Cantora marca a chegada de Céu Ao Vivo com shows neste sábado (21) e domingo (22), no Sesc Pinheiros, em São Paulo
Luciana Rabassallo Publicado em 20/02/2015, às 16h56 - Atualizado às 19h53
Maria do Céu Whitaker Poças é a artista mais interessante e promissora que surgiu no Brasil durante a última década. Misturando gêneros como jazz, reggae, afrobeat, o samba e o rock, Céu lançou três discos de estúdio CéU (2005), Vagarosa (2009) e Caravana Sereia Bloom (2010). O mais recente, uma espécie de road-álbum, garantiu a ela o Grammy Latino de Melhor Pop Contemporâneo Brasileiro e, agora, serve de base para o primeiro DVD da carreira da cantora paulista.
Para marcar a chegada de Céu Ao Vivo às lojas, a artista faz duas apresentações no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, nos dias 21 (sábado) e 22 de fevereiro (domingo). A apresentação levará ao palco os maiores sucessos de Céu, como “Malemolência” e “Cangote”, além de versão de hits de grandes nomes da música mundial - “O Palhaço”, de Nelson Cavaquinho, “Mil e Uma Noites de Amor”, de Pepeu Gomes, “Piel Canela”, de Bobby Capo, e “Concrete Jungle”, de Bob Marley.
Caravana Sereia Bloom: faixa a faixa
A cover do Rei do reggae, que faz parte do disco de estreia dela, rendeu, inclusive, uma turnê de extremo sucesso pelo Brasil. Como parte do projeto 73 Rotações, Céu caiu na estrada reproduzindo na integra Catch a Fire, disco antológico de Bob Marley e The Wailers lançado em 1973. Em entrevista por telefone ao site da Rolling Stone Brasil, a multifacetada artista avalia os dez anos de carreira, fala sobre o registro ao vivo e explica o explica o êxito do tributo ao músico jamaicano.
Caravana Sereia Bloom ganhou quatro estrelas na avaliação da Rolling Stone Brasil. Leia a resenha.
Olá Céu, tudo bem? Pode falar agora?
Claro! Vamos nessa.
Vamos falar um pouco sobre o DVD Céu Ao Vivo. Como surgiu a ideia do projeto?
Rolou naturalmente. A gravadora me disponibilizou um recurso para eu poder gravar um DVD da maneira que eu quisesse. É um momento muito feliz da minha carreira. Esse projeto é basicamente a junção de três coisas: dez anos de estrada, minha discografia e o contrata com o selo Slap, da Som Livre.
Em uma década de estrada, este é o seu primeiro registro ao vivo. Como foi o planejamento artístico dele?
Não foi exatamente planejado. Apenas acabou rolando. Eu acho que foi no momento correto. Um momento em que eu tenho mais experiência.
Como foi a recepção dos fãs quando a notícia sobre o DVD foi divulgada?
Os fãs receberam essa novidade de braços abertos e eu, inclusive, o fiz por causa do público. As pessoas que gostam do queriam muito um registro como esse.
Entre os seus três discos de estúdio, como você selecionou o repertório para Céu Ao Vivo?
Há uma passagem no DVD que mostra como foi feita essa escolha. Eu sentei com os meninos da banda e nós falamos um pouco sobre como cada faixa foi escolhida. Mas eu levei para esse registro um pouco do que eu faço no show da turnê do Caravana Sereia Bloom. Nós apenas incluímos algumas canções que eu achei importante ter. Por exemplo, “Bubuia”, que as pessoas pedem muito, e “Visco de Jaca”, que está no EP do Vagarosa. O show carregava um pouquinho de cada disco.
Algo ficou de fora por uma questão de continuidade ou mesmo espaço?
No CD não cabe muita música, então rolou uma seleção. Mas o DVD ficou como eu queria nada ficou de fora.
Há quatro versões na tracklist que você silenciou. Você gosta de interpretar canções que não são suas?
Eu gosto muito de cantar faixas que não são da minha autoria. Essa coisa de ser interprete é algo que eu curto bastante. “Mil e Uma Noite de Amor”, por exemplo, é uma canção que eu amo. Eu faço essa música desde o carnaval de 2013. A primeira fez que eu a fiz ao vivo foi para um show no Rec Beat. Eu percebi que tem uma resposta bonita do público, ela está no repertório dos meus shows desde então.
O registro foi gravado de uma só vez, durante única apresentação, em uma casa de shows bem pequena. Como se deu a escolha do local? A ideia inicial foi fazer algo intimista?
Sim. A ideia é basicamente essa. Estar perto do público. Há também a questão da cenografia. Eu queria criar uma bagunça visual e, para isso, um espaço pequeno é perfeito. No palco, temos flores, plantas, esculturas em neon, flores, uma televisão de tubo, um periquito e um papagaio. Isso tudo está presente na atmosfera sonora do Caravana Sereia Bloom, que narra a vida na estrada. É itinerante, é circense e mambembe.
