O notório psicopata norte-americano, responsável pela morte de sete pessoas, completa 80 anos nesta quarta-feira, 12
David Felton e David Dalton Publicado em 12/11/2014, às 08h03 - Atualizado às 17h39
Em 1969, o fanático Charles Manson foi acusado de ser o mentor intelectual de uma série de assassinatos que chocou os Estados Unidos – entre eles, o da atriz Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski, grávida de oito meses. Líder da Família Manson, uma comunidade quase-hippie que pregava ideais libertários com fortes conotações religiosas e o uso de drogas, ele era considerado “a encarnação de Jesus Cristo” por seus discípulos. Um obcecado pelos Beatles, os quais considerava “profetas que vieram à Terra para alertar o mundo sobre uma revolução”, Manson acreditava que a banda britânica se comunicava com ele através de suas letras, especialmente as músicas do clássico Álbum Branco (1968). Da prisão, dias antes do início de seu julgamento e já eleito pela opinião pública norte-americana como “o homem mais perigoso a andar sobre a Terra”, Manson ofereceu à Rolling Stone EUA uma das mais polêmicas entrevistas já publicadas na história da revista.
Galeria: como o cinema e a televisão retratam o maior psicopata vivo.
Movendo-se lentamente pela geometria municipal de prédios públicos e oficiais de polícia, um homem vem em nossa direção olhando diretamente para o sol, braços abertos em súplica como a Sierra Indian. A trinta metros de distância, seus olhos brilham. Todas as fronteiras bidimensionais se foram. Estamos do lado de fora do novo prédio do Presídio do Condado de Los Angeles, todo em concreto. Um lugar estranho para ter uma viagem dessas.
“Você é da Rolling Stone”, ele diz.
“Como você sabe?”
Não há resposta. Somos levados aos degraus da entrada principal do presídio. Nosso guia dá um rodopio e novamente volta seu olhar no sol.
“Espirais”, diz, num sussurro. “Espirais saindo... Círculos saindo do sol em forma de espiral.”
Seus dedos tecem padrões no céu. Um pequeno sol dança.
“Um buraco na quarta dimensão”, sugerimos. Ele responde rápido: “Um buraco em todas as dimensões”.
Seu nome é Clem, e ele é um membro antigo da chamada família Manson. Lá dentro, vemos mais uma integrante da família, Squeaky, uma garota amigável com cabelo vermelho curto e sardas. Seus olhos também são luminosos – não alucinados, mas permanentemente inocentes. Se parecem com as crianças do filme A Cidade dos Amaldiçoados.
Vamos à janela da sala do advogado preencher alguns papéis. Dois guardas nos observam de uma cabine de vidro acima. Para nossa surpresa, não somos revistados. “Caminhe na direção da entrada”, diz uma voz sem corpo. “Mantenha-se longe do portão.”
Um minuto depois, o portão desliza para trás, e um advogado nos mostra um pequeno cubículo de vidro com uma mesa e três cadeiras dobráveis. Tudo foi pintado em tinta cinza institucional brilhante, reluzindo sob feixes de luz fluorescente.
Enquanto esperávamos, um advogado que assistira Charles Manson na preparação de sua autodefesa falava sobre as condições do presídio. “Charlie foi privado de quase todos os seus direitos constitucionais. Depois que ele deu entrevista a uma rádio de São Francisco, cortaram seus privilégios telefônicos. Agora, Charlie só pode fazer três ligações por dia, mas às vezes tem que esperar uma hora e meia até conseguir um telefone. Há quatro telefones para mais de cem pro pers” [O termo pro per, do vocabulário jurídico romano, designa o interno a quem foi concedida permissão para se autodefender. O direito foi inicialmente conferido a Manson, mas foi revogado mais tarde].
O advogado continua: “Aí, quando ele consegue um telefone, não pode discar o número errado, porque eles já contam como uma chamada. Eles até o revistam de-pois das ligações. É um absurdo. Depois, jogam-no na solitária porque ele não apareceu para o café-da-manhã. Deixam ele usar a biblioteca jurídica – é totalmente inadequado, claro –, mas só uma hora por vez, e sempre inventam alguma desculpa para perturbá-lo”.
“A confissão de Susan Atkins [discípula de Charles Manson e cúmplice nos assassinatos] é um exemplo perfeito”, ele prossegue. “O promotor está envolvi- do ativamente em divulgar todas as atualizações no processo a um jornalista, que vende a história para o mundo. É inacreditável, quando você para e pensa. Se o processo em tese é justo, como eles podem se unir à imprensa e julgá-lo nos jornais? Será porque eles não têm certeza alguma quanto ao caso? Nunca ouvi falar em relações públicas desse tipo num julgamento por assassinato. Se eu começar a falar, nós vamos longe. Mensagens entre Charlie e Susan Atkins são misteriosamente extraviadas. Privilégios são misteriosamente suspensos, e aí descobrem que as ordens para eles também foram extraviadas. Esse tipo de manipulação inevitavelmente nos leva a questionar o que é que está acontecendo aqui. Quando ele foi achado em Inyo County, o registraram como ‘Charles Manson, também conhecido como Jesus Cristo’. Os xerifes do condado andavam pra lá e pra cá perguntando ‘Cadê Jesus Cristo? Queremos pregá-lo na cruz’.”
