Hélio Delmiro em Rio das Ostras - Divulgação/Cezar Fernandes

Cinco dias de jazz e blues em Rio das Ostras

Com line-up de qualidade, encontro anual acontece entre 6 e 10 de junho, em 2012, quando comemora 10 anos

Antônio do Amaral Rocha Publicado em 07/06/2012, às 19h52 - Atualizado em 08/06/2012, às 12h39

Rio das Ostras, cidade do litoral fluminense, se mantém no mapa da música mundial trazendo, este ano, vinte e oito shows gratuitos, espalhados por quatro palcos montados ao ar livre. Trata-se de uma maratona que começou pequena, em 2003, com apenas dois palcos, e hoje conta com uma infraestrutura que ombreia com qualquer festival do gênero no mundo. Nestes cinco dias de Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, espera-se um público rotativo aproximado de 80 mil pessoas assistindo aos diversos shows, o que certamente fará uma diferença na arrecadação municipal e divulgará o nome da cidade. Isto porque, com uma festa deste porte, a cidade vira notícia.

Na última quarta, 6, no palco principal Costa Azul, aconteceu, pontualmente às 20h30, o show de abertura, que já há diversas edições apresenta a Orquestra Kuarup de Sopros e Cordas, dirigida e regida pelo maestro Nando Carneiro. Tocaram clássicos de Tom Jobim, além de Gilberto Gil, Edu Lobo e Hermeto Pascoal. Dois momentos impactaram a plateia de 8 mil pessoas: a execução de “Ponteio”, de Edu Lobo, e “O Ovo”, de Hermeto Pascoal.

O segundo show foi uma grata surpresa. A Big Band 190, uma das formações musicais da Companhia Independente de Músicos da Polícia Militar, trouxe um repertório suingado de temas do jazz moderno, de Dizzy Gillespie a Chick Corea, com perfeito entrosamento entre os diversos naipes de trompete, sax e trombone, além de guitarra, teclado e percussão. Apesar de prevalecer entre os músicos a hierarquia militar, no momento da arte, esta fala mais alto e qualquer rigidez desaparece: a música vence. Foi o que se presenciou, confirmado nas palavras do comandante Ronaldo Almeida da Silva: “ser militar, no caso, ajuda, mas o pessoal é mais profissional artista do que profissional militar. A gente faz com gosto e quando se faz com gosto o militarismo não é necessário”.

A técnica apurada e o dedilhado perfeito de Hélio Delmiro ao violão foram a terceira atração da noite. Hélio, que vem da recuperação de uma angioplastia, representa uma escola na forma de tocar violão e guitarra no Brasil. Acompanhado de teclado, baixo e bateria, tocou temas conhecidos do cancioneiro brasileiro, como a já citada “Ponteio”, de Edu Lobo, e até pediu licença para cantar, justificando, com humor: “eu posso até não cantar bem, mas vale porque eu estou sendo acompanhado por Hélio Delmiro”. Cantou “Ilusão à Toa”, de Johnny Alf, e não decepcionou. Depois homenageou o grande maestro Moacir Santos com uma bela versão de “Nanã”. A autorreferência irônica esteve bastante presente quando tocou “Samba do Stent” (inspirada pela cirurgia que fez no coração), um tema sincopado, acompanhado de improvisos vocais. Fazendo uma menção às dificuldades do músico no Brasil, apresentou “Ostra Cismo”, que, ao mesmo tempo em que lembrava a cidade onde estava, também lembrava uma certa situação de segundo plano em que o mercado coloca instrumentistas geniais como ele. Nos bastidores, Hélio explicou melhor: “são 10 anos de festival e eu acho que eu deveria ter vindo antes, até pela minha música, mas eu não estou reclamando de nada. Tem aquela frase ‘vamos tirar Camões do ostracismo’, então, vamos tirar o Hélio do ostracismo. Espero que a partir de agora eu seja mais convidado”.

Celso Blues Boy, talvez não na sua melhor forma física, mas em grande forma musical, fechou a primeira noite, levantando o ânimo da plateia com sua guitarra energética em temas de blues rock. Celso confirma a razão de estar entre os virtuoses do instrumento no Brasil. Logo após a terceira música, brincando, ele disse: “agora, para encerrar” e ouviu um oh! de decepção da plateia. “É que vocês não estão gostando!”, respondeu aos risos, antes de tocar por mais 45 minutos. O bis aconteceu com uma performance vigorosa de “Aumenta que Isso Aí É Rock’n’Roll”. Celso saiu e o show continuou por mais vinte minutos, com as canjas do guitarrista Big Joe Manfra e do gaitista Jefferson Gonçalves. Uma noite memorável.

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