Há artistas que não gostam de fazer shows para grandes multidões. Por isso, preferem se apresentam em teatros pequenos. Esse é o seu caso?
São coisas diferentes. Eu queria dar um clima para registro. Foi pensando. Não é questão de eu preferir isso ou aquilo. Eu gosto de tocar para todo tipo de público e há desafios nas duas opções. A única diferença que eu vejo é a de que quando um artista faz show para um público menor, todos os potencias erros são amplificados.
Então você gosta de ter um contato íntimo com os espectadores durante o show? De encarar o público?
É algo que me faz bem. Do contrário, eu não estaria no palco.
Quando você começou, há dez anos, era perceptível que você não se sentia confortável durante os shows. Isso mudou?
A experiência é a melhor coisa do mundo e ela me deixa muito segura. Quando eu comecei, eu era uma garota tímida. Não sabia como dominar o palco. Para mim, ele não era a principal função. Eu estava mais ligada na música mesmo. Quase como uma instrumentista. Demorou algum tempo para eu me tocar que existe uma postura de palco. Foi um processo. Hoje, eu sei exatamente quem eu sou e o que estou fazendo. Nenhum artista é de todo tímido. Pode até dizer que é, mas é necessário ter muita coragem para entrar em cena.
Você acredita que o amadurecimento pessoal também faze parte dessa nova postura?
Sim. A vivência e a estrada me proporcionaram muitas reflexões. Os lugares pelos quais eu passei fazem com que eu consiga entender melhor as coisas e me deixam mais atenta aos desafios. Eu aprendi a ter leveza em algumas decisões e a ser firme em outras. Aprendi a não dar tanta importância para coisas pequenas. É importante saber a hora de mudar. A hora de evoluir. Quando você está nesse momento de estrada, não tem controle de nada. Você está sempre andando e tudo pode acontecer. O inesperado sempre gera um aprendizado.
Você usa essas experiências para compor durante as turnês?
Eu jamais penso: ‘Agora vou fazer músicas para o novo disco’. Estou sempre em atividade. Gosto muito de escrever. Provavelmente eu lance algo nesse ano, mais ainda não sei exatamente o que.
Compor é uma característica dos artistas da sua geração...
Isso é de extrema importância. É uma geração que ainda está tateando para entender exatamente quem é. Eu não tenho um olhar em longo prazo para dizer que tipo de som é. Eu não sou jornalista e não tenho preocupação de saber esse tipo de coisa. Não gosto de rótulos. O que eu noto é que todo mundo pegou a caneta e resolveu escrever e eu acho isso incrível. Para mim, esses dez anos tem muita história para contar.
Talvez essa processo de trabalho sem regras e sem amarras faça com que seus discos tenham sonoridades únicas? Até aqui, você nunca repetiu uma receita de sucesso...
Eu não sei como te responder isso. O que eu acho é que o comprometimento que eu tenho com a minha arte passa pela curiosidade e está fora do conforto. Talvez por isso você me ache tão diferente em cada um dos meus álbuns. Eu não me acho exatamente tão diferente. Eu entendo que você está falando, mas não concordo.
Bob Marley: os 70 anos do ídolo do reggae.
Eu acho que a coisa que guia o meu trabalho é arte em si. Nunca me preocupei em vender, em deixar meu som mais pop ou cantar em inglês. Eu já tive, por exemplo, um convite de um agente gringo muito importante que me falou: ‘Você vai ser foda mesmo quando cantar em inglês. Vamos gravar’. E eu nunca aceitei, entendeu? O que me move é o que faz sentido para mim mesma. Eu não quero ser foda. Eu quero conservar a minha identidade. Então, eu realmente não sei o que vai rolar no próximo. Pode até ser que eu faça um negócio completamente fora da curva. Simplesmente não sei.
O sucesso da turnê tocando na integra o Catch a Fire, do Bob Marley, te pegou de surpresa?
Foi uma experiência incrível e abriu portas para que os que não conheciam o meu trabalho autoral pudessem chegar até ele.
Há a possibilidade de você fazer um registro ao vivo deste show?
Eu nunca vou gravar um disco do Catch a Fire. Ele é um clássico e eu jamais mexeria nisso. O show foi gravado pelo canal Bis, em alta resolução, e está disponível na internet para quem quiser rever.
Céu lança Céu Ao Vivo em São Paulo
Teatro Paulo Autran - Rua Paes Leme, 195 - São Paulo
sábado (21), às 21h e domingo (22), às 18h
Duração: 90 minutos
Ingressos: esgotados
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