Quase uma hora depois, ele chega.
Os guardas o saúdam, de forma natural e amigável:
“Olá, Charlie. Como vai?”
“E aí, cara. Eu vou bem”, diz, sorrindo.
[Manson usa roupas de prisão, jaqueta jeans azul e calças. Seu cabelo está muito grande e armado, e ele o afasta do rosto o tempo todo, em gestos nervosos. Parece diferente, mais velho e esquisito do que nas fotos divulgadas na imprensa. Sua barba foi raspada recentemente e está crescendo de volta, negra e rala. Ele tem o rosto comprido e o queixo resoluto, enrugado e castigado pelo clima, como rostos de gente louca do campo que vemos em fotografias velhas. Um Cristo franco-americano. Ele se move em pequenos solavancos, como os coiotes.]
“Não posso te dar um aperto de mão”, explica, dando um pulo para trás. “É contra as regras.” [Ele se estica casualmente na cadeira. É imprevisível. Acaricia seu queixo, como um mago aprisionado sob uma pedra por mil anos. O Rei Elfo. Perguntamos sobre o disco que lançou naquele ano, Lie: The Love & Terror Cult, gravado antes dos crimes e em parte financiado por Dennis Wilson, ex-baterista dos Beach Boys, de quem Manson era amigo pessoal.]
Exclusivo: as confissões finais de Charles Manson, o mais infame psicopata vivo.
Você está realmente contente com seu disco?
Toda música boa foi roubada. Tudo que circula por aí hoje foi criado há pelo menos dois anos. Escrevi centenas de músicas desde então. Tenho escrito muito na cadeia. Nunca fui muito fã de gravar, sabia? Aquelas coisas todas apontando para você. Gregg [Jakobson, produtor e compositor ligado aos Beach Boys] dizia: “Aparece aqui no estúdio, vamos gravar alguma coisa”, e aí eu fui. Você vai até o estúdio, mas quando chega lá é difícil cantar em um microfone. [Ele agarra sua caneta com firmeza, como se fosse um microfone.] Símbolos fálicos gigantes apontando para você. Todas as minhas tendências latentes... [Ele começa a rir e a fazer sons de chupar com a boca. Quando vejo, está literalmente chupando a caneta!] Meu relacionamento com música é totalmente subliminar, ela simplesmente ?ui através de mim.
“Ego Is A Too Much Thing” é uma canção estranha. O que você quer dizer com ego? Ego é o homem, é a imagem do macho. [Sua expressão fica tensa, seus olhos se mexem rapidamente, ameaçadores. Ele cerra o punho e soca a mesa. Entra completamente no papel, em grande atuação – as veias saltando do pescoço, mostrando como é duro ser mau.] O ego é o símbolo fálico, o capacete, a arma. O homem atrás da arma, a mente atrás do homem atrás da arma. Minha ?loso?a é que o ego é a mente pensante. A mente com que você planeja, faz guerra. Eles empurraram todo o amor para o fundo, o esconderam. A ideia do ego é “vou à guerra com meu porrete de ego”. [Ele sacode um riff e imaginário, até que o posiciona em sua virilha. Um pinto em forma de M-16.]
Um dos versos de “Ego Is A Too Much Thing” diz: “Your heart is apumpin’, your paranoid’s a-jumpin’” (Seu coração bomba, sua paranoia explode).
É, bem... a paranoia é apenas uma espécie de consciência, e consciência é apenas uma forma de amor. A paranoia é o outro lado do amor. Uma vez que você se rende à paranoia, ela deixa de existir. É por isso que eu digo que a submissão é um dom – apenas se abra a ela, não resista. É como dizer: “Me prenda à cruz!” [Ele diz isso calmamente, tirando o cabelo do rosto em um movimento angelical.] Tá, quer que eu segure o prego? Tudo é belo se você se propõe a experimentar em sua totalidade.
Como a paranoia se torna consciência?
