<b>OPINATIVO</b><br> Ainda muito politizado, Caetano tece críticas e elogios ao governo - Fernando Yang/Divulgação

Caetano Veloso tenta navegar (sem celular) em um mundo com menos CDs e mais panelaços

"É bacana que aconteça, que a sociedade faça reivindicações", diz o músico sobre as manifestações populares pelo país

José Flávio Júnior Publicado em 29/06/2015, às 16h22 - Atualizado às 16h52

Antes de partir para a Europa e iniciar uma aguardada turnê ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso brilhou na 17ª edição do festival goiano Bananada, realizado em meados de maio. O repertório mais roqueiro dos três últimos discos do artista caiu como uma luva na programação alternativa do evento. Mesmo com uma fila de fãs aguardando por “abraçaços”, Caetano separou alguns minutos para falar sobre o festival, panelaços e a dura vida de quem se acostumou aos CDs e hoje tenta aprender novas formas de consumir música.

Bananada 2015: Criolo canta para 10 mil pessoas e festival se fortalece como o maior evento independente do país.

O que achou da participação no Bananada?

Gosto muito de fazer esse tipo de show. Quando recebi o recado sobre tocar aqui, fiz campanha para que aceitássemos, pois adorei a ideia do festival. O público foi o máximo.

Bananada 2015: Criolo canta para 10 mil pessoas e festival se fortalece como o maior evento independente do país.

Quem gosta do seu show com a Banda Cê pode encarar este momento como uma despedida?

Quando a gente encerrou a trilogia , Zii e Zie e Abraçaço, isso ficou no ar. Mas ainda não me vejo tocando sem Pedro [], Marcelo [Callado] e Ricardo [Dias]. Se a gente fizer mais um trabalho, acredito que será diferente do que fizemos nesses três discos.

Bananada 2015: Caetano Veloso invade a madrugada e encanta plateia alternativa do festival com seu Abraçaço.

Qual foi o último disco que te chamou atenção?

Olha, estou achando mais difícil ouvir discos hoje em dia. Antigamente, eu ia para a Modern Sound [loja carioca que fechou em 2010] e comprava os CDs. Hoje, não sei como é. Zeca, meu filho, é quem me ajuda a botar na internet para ouvir alguma coisa. Ontem, ouvi o disco da Antonia Morais, que por acaso é filha dele [aponta para o cantor Orlando Morais, que estava no camarim]. Ela fez umas canções sozinha, com acompanhamento eletrônico, cantando em inglês, tudo muito bem-feito.

Bananada 2015: ritmos periféricos dão a tônica da segunda noite do festival.

Uma crise como a que o Brasil vive inspira a compor?

Cara, só escrevi uma canção recentemente, para uma menina de que gosto muito, a Ana Cláudia Lomelino, da banda Tono. Ela vai lançar disco solo e me pediu uma música. Eu fiz. É bonita. Uma canção de desamor.

Você participa de panelaços?

Não. Não é o tipo de manifestação que me atrai. Participei de passeatas nos anos 1960. Mas panelaço, na janela... É bacana que aconteça, que a sociedade faça reivindicações. A situação política brasileira está esquisita. Depois das últimas eleições, ficou uma sensação de fim do mundo, de que a crise econômica causada pelo primeiro governo [da presidente] Dilma [Rousseff] é apocalíptica. Acho que há certo exagero, embora, de fato, não tenha sido bom. Mas eu votei em Dilma, no fim das contas. Minha candidata era a Marina. Eu sou muito maluco politicamente. O que está me alegrando imensamente no governo Dilma é o fato de ela ter chamado o [filósofo e professor] Mangabeira Unger para ministro [da Secretaria de Assuntos Estratégicos].

Bem Gil, guitarrista da banda Tono, comenta show com participação de Gilberto e Ney Matogrosso: "Estamos entre amigos".

Mas muitos eleitores da Marina ficaram com raiva do PT por causa das coisas que foram ditas sobre ela ao longo da campanha.

Eu tive raiva! Declarei voto em Dilma no segundo turno, mas disse que não faria campanha porque odiei o que o PT fez com Marina. Se não ficou claro à época, repito aqui agora. A tal desconstrução foi horrível. Eu sou amigo do Patinhas. Esse era o nome do marqueteiro João Santana quando ele era compositor em Salvador. Mas ele partiu para destruir. Tive e tenho muita raiva do que fizeram.

Você segue não tendo celular. Isso não vai mudar?

Não sei. Pode mudar. Eu não gostava muito de telefone. Achava que uma das coisas boas de sair de casa era não ter o telefone tocando. Levar o telefone para a rua eu achei uma ideia sinistra. Quando meus filhos Tom e Zeca eram menores, pensava que devia ter um celular, pois muitas vezes ia buscá-los e não sabia exatamente onde estavam. Mas atravessei essa fase. O menor já tem 18 anos. Então, acho que não será agora que vou comprar um celular.

Lendário produtor André Midani se reúne com ícones da MPB em série televisiva.

Você ficou com os olhos marejados quando Gilberto Gil cantou “Não Tenho Medo da Morte” em um dos capítulos da série André Midani – do Vinil ao Download, do canal pago GNT...

Gosto muito dessa canção. Tem aquele trecho “Não tenho medo da morte/ Mas medo de morrer, sim/ A morte é depois de mim/ Mas quem vai morrer sou eu”. Isso é maravilhoso! Quando Gil canta esse pedaço, meus olhos se enchem d’água. Gil e eu temos 72 anos e o Midani 82. Gil estava ali, cantando para o Midani, então estava mais denso ainda. Tem a questão das idades, mas também tem a beleza da música. Certas canções ficam ressoando.

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