Em Natal, público chegou a contar com 8.500 pessoas, mas muita gente foi embora cedo pra casa
Por Bruna Veloso Publicado em 17/08/2008, às 22h13 - Atualizado em 17/09/2008, às 12h34
A terceira e última noite da 10ª edição do MADA foi marcada por boas bandas independentes e chuva constante. De acordo com a organização do festival, o público dos palcos principais no sábado, 16, chegou a contar 8500 pessoas (como na primeira noite; a segunda teve pouco mais de 5 mil), mas durante a madrugada, mesmo com a expectativa da apresentação de Seu Jorge, muita gente preferiu voltar para casa para se abrigar do vento gelado e da chuva.
A noite começou com o som regional do grupo Rosa de Pedra. Misturando músicas de ciranda, cancioneiro popular e trechos declamados com cara de poesia de cordel, a banda foi a melhor abertura dos três dias. O público chegou a pedir mais quando a vocalista Ângela Castro anunciou o fim do show. Em seguida, o quinteto Sem Horas subiu ao palco vizinho. Terninhos e gravatas vestem os integrantes da banda de João Pessoa, que mostrou rock e rockabilly sem firulas.
A arena estava repleta de pedaços picotados de papel, lançados em explosões de fumaça do palco nos dias anteriores. Fora isso, já dava para ver algumas latinhas de cerveja espalhadas - o local tinha ambulantes por todos os lados, mas quase nenhum recipiente de coleta de lixo.
No grupo carioca Macanjo, destaca-se a dupla que comanda saxofone e trompete. "Arlequim", cantada com sotaque carregado pelo vocalista, lembra o Los Hermanos dos tempos de "Anna Júlia". Meia hora depois, o frontman do Falcatrua anuncia que sua banda veio trazer um "tempero mineiro à música, alimento da alma". A animação de André Miglio, somados à guitarra hora suingada, hora distorcida e ao baixo pontuado animaram o público. Bom cover de "Fliperama", de Tom Zé.
No outro palco, muita gente já esperava a atração mais jovem da noite. Mallu Magalhães apareceu sob gritos da platéia. Quando, com um banjo nas mãos, começou os acordes de seu hit na internet, "J1" (que faz parte de campanha publicitária de uma operadora de celular, uma das empresas que patrocina o festival), o "pápápá" do refrão foi cantado em coro. Ainda tímida, mas com mais desenvoltura que há alguns meses, Mallu mostrou duas músicas em português: a boa "O Preço da Flor" e "Vanguart", em homenagem ao grupo de Cuiabá. Depois dos covers "I've Just Seen a Face", dos Beatles, e "Folsom Prison Blues", de Johnny Cash, Mallu e sua banda (todos com bolinhas coloridas pintadas perto dos olhos) terminam a apresentação e recebem aplausos.
O melhor da noite
Diante de um palco decorado com homens em esculturas de metal, os pernambucanos do Cordel do Fogo Encantado fizeram um dos shows mais intensos do festival, e o melhor da noite. Fãs dançaram como que hipnotizados, em rodinhas mais distantes do palco, ao som da percussão pesada da banda. A performance teatral do vocalista Lirinha foi ajudada pela chuva que começou fina, mas engrossou com o passar das horas. Depois de músicas como "Pedrinha" (a abertura), "Morte e Vida Stanley" e "O Sinal Ficou Verde (Ou Além do Bem e do Mal"), a banda é acompanhada pelo público no coro de "Os Oim do Meu Amor", do primeiro álbum. O melhor momento vem com "Chover (Ou Invocação para um Dia Líquido)", com algumas pessoas deixando de lado os sapatos para pular nas poças formadas na areia.
À 1h20 da manhã, o norte-americano Josh Rouse mostra seu folk. A chuva aperta, e o público se reduz em dois terços. Depois da apresentação, Josh disse que até gostou da água, afirmando que "nunca tinha tocado para tante gente molhada assim". Ao vivo, as músicas ganham mais força que nos discos - mas continuam calmas, e acabaram servindo como uma pausa para o descanso entre o Cordel e show seguinte, de Seu Jorge. "Givin' It Up", "Winter in the Hamptons" e "Come Back" fizeram parte da lista apresentada pelo cantor, que encerrou o show com "Directions" e um "Obrigado".
Seu Jorge e sua banda se afastaram da frente do palco para não tomar um banho junto com o público. Com competentes instrumentistas (destaque para a percussão), os cariocas colocaram os remanescentes para dançar, primeiro ao ritmo de reggae, com "Hágua" e a "A Carne", e depois com as suingadas "Mania de Peitão" e "Mangueira". Em certo momento, todos deixam o palco, restando apenas três percussionistas, cada um com um pandeiro. Mais tarde foi a vez de Seu Jorge ficar sozinho, apenas com o violão, para cantar "Problema Social", "Zé do Caroço", "São Gonça" e "Nego Drama", dos Racionais MCs. No backstage, alguns integrantes de outras bandas se abrigavam da chuva. Josh, que diz amar música brasileira ("Gosto de Jorge Ben, Caetano Veloso...Amo os Novos Baianos, e sou fã do Seu Jorge") dançava sem muito ritmo, esperando por um bis quando o show acabou com a música "Carolina".
Fechando o maior festival de música independente do Brasil, o duo cearense que mistura eletro e punk Montage fez uma curta apresentação. O vocalista Daniel Peixoto, de cabelos brancos de água oxigenada, sunga e botas pretas, a todo momento se joga no chão e sobe na mesa de Leco Jucá, nos sintetizadores, num show performático e animado. Depois de apresentar a si e ao companheiro de palco, ironiza dizendo "e nós somos Mallu Magalhães, a louca".
Jam session no hotel
Rica Amaral, um dos criadores da rave XXXperience, ainda tocava seu psytrance de batidas rápidas na tenda eletrônica quando vários músicos se reuniram no piano bar do hotel para uma jam session. Comandada na maior parte do tempo por dois integrantes da banda de Mallu Magalhães (o guitarrista Kadu Abecassis e o pianista Rodrigo Alencar), a sessão teve Beatles ("Let it Be" cantada em coro e "Lady Madonna"), Jorge Ben Jor e Tim Maia. Passando por ali depois de sua apresentação, Daniel Peixoto ouviu um pedido de "Ryan Adams" e reclamou para Josh que eles deviam tocar coisas como "Iggy Pop, David Bowie!". Ele não deve ter entendido, e ajudou a entoar algumas das músicas seguintes, várias delas em português (como "Ponta de Lança Africano" e "Taj Mahal", de Jorge Ben) . Mallu cantou "House of the Rising Sun", sentou ao piano e tocou escaleta. Às 5h30 da manhã, a jam continuava a todo vapor, enquanto gente da produção trazia cerveja para abastecer os músicos - exceto Mallu, que prestes a completar 16 anos de idade, seguiu tomando água.
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