É paranoia... E é paranoia... E é paranoia... Ah! [Ele encena terror e paranoia total, amassando seu corpo em uma bola de medo que de repente estala e colapsa novamente em êxtase.] É como quando eu entrei no tribunal. Todo mundo na sala queria me matar. Eu via ódio nos olhos deles, e sabia que eles queriam me matar. Perguntei aos xerifes: ‘Será que alguém vai atirar em mim?’ É por isso que, para mim, é como se eu já estivesse morto. Sei que minha hora está chegando. Quem põe essas ideias na cabeça deles são os policiais. Eles não entram ali com isso. Eles sussurram, em uma altura que eu também possa ouvir: “O pai de Sharon Tate está no tribunal”. E aí vão até ele, o revistam inteiro para ver se ele está armado, e fazendo isso estão colocando a ideia na cabeça dele. Ele tem um rosto simpático. Eu o vi no primeiro dia do julgamento. Ele não quer me matar. Estão enfiando isso na cabeça dele, entende? Dizem coisas como: ‘Não queremos que você atire no réu’. E todo dia que eu o vejo no tribunal, sua expressão está mais fechada. Um dia ele vai atirar. São os guardas quem colocam tudo isso na cabeça dele, alimentando-o com muitas vibrações negativas. Eu sei que a minha hora está chegando. As coisas deles estão apontadas para mim, e eles estão loucos para usá-las. Mas acontece que eles não podem usá-las, e isso os deixa muito putos. Eles não podem transar com elas, sofrem de paranoia sexual. Eles me seguem há três anos, tentando achar alguma coisa, e aonde quer que eu vá tem sempre umas 30 mulheres. Isso os deixa loucos. Não conseguem entender o que esse bando de mulheres faz com um cara como eu.
Tentam achar algo sujo em tudo, e quem procura acha. Você acaba tendo que inventar alguma expressão facial para eles, e essa é a única cara que eles vão entender daí pra frente. A solução é aceitar a cruz. Eu aceitei. Consigo montar na cruz, na minha mente. Oh, oooooh, aaaah! [A crucificação orgástica! Ele dá um longo suspiro de conforto.]
[O discurso de Charlie é superácido – símbolos, parábolas, gestos, nenhuma literalidade, tudo é enigmático, não há descanso, pausas breves para negar uma ideia, aceitá-la em sua mente e depois explorar o paradoxo.]
Você já viu um coiote no deserto?
[Ele move a cabeça sorrateiramente, para a frente e para trás.] Sempre observando, ligado, completamente consciente. Cristo na cruz, o coiote no deserto – é a mesma coisa, cara. O coiote é lindo. Se move pelo deserto delicadamente, consciente de tudo, observando o que está ao seu redor. Ele ouve cada som, sente cada cheiro, vê tudo que se move. Está sempre em um estado de paranoia total, e paranoia total é consciência total. Podemos aprender com o coiote da mesma forma que aprendemos com uma criança. Os bebês vêm ao mundo em um estado de medo. Paranoia e consciência total, de quem vê o mundo com olhos ainda virgens. À medida que crescem, os pais jogam um monte de merda neles. Falam com os bebês, quando deveriam permitir que os bebês falassem com eles. Deixem as crianças guiarem vocês.
A viagem da morte é algo que eles pegam dos pais, mamãe e papai. Eles não precisam morrer. Podemos viver para sempre. É tudo incutido na nossa cabeça. Eles são programados com amor reprimido. Transformados em um brinquedo mecânico. [Ele canta um verso do seu disco, sacudindo os braços como um Homem de Lata epiléptico.]
“I am a mechanical boy, I am my mo- ther’s toy” [Eu sou um menino mecânico, Eu sou o brinquedinho da mamãe]. As crianças funcionam em um nível puramente espontâneo. Os pais as deixam travadas. Você nasce com instintos naturais e a primeira coisa que eles fazem é depositar todos os pensamentos deles em você. Lá pelos 9 ou 10 anos de idade, você se tornou exatamente o que eles queriam. Um espírito livre preso numa gaiola, ensinado a morrer.
Tudo aconteceu da maneira perfeita na minha vida. Escolhi a mãe certa, e o meu pai eu também escolhi. Ele era demais, entrou bem cedo no jogo. Não queria que eu me atrasasse. [Charlie ri discretamente de sua piada interna.]
Crianças respondem à música. Elas ouvem, não estão tão condicionadas ao ponto de não senti-la. A música raramente toca os adultos. Ela atinge diretamente o cérebro jovem, que ainda está aberto. Quando sua mente está fechada, está fechada para Deus. Eu vejo o mundo como a imaginação de Deus. Você se torna mais parte Dele à medida que se rende, se torna parte de Seu corpo, se torna Um.
O mais belo é que está tudo aí, na sua cabeça. Um garoto vivia me pedindo que o ensinasse a tocar violão. Eu não sei ensinar nada. Se você crê que pode fazer, você pode. Uma vez, perguntei a um amigo: “Me explique o que é a neve”. Ele me disse: “Bom, neve é como a água, é gelada e...” Ele passou meses tentando me ensinar, até que finalmente teve a ideia de raspar um pouco de gelo do congelador. Foi o mais perto que conseguiu chegar. Não podemos nos comunicar com palavras, só com ações.
