Ciência, amizade e TV: a fórmula de sucesso de The Big Bang Theory

Atores da série, atualmente em sua quarta temporada, falam sobre o sucesso que a combinação acima tem feito e o futuro do programa

Por Stella Rodrigues

Publicado em 07/06/2011, às 12h35
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Leonard (Johnny Galecki, esq, frente), Raj (Kunal Nayyar, esq, fundo), Sheldon (Jim Parsons, dir, fundo) e Howard (Simon Helberg, dir, frente): os protagonistas em cena de <i>The Big Bang Theory</i> - Reprodução

Há dez anos, quem diria que amizade, física quântica e cultura pop seriam elementos de uma fórmula de tanto sucesso? Chuck Lorre, Bill Prady e a série que criaram, The Big Bang Theory, estão aí para provar que a receita é vencedora. Exibido nos Estados Unidos pela CBS e no Brasil pelo Warner Channel, o programa de TV sobre o quarteto de cientistas e a vizinha atriz/garçonete é sucesso de audiência lá e aqui. Tanto que parte do time de atores foi trazido ao país para promover os episódios finais da quarta temporada, cujo último episódio vai ao ar nesta terça, 7, no Brasil. Johnny Galecki (Leonard), Simon Helberg (Howard) e Kunal Nayyar (Raj) receberam a mídia no hotel onde se hospedaram, em São Paulo, para um dia de imprensa fora do comum. Portando caixas da série para serem autografadas e camisetas com bordões dos personagens, ficou bem claro que a maior parte dos jornalistas escalados para entrevistar os três simpáticos rapazes não estavam ali por acaso. Pelo contrário, disputaram a tapa a chance de bater um papo com os atores.

O trio veio preparado para tietar o Brasil de volta, tagarelando sobre belas mulheres e caipirinha. Helberg, o mais piadista, mandou logo de cara, sendo que o assunto nem era esse: "A verdade é que nossa motivação para fazer uma série de sucesso sempre foi essa - poder vir ao Brasil tomar caipirinhas, o resto é lucro. Nunca nenhum outro trabalho me rendeu caipirinhas".

Ele e Galecki, veteranos das séries de TV, com alguns pilotos rejeitados no currículo, comentaram da sorte que é conseguir emplacar um sucesso mundialmente. "A gente sabia que estava fazendo algo bom, com bom roteiro, mas é tudo que podemos fazer, o resto cabe a todo o resto", ambos concordaram. E esse bom roteiro a que eles se referem deve dar trabalho. Passeando entre falas sobre os mais diversos temas "nerds" - palavra que usaram com muita cautela, sempre cercada de aspas orais -, que vão de um simples comentário sobre o game da moda aos complicados "zeros e uns" que, na ordem certa, fazem com que esse jogo rode no computador de casa, com que frequência será que eles não têm ideia do que estão falando? "O tempo todo", afirmou Nayyar. "Pelo menos, logo de cara. Depois a gente TENTA tirar sentido de absolutamente tudo que dizemos. Às vezes, acontece de eu entender o que significa, mas quando estou falando, simplesmente não faz sentido." Galecki complementou dizendo que é impossível sequer cogitar improvisar ou sugerir qualquer coisa e que "tem vezes que as definições são complicadas demais para entrar na minha cabeça". O roteiro que sai da ponta da caneta dos escritores chega a eles impecável e fica imaculado, indo ao ar exatamente do jeito como foi concebido.

Mas nem tudo fica alheio ao universo dos atores. Helberg contou que alimenta sua paixão de infância pelo Superman nas cenas gravadas na loja de HQs. "Eu viro o mais geek. Amo as 'action figures' [aqueles "bonecos" colecionáveis que são miniaturas perfeitas de personagens], fico impressionado com o nível de detalhes. E abismado comigo mesmo com o quanto acho atraentes as versões femininas, de saia curta."

"O mesmo acontece em episódios com videogame", lembrou Nayyar. "Jogar Halo e Rock Band no set foi muito legal. Sabe do que eu NÃO gostei? De trabalhar com aranhas! Eu odeio insetos, todos eles sabem. Ela tinha que andar pelo Howard, mas estava muito perto do meu braço e eles passaram o tempo todo da gravação daquele episódio me atazanando, me ameaçando", reclamou em tom de brincadeira, enquanto os colegas gargalhavam. "É, aquela foi uma semana bem divertida", caçoou Galecki. Veja aqui a cena em questão.

