Os músicos Camaron Picton e Morgan Simpson falaram sobre o processo espontâneo de experimentar novos estilos no segundo disco da carreira, Cavalcade
Julia Harumi Morita Publicado em 28/05/2021, às 08h23 - Atualizado às 08h26
O rock está vivíssimo e o black midi é a prova disso. Com composições labirínticas, guitarras e vocais irascíveis, a banda inglesa rapidamente ganhou repercussão mundial e foi indicada ao Mercury Music Prize com o disco de estreia Schlagenheim (2019). Agora, o grupo compartilha o segundo álbum da carreira, formado por músicas mais digestivas e ainda mais imprevisíveis.
Na última quarta, 26, o black midi apresentou Cavalcade (2021) em uma listening party no Youtube antes de disponibilizar o disco completo nas plataformas de streaming pela Rough Trade Records.
Ao longo de oito músicas, Geordie Greep (voz e guitarra), Cameron Picton (voz, baixo e sintetizadores) e Morgan Simpson (bateria) - o guitarrista Matt Kwasniewski-Kelvin se afastou das atividades da banda por causa da saúde mental - nos acertam novamente com turbulências sonoras nos singles anteriormente divulgados "John L," "Chondromalacia Patella" e "Slow," os quais se afastam do post-punk e se aproximam do jazz fusion.
As outras cinco canções inéditas nos pegam de surpresa com baladas serenas sobre estrelas de cabarés, melodias etéreas, letras menos ambíguas, vocais maciços e aveludados, entre outros elementos.
Durante uma chamada de vídeo no Zoom, Picton e Simpson contaram para a Rolling Stone Brasil como Cavalcade surgiu de um processo espontâneo de distanciamento do estilo musical do primeiro disco.
"Foi uma progressão natural para novos materiais nascerem e foi uma coisa bastante consciente, porque essencialmente nos cansamos de tocar um tipo de música muito específico. Quero dizer, sabíamos que éramos mais do que capazes de criar diferentes tipos de música," disse Simpson.
Apesar dos artistas caminharem na mesma direção há algum tempo, o baterista compreende que, sob a perspectiva dos fãs, músicas como "Marlene Dietrich" podem parecer "uma grande surpresa."
Calvacade é um disco muito mais fácil de escutar em comparação com Schlagenheim, porém carrega mais cores, texturas e tons, segundo Simpson. "Eu sempre uso a analogia de que Schlagenheim era bastante claustrofóbico [...] em Cavalcade nós realmente tentamos explorar tudo musicalmente."
O processo de criação do segundo disco da banda começou após o encerramento da turnê norte-americana em 2019. "Desenvolvemos um monte de outras ideias durante o verão. Nós sentamos e [pensamos]: 'Ok, vamos começar a fazer alguma coisa nova apropriadamente, com um propósito,'" contou Picton.
O baixista continuou: "Elaboramos a maioria das músicas na turnê e, então, trouxemos de volta. Geordie escreveu a música 'Ascending Forth,' nós fizemos 'Slow' pouco antes da pandemia e, ao longo dela, fizemos 'Marlene [Dietrich],' 'Diamond Stuff' e 'Hogwash and Balderdash'. Em seguida, durante a pandemia, todos sentamos e escrevemos 'Dethroned' juntos."
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Para Picton, as músicas nunca estão completamente concluídas, mas atingem um ponto no qual "estão prontas para serem gravadas." Este ponto, no entanto, é guiado por um "fator desconhecido," algo "difícil de quantificar," como uma sensação boa de tocar algo ao lado dos colegas de banda.
"A coisa mais empolgante [em relação às] canções do Schlagenheim foi quando pudemos mudá-las e alcançar diferentes versões delas. Então, sim, é uma coisa emocionante nunca estar totalmente satisfeito... nunca estar totalmente saciado, tipo, ter uma versão definitiva da faixa."
O músico também não possui uma música favorita no disco e não acredita que uma canção tenha mais destaque em comparação com as outras. É como se todas as faixas estivessem ligadas dentro de um caleidoscópio. Simpson concordou com o parceiro, mas disse que, se precisasse selecionar uma única música, escolheria "Slow", porque a banda "realmente viu o lado sutil das coisas e também o lado intenso e poderoso" dela.
Ao divulgarem o single "Chondromalacia Patella" nas redes sociais, o black midi também anunciou um concurso chamado Golden Ticket, no qual dois bilhetes de ouro foram colocados em discos aleatórios da pré-venda e enviados para os Estados Unidos e o Reino Unido.
Os vencedores podem selecionar uma das três opções de prêmios: escolher um evento para a banda fazer uma performance, passar um dia no estúdio com os integrantes ou estar na lista de convidados de qualquer show, em qualquer cidade, durante os próximos 10 anos.
"Coisas divertidas como fazer o Golden Ticket são divertidas e vão beneficiar alguém para ganhar o ingresso. Seria bobo… para além de bobo não reconhecer que [os fãs] são a razão de estarmos aqui," disse Simpson.
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Picton completou o colega: "Antes da banda ou antes de sermos músicos, éramos fãs de música, assim como muitos de nossos fãs [...] achamos que é um jeito melhor de promover um disco ou qualquer outra coisa. Apenas coisas divertidas para se fazer. Existem chances de tocarmos no casamento de nossos fãs ou no casamento falso dos fãs ou qualquer coisa."
Em fevereiro de 2020, o selo paulistano Balaclava Records anunciou dois shows do black midi em São Paulo, porém, as apresentações foram canceladas devido à pandemia de Covid-19.
Ao serem questionados sobre o interesse de visitar o Brasil, Simpson e Picton lamentaram a atual situação de pandemia e mostraram animação para se apresentarem no país, além de revelarem quais artistas brasileiros conhecem.
Após cantar um trecho irreconhecível de uma música nacional, o baixista citou o clássico "Desafinado", de Tom Jobim e Newton Mendonça, e disse: "Com sorte, iremos ao Brasil. Deveríamos ter ido antes da pandemia."
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Por fim, o baterista, fã de Milton Nascimento e Azymuth, confessou: "Eu realmente espero [visitar o Brasil] muito, muito, muito em breve. Quer dizer, deveríamos estar aí por volta dessa época do ano passado antes da m*rda acontecer. Mas esperamos que [possamos visitar]. Nós amamos os fãs do Brasil, seria incrível."
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