Foi isso que Cristo nos ensinou. Palavras matam. Elas encheram cada ser vivo com morte. Seus discípulos O traíram pela escrita. Uma vez que algo é escrito, está morto como uma lápide. Seus ensinamentos eram para ser vivi- dos, mas eles os escreveram. Mataram- no com cada palavra escrita no Novo Testamento. Cada palavra é um prego a mais na cruz, outra traição disfarçada de amor. Cada palavra está ensopada com o sangue Dele. Ele disse “vão e façam o mesmo”, não disse para escreverem. Esse sistema inteiro de merda foi construído em cima dessas palavras, a igreja, o governo, a guerra, a viagem de morte inteira. O pecado original foi a escrita. Eis um fato que ninguém pode esconder: dez mil pessoas subiram naquela cruz, a cruz romana, para derrubar o establishment por dentro. O pastor esconde os dez mil, gritando “Santo! Santo!”, falando sobre um homem, erguendo cruzes por todos os cantos. Tudo está escondido debaixo dessa mentira. Na verdade, sofrimento é papo-furado, é só outra peça de propaganda que a igreja inventou para nos fazer acreditar na mentira.
Pode esclarecer o que você quer dizer com submissão? Se todos somos um, como justifica o fato de ser um líder?
Há apenas um Escolhido. Eu sou o Escolhido. O Meu vem em primeiro lugar. Não me importo com você. Não penso no que os outros dizem, só faço o que minha alma me diz. As pessoas diziam que eu era um líder. Eis o tipo de líder que fui: eu me certificava de que os banheiros estavam limpos, me certificava de que os animais fossem alimentados. Os cavalos estavam machucados? Eu os tratava. Algo precisava de conserto? Era eu quem sempre fazia tudo que ninguém queria fazer. Os gatos precisavam comer? Eu os alimentava. Quando fazia frio, eu era sempre o último a pegar um cobertor.
Pouco tempo depois, se eu estivesse sentado na varanda e pensasse “vou fazer isso, vou fazer aquilo”, uma das meninas aparecia e dizia, “não, deixa que eu faço”. É preciso se render, deitar e morrer pelos outros, e aí eles farão tudo por você. Quando você está disposto a se tornar servo de outros, eles irão querer transformá-lo em mestre. No final, as meninas faziam qualquer coisa por mim. Eu pedia a uma delas para me fazer uma camiseta, e ela ? cava eufórica porque podia me fazer um favor. Elas trabalhariam horas por dia se eu lhes desse algo para fazer. Eu me entendo com meninas, elas se rendem fácil. Consigo fazer amor com elas. O homem tem essa coisa do ego [Charlie se endurece] pendurada no pinto. Não sei fazer amor com aquilo. Meninas cedem mais fácil. As defesas delas caem com mais facilidade. Quando você supera a coisa do ego, só sobra você faz amor consigo mesmo.
Você pode fazer amor com uma menina até ela ficar exausta. Pode fazer amor até que ela entregue sua mente, e então você pode fazer amor com amor.
[Charlie começa a percorrer seu corpo de cima a baixo com as mãos, acariciando a si mesmo como um stripper, os dedos tremendo como os de um curandeiro espiritual em transe. Eles dançam por seu corpo inteiro.]
Você chega ao orgasmo com qualquer movimento que faz, a cada passo que dá. O hálito de amor que você respira é tudo que você precisa para crer.
[Charlie faz várias posições diferentes. Ele se contorce, se endurece, agoniza em êxtase.]
Oooooh, aaaaaah, aaannnnn! Sua barba é tãããão gostosa, mmmmm! [Seus dedos, com unhas de mais de 1 centímetro, acariciam seu próprio rosto e seu queixo resoluto, incorporando as mãos de um amante invisível, fazendo amor consigo mesmo.] Sua barba é tããão gostosa, ah, como é gostosa. Tudo vem do pai para a mulher. [e repente, ele assume sua posição de ensinamento.] Eu consigo aceitar a verdade porque sou bastardo, entende? Porra, eu sou meu pai! O Pai... O Filho... [Em um misto de terror e zombaria, ele foge de algum grupo imaginário de acusadores, empurrando-os, empurrando o pensamento com as mãos esticadas.] Não, não, não... isso não sou eu... você entendeu tudo errado! Eu não sou... você não pode pensar isso! Não sei do que você está falando. Tudo bem, eu vou arrumar um emprego. [Ele continua lutando contra seu fantasma e ri.]
Está vendo? Foi a cristandade que deu para trás. Se você acredita na cristandade, não precisa acreditar em Cristo. Arrume um emprego e você nunca mais precisará pensar nisso. A coisa toda é armada para nos envolver no jogo deles. Seus óculos, por exemplo. Você os usa porque disseram que você precisa. Sua mãe te disse isso. Aí começam a dizer que você precisa de óculos, e você começa a usar. Depois de um tempo, você acaba precisando deles de verdade. É só mais um truque para fazer dinheiro. É como quando alguém está morrendo e mandam chamar o médico. Quem precisa de um médico para morrer?