Oi, eu conheço um Sheldon

Quatro cabeções da ciência, gênios com PhD aos 20 e poucos anos, não são exatamente os tipos que a gente encontra quando chega a uma loja de HQs ou a campeonatos de videogame. Por outro lado, o tímido que não consegue lidar com mulheres (Raj), o judeu com a mãe dominadora (Howard) e a aspirante a atriz que trabalha como garçonete (Penny) não são exatamente uma novidade quando se fala em nerds e TV. Curiosamente, cada um deles é baseado em uma pessoa real que os criadores conheceram ou encontraram em sua pesquisa, realizada na exclusivíssima Caltech, instituto de tecnologia californiano. O jeito xavequeiro e sem parâmetros de Howard: copiado de alguém real. O mutismo seletivo de Raj (que só fala com mulheres depois de beber): a mesma coisa. E apesar desse ar exagerado e das idiossincrasias deles, os três garantem que não passam uma semana sem ouvir de um fã "conheço alguém igualzinho ao seu personagem". E isso também vale para o ator Jim Parsons, que encarna o inexplicável Sheldon.

Noite das meninas

O ano quatro da série, marcado pela presença fixa de quatro personagens femininas que equilibram o placar eles vs. elas, trouxe novo sangue ao programa. "Aconteceu organicamente, não acho que quando escreveram o primeiro encontro de Howard e Bernadette [Melissa Rauch] a intenção era tê-la no em mais de um episódio. Mas a Melissa foi tão bem que funcionou. Durante um período, a gente tinha Mayim Bialik [a excêntrica cientista Amy, novata no programa], Melissa e a Kaley [Cuoco, a vizinha/atriz/garçonete Penny] no programa, elas não interagiam. Aí os roteiristas viram que juntar essas três seria completamente hilário e, como elas são ótimas atrizes, deu muito certo", elogiou Helberg. "E é legal que duas delas são cientistas também, mas são um lado diferente desse mundo", acrescentou. "São cientistas que saem para fazer 'a noite das meninas'!", destacou Nayyar.

"Essas mulheres são tão boas, se encaixaram tão bem, que seria autossabotagem não as colocar como permanentes. É mais um elogio aos roteiristas o fato de que as personagens do programa, que são do mundo da ciência, são muito diferentes entre si. Eu já ficava impressionado porque isso acontece com os quatro homens. Pensava: esses são quatro 'nerds', 'ciencicêntricos', obcecados com matemática e números. Então, poderia parecer que é um programa em que os diálogos e as opiniões deles são coringas, mas nunca achei isso em um episódio que fosse. E eles ainda vão lá e conseguem encaixar mais duas pessoas nesse mundo e elas são completamente únicas", apontou Galecki.

Futuro da série e Sheldon, o Big Bang ausente

Claro, nem valeria a pena pedir a eles que contassem como será o final da temporada. Mas os três comentaram o que gostariam que acontecesse daí para frente. "Espero que tenha mais do mesmo", brincou Helberg. "Está funcionando! Eles vão tentar fazer a vida dar certo e errar tudo. A graça está nisso e os roteiristas são espertos e já sacaram essa. Deverá ser um longo e conturbado noivado entre a Bernadette e o Howard."

"Mais coisas ruins vão acontecer com boas pessoas para garantir as risadas. Os roteiristas se divertem enfiando os personagens em situações diferentes e roubadas. Eles também estão ficando mais velhos, evoluindo. E agora, por exemplo, o Sheldon já está mais confortável com a presença da Penny, eles já têm uma interação só deles", emendou Nayyar.

"Já faz quatro anos - na verdade, mais do que isso - que Sheldon está convivendo com esses personagens. Então, com minúsculos passos, ele está se adaptando a eles. E ele está mudando, no começo nem sabia o que era uma piada, não sabia rir. Agora, já sabe até o que é sarcasmo", ironizou Helberg. "No episódio do flashback [The Staircase Implementation, o vigésimo segundo da terceira temporada] fica bem claro o quão piores eles eram antes: o Leonard era ainda mais inseguro, o Sheldon era ainda mais perdido socialmente. Desde então, progrediram bastante. Estão na metade do caminho agora", finalizou Galecki.

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