. Os pobres compram CDs baratos e os ricos baixam de graça", arremata.

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