George – você conhece George Spahn [o fazendeiro que hospedou Manson e seus discípulos]? Ele não é cego. Quando ele se sentava à frente da TV, sua esposa vinha e dizia: “George, você está perto demais da TV! Está com algum problema de visão?” E aí ele começou a matutar, lá no fundo: “Se eu fosse cego, não teria que acordar e ir trabalhar todo dia. Poderia ficar aqui sentado na minha poltrona e deixar as pessoas tomarem conta de mim”. Até que seus olhos começaram a ficar cada vez mais preguiçosos, e um dia ele ficou cego. Mas foi sua alma que o cegou.
Estar na cadeia de certa forma me protegeu da sociedade. Eu estava aqui dentro, por isso não entrei nos jogos que a sociedade espera que todos joguem. Fiquei anos preso – o máximo que fiquei fora foram seis meses, se muito. Simplesmente não fui contaminado, mantive minha inocência.
Fiquei tanto tempo preso que aprendi a amar a solitária. Ela foi criada como punição, mas eu a amava. Não tem nada para fazer na cadeia mesmo, eles só sabem dizer “De pé! Sentado!”. Então a solitária era demais. Comecei a ouvir música dentro da minha cabeça. Avisos dentro da minha cela. Quando chegou a hora de sair, eu não queria. Sério, cara, a solitária era foda.
O que você quis dizer quando declarou uma vez que Deus e Satanás são a mesma pessoa?
Se Deus é Um, o que é o Mal? Satã é apenas a imaginação de Deus. Tudo que eu fiz durante estes mil novecentos e setenta anos agora está às claras. Fui ao deserto me confessar com Deus sobre o crime que Eu, você, o homem vem cometendo há dois mil anos. E é por isso que estou aqui: como testemunha.
Evitei a cruz por mil novecentos e setenta anos. Mil novecentos e setenta pregos na cruz. Eu deveria ter subido na cruz por vontade própria.
Todas as guerras, todas as mortes, toda a fome nestes mil novecentos e setenta anos de blasfêmia contra Jesus Cristo, toda a vergonha e culpa, toda a tortura, ninguém pode mais esconder. E a menos que você esteja disposto a morrer pelo seu amor, você não conhece o amor. Jesus Cristo morreu pelos seus e pelos meus pecados, e por mil novecentos e setenta anos eu O neguei.
O homem branco precisa pagar pelas mortes de todos os índios que foram massacrados por cobiça, e agora é hora de ele morrer por eles. Esperança? Você anseia por esperança? [Charlie une suas mãos em uma prece.] Ah, sim, deve ter sobrado alguma esperança, né? [Ele cospe, em escárnio.] Não há esperança! Crie seu próprio mundo você mesmo. A esperança é a última coisa em que você pode se agarrar. Todos esperam ser salvos, salvos de sua culpa. Mas eles não serão salvos. Eu não serei responsável pela sociedade. Calhou que eu estou preso aqui por uns buggies de areia roubados. Se não fosse por isso, teria sido por outra coisa. Eles estavam me caçando, era só uma questão de tempo até acharem algo para jogar em cima de mim. E eles acharam. Primeiro eles fazem a moldura, depois pintam o quadro. Inventam coisas para esconder sua própria culpa. Eu só consigo dizer a verdade. Fiquei trancafiado a vida inteira porque ninguém me queria. A cadeia é o lugar para onde são mandadas as pessoas rejeitadas. Eles não têm mais aonde ir, mas, como ninguém os quer, são enterrados vivos. Não querem estar aqui, mas tudo tem que estar na prateleira certa. Todo mundo tem que estar em algum lugar, e algum lugar é o lugar pra onde gente que não é ninguém vai.
Você acha que está sendo perseguido como indivíduo?
Não me vejo como um indivíduo. Só consigo pensar no meu amor. A cada dia eu amo meu mundo um pouco mais. O amor nos deixa mais fortes. Eles não conseguem tirar isso de você. Se um homem já desistiu de tudo, o que mais podem tirar dele? Essas togas cristãs que os juízes usam estão manchadas com o sangue de milhões de vidas. Os cristãos profanaram a cruz. Eles a usaram em batalha. Levaram Cristo com eles em suas batalhas e profanaram sua imagem. Você deve saber, as celas aqui estão cheias de pretos, chicanos, gente como eu. Gente que nunca fez nada. Você teve uma bicicleta quando era criança? Eu nunca tive. Nunca tive nada. O sistema é isso, é autorecorrente. Só anda em círculos o tempo todo. Acabem com os criminosos, e o que te- remos? Esta sociedade precisa de criminosos, eles precisam de alguém para jogar toda a culpa em cima.
O que você pensa a respeito de o juiz Keene ter tirado seus privilégios pro per?
O juiz é só o outro lado do pastor. Ele tirou meu direito à autodefesa porque não querem que eu fale. Querem me calar – porque sabem que, se eu levantar e for ao banco dos réus, vou escancarar essa porra toda. Eles não querem ouvir. É por isso que me designaram esse advogado, Hollopeter. Ele veio me ver [Charlie imita um homenzinho inquieto mexendo em papéis], sentou e ficou mexendo feito louco nuns papéis na maleta dele. Assim, sem olhar no meu olho. Me mandaram um cara que parece um camundongo. Ele ficou se escondendo atrás da maleta e de seus papéis importantes. Dizia: “Bem, sr. Manson, no seu caso etc. etc.”. E eu dizia: “Certo, mas será que você pode me olhar no olho?” Ele não podia. Como pode um camundongo representar um leão?
Homem que é homem só pode falar por si mesmo. Eu disse ao juiz Keene: “Eu falo alguma coisa em seu nome?” Cá entre nós, se aquele juiz pedir minha vida, eu a darei ali mesmo, no tribunal. Mas antes de tudo ele vai ter que se ver com a minha música, a música nos meus dedos e no meu corpo. [Charlie faz uma demonstração. Suas unhas tamborilam um riff incrível que percorre a mesa, a cadeira e o vidro da cabine, como os passos apressados de um roedor alucinado.]
Ele vai ter que lidar com esse poder. Eu sou provavelmente um dos homens mais perigosos do mundo quando quero. Mas nunca quis ser nada a não ser eu mesmo. Se o juiz disser morte, estou morto. Sempre estive morto. Morte é vida. Tudo que você vê em mim está em você. Se você quiser ver um assassino cruel, é isso que verá, entende? Se me vê como um irmão, é isso que serei. Tudo depende de quanto amor você tem. Eu sou você, e quando você consegue admitir isso, está livre. Sou apenas um espelho. Viu o que ?zeram com aquele cara no julgamento dos [membros do grupo pacifista] Sete de Chicago? [O juiz] Hoffman viu naqueles caras o que ele quis ver. Foi por isso que os considerou culpados. O homem branco está desaparecendo, todo mundo sabe disso. O homem negro vai tomar o controle, ninguém pode evitar. E eles não vão conseguir me parar a menos que me calem.
Por que você acha que os negros tomarão o poder?
Eles foram os primeiros donos do poder. Os faraós eram negros. Os egípcios pegaram um homem e o ergueram acima do resto. Colocaram ele num trono e o alimentaram com um feixe enorme de energia. [Ele dobra os braços no peito como Tutankamon, segurando seu lápis entre dois dedos, como se fosse o cajado do faraó.] Isto significa poder. Representa o pênis, o poder. As pirâmides foram construídas com essa energia. Eles eram um com ele. Toda aquela concentração criou uma força tremenda. O amor construiu as pirâmides. Direcionar aquele amor todo para um homem foi como direcioná-lo para si mesmos.
Os maçons têm esse poder. É um segredo que vem sendo transmitido desde os faraós. A sabedoria secreta. Jesus conhecia os símbolos. O pastor e o juiz tiveram contato com os símbolos e os tomaram para si. O juiz Keene usa todos eles. Ele faz sinais como “façam ele calar a boca”. Ou, quando eu me levanto para falar, faz um sinal para o chefe de polícia, e de repente deixam entrar um monte de gente no tribunal, rola uma baita confusão e ninguém escuta o que eu falo. Eles usam todos esses sinais maçônicos para exercerem poder sobre outras pessoas. E aí eu decidi começar a usar os símbolos. Toda vez que vou ao tribunal, ou que tiram uma foto minha, uso um símbolo maçônico diferente. Como aquele com três ou dois dedos esticados. Quando o juiz percebe, ele pira de verdade, porque não pode falar nada. Quando vejo eles fazendo esses sinais no tribunal, faço de volta.
Eles conhecem os símbolos de poder, mas não têm capacidade para entendê-los. Poder sem amor é agressão. Não houve mais amor real desde os faraós. Fora JC. Ele entendia o que era o amor. Não me tentarás. Lembra da história de Jesus no monte? Você sabe, o diabo leva-O até a beira do abismo [Charlie se curva sobre a mesa, como se estivesse à beira do vazio, se equilibrando de maneira precária] e diz a ele: “Se você é Deus, prove isso pulando deste penhasco”. E Jesus responde: “Não tenho que provar nada, cara”. Quando você duvida, sua mente está dividida em duas. Está dividida contra si mesma. Veja, Cristo diz: “O passado ficou para trás”. O diabo está no passado. O diabo é o passado. O que ele está dizendo é “não pense”. Aquele que pensa está perdido, porque se você tiver que pensar a respeito de algo, para colocá-lo à prova, você já está perdido. Minha ?loso?a é: não pense. Eu não acredito na mente que usamos para pensar e planejar. Não acredito em palavras.
Se você não acredita em palavras, por que usa tantas delas?
Palavras são símbolos. O que estou fazendo agora é apenas confundir os símbolos na sua cabeça. Tudo é simbólico, e símbolos são apenas conexões no seu cérebro. Até seu corpo é um símbolo.
O que faz de você um amante tão fogoso?
Quando você passa 20 anos na cadeia se divertindo sozinho, uma mulher se torna quase algo de outro mundo. É como um homem no deserto, que passa 20 anos lá e de repente encontra um copo d’água. Seria algo muito valioso, não?
Como você pode amar e ameaçar uma pessoa ao mesmo tempo?
A quem eu ameacei?
Você mandou uma bala de revólver a Dennis Wilson (baterista dos Beach Boys e ex-amigo de Manson).
Eu tinha um monte de balas no bolso, dei uma para ele.
Então não mandou como ameaça?
Essa é a paranoia dele. Ela criou a ideia de que era uma ameaça. Se você me der uma bala, eu vou usá-la em volta do pescoço e mostrar a todo mundo seu amor por mim. A única coisa que eu quero com Dennis é fazer amor com ele. Sabe, eu dizia: “Olha só essa flor, Dennis. Não é linda?” E ele respondia: “Então, cara, eu preciso ir”. Ele sempre tinha que ir a algum lugar resolver algo importante. Mas a verdade é que ele não aceitava meu amor. Eu o amo tanto quanto amo a mim mesmo. Não recuso nada e não peço nada. Tudo ?ui através de mim.
Pode explicar o significado de Apocalipse, Capítulo 9?
O que você acha? É a batalha do Armagedom. É o ?m do mundo. Foi [a música] “Revolution 9”, dos Beatles, que me fez acordar para isso. Ela prevê a queda do establishment. O inferno será aberto, e aí tudo virá abaixo. Um terço da humanidade morrerá. Os únicos que escaparão serão aqueles que têm o selo de Deus na testa. Você conhece aquela passagem, “eles buscarão a morte, mas não a encontrarão”.
Como você sabe que essas coisas estão por vir?
Só estou dizendo o que minha consciência vê. Olho para o futuro como um índio num trilho. Eu sei o que meus sentidos me dizem. Simplesmente consigo ver que está perto, e quando chegar eu só vou dizer “E aí?” [Ele diz isso como um vendedor de carros usados saudando o Apocalipse em uma tela de TV num quarto vazio.]
O que leva você a crer que essa revolução prevista em “Revolution 9” será violenta? Por que ela será racial?
Você já ouviu falar dos muçulmanos? Ouviu falar dos Panteras Negras? Ingleses, vocês se lembram de terem cortado a cabeça de muçulmanos em oração, com a cruz costurada em seu traje de batalha? Conseguem imaginar isso? Bom, imaginação é o mesmo que memória. Você e todos os homens ocidentais mataram e mutilaram-nos, e agora eles reencarnaram e vão dar o troco. A alma do homem branco está entrando em hibernação. Eles estavam orando, ajoelhados no templo. Não queriam guerra. E o homem branco chegou em nome de Cristo e matou a todos.
Você poderia explicar as profecias que encontrou no álbum duplo dos Beatles?
[Charlie começa a desenhar linhas no verso de uma folha de papel, três linhas verticais e uma horizontal. Abaixo, ele escreve a palavra SUB.] Ok. Então me dê o nome de quatro mú-sicas do disco. [Escolhemos “Piggies”, “Helter Skelter”, “Blackbird” e ele acrescenta “Rocky Rac- coon”. Charlie escreve os títulos no topo de cada linha vertical. Embaixo de “Helter Skelter” ele desenha uma linha em ziguezague; embaixo de “Blackbird”, dois rabiscos, os quais, de alguma forma, indicam sons de passarinhos. Muito bizarro.] Esta parte de baixo é o subconsciente. Ao final de cada música há um destaque com algumas notas. Tipo, em “Piggies” temos “oinc, oinc, oinc”. Esses sons. E todos eles são repetidos em “Revolution 9”. Em “Revolution 9”, todos esses pedaços se juntam e preveem a violenta queda do homem branco. Tipo, você ouve “oinc oinc” e, um segundo depois, uma metralhadora atirando. [Ele pulveriza a sala com balas imaginárias.] RÁ-TÁ-TÁ-TÁ-TÁ-TÁ!
Você realmente acha que foi isso que os Beatles quiseram dizer?
Eu acho que é subconsciente. Não sei se foi intencional ou não. Mas está lá. É uma associação do subconsciente. A música está trazendo a revolução, a derrocada desorganizada do establishment. Os Beatles sabem disso em nível subconsciente.
Explique o signifcado da expressão “Rocky Raccoon”, então?
“Coon”, você sabe, é um termo pejorativo para se referir aos negros. Você conhece o verso, “Gideon checked out and he left it no doubt/To help with good Rocky’s revival.” [“Quando o gideão saiu do quarto, ele deixou a Bíblia, sem dúvida/ Para ajudar na ressurreição de Rocky.”] A ressurreição de Rocky, o revival – reviver. Significa voltar à vida. O homem negro vai reconquistar o poder. “Gideão sai do quarto” significa que está tudo escrito lá no Novo Testamento, no livro do Apocalipse. A Bíblia também ensina a submissão. As mulheres foram colocadas aqui para servir os homens, mas só porque elas são dez vezes mais receptivas e perceptivas que os homens. O servo é sempre mais sábio que o mestre. Você conhece [a canção] “Cease to Exist”. Eu compus essa para os Beach Boys. Eles estavam brigando entre si, aí fiz essa música para uni-los. “Submissão é um dom, ceda ao seu irmão.” Dennis tem uma alma sincera, mas seus irmãos não aceitavam isso. Ele ia até a casa de Brian [Wilson, líder dos Beach Boys e irmão de Dennis] e abraçava seus irmãos, mas eles diziam “Ih, Dennis, corta essa!” Eles não conseguiam aceitar, entende?
O que você gostaria de fazer se um dia fosse libertado?
Se eu tivesse um desejo, seria ser livre de desejos. Eu iria para o deserto. O deserto é mágico. Eu amo o deserto, lá é a minha casa. Ninguém nunca me quis e ninguém quer o deserto. A pedra que os construtores rejeitaram, lembra daquela história? Eu viverei no deserto, como um coiote. Eu sei onde está cada poço d’água, cada baga ou fruta comestível. Eles virão atrás de mim no deserto e morrerão. O deserto é o reino de Deus. Uma vez eu andava pelo deserto, quando tive uma revelação. Eu tinha andado mais de 70 quilômetros, e isso é quilômetro pra cacete pra se andar num deserto. O sol me castigava e eu tinha muito medo, porque não estava disposto a aceitar a morte. Minha língua começou a enrolar e eu mal conseguia respirar. [Ele começa a falar como se estivesse amordaçado, como se tivesse uma pedra imensa na boca. Cai sobre a mesa, a mão esquerda embaixo da cabeça e o braço direito esticado na borda. Seu rosto se estica todo, em delírio.] Eu desabei na areia. [Charles pragueja como um explorador numa tempestade de areia.] Meu Deus! Eu vou morrer! Vou morrer aqui! [Ele grita um grito atormentado, Pedro afundando no mar.] Olhei para o chão e vi uma rocha com o canto do olho. Quando vi a rocha, me lembro de ter tido um pensamento estranho: “É, este lugar é tão bom quanto qualquer outro para morrer”. E aí comecei a rir. Ri como um louco, eu estava tão feliz. E, quando me deu o estalo, percebi o que estava fazendo. Eu havia me libertado. Não me prendia mais. Estava livre do feitiço, tão livre como aquela pedra. Simplesmente levantei, como se uma mão gigante me ajudasse. Levantei com facilidade, andei mais 15 quilômetros e saí. Foi fácil.
Você acha que um dia conseguirá sair da cadeia?
Não me importo. Estou tão em casa aqui quanto em qualquer outro lugar. Os lugares são o que você quer que eles sejam. Para mim é tudo a mesma coisa. Não tenho medo da morte, então o que podem fazer contra mim? Não ligo para o que eles façam. A única coisa com que me importo é o meu amor. A morte é algo psicossomático. Câmara de gás? [Charlie gargalha.] Meu Deus, tá de brincadeira? Tudo se resume a versos e refrões. Tudo é música. A morte é um confinamento eterno na solitária, e não há nada que eu deseje mais do que isso.
Uma campainha toca. Um delegado vem avisar que o tempo acabou. O presídio está fechando por hoje. Charlie nos apresenta uma canção que compôs na cadeia, “Man Cross Woman”, escrita caprichosamente em papel pautado amarelo arrancado de um bloco de anotações jurídico. Charlie fica parado em pé na entrada da sala do advogado, sorrindo. Lá fora, à distância, Clem e Squeaky acenam e sorriem de volta, eufóricos, ao seu irmão cativo, seus dedos pressionados contra o vidro. Os delegados observam Charlie, perplexos, enquanto ele sacode a cabeça de um lado para o outro, como um palhaço. Eles não conseguem ver Clem e Squeaky lá atrás, imitando cada movimento dele, comunicando-se com ele em uma linguagem animal silenciosa.
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