Idealizador da revitalização do local, o empresário Facundo Guerra fala sobre o projeto de transformar o antigo cinema em uma das principais casas de shows da América Latina
Bruno Raphael
Publicado em 08/11/2011, às 16h24 - Atualizado às 16h44Outrora um cinema, fundado na década de 50 em São Paulo, o Cine Joia volta à vida a partir da próxima sexta, 11, em uma festa apenas para convidados. A pretensão do empreendimento é clara: ser uma das melhores casas de shows da América Latina, segundo contou o empresário da noite paulistana Facundo Guerra, um dos sócios do local, em entrevista à Rolling Stone Brasil.
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“Eu não vou colocar meu nome em jogo por pouca coisa”, dispara Guerra. “O Joia é uma das coisas mais fodas que você já viu na vida.” A confiança é tanta que o dono de boates, que também dirige as casas Lions, Vegas, Volt e Z Carniceria, declarou recentemente em seu Twitter: “Se não for um dos lugares mais bonitos que você já viu na vida, faço uma promessa: largo tudo e vou vender colar de miçangas na República [bairro de São Paulo].”
A ideia de reabrir o local, localizado no centro da cidade, surgiu quando Guerra e o jornalista Lúcio Ribeiro, também sócio da casa, refletiram sobre a necessidade de um espaço maior para shows pequenos, já que um grande número de casas tem capacidade inferior a 1000 pessoas (no Cine Joia, caberão 1500). “Quando você consegue fazer show num lugar maior, o ingresso pode ficar um pouco mais barato”, pondera Guerra. “Começamos a fazer esse projeto no final do ano passado e nesse meio tempo encontramos o Cine Joia, entramos e ficamos apaixonados pelo lugar. A partir daí, começamos um projeto de restauração e intervenção tecnológica.”
Avesso à nostalgia, Guerra não pensou em recriar o Joia como forma de remeter aos tempos áureos do estabelecimento, que vinha sendo usado como local de encontro para religiosos de uma igreja pentecostal. “A ideia não era trazer a nostalgia de volta, mas injetar tecnologia para revitalizar e torná-la uma das melhores casas de São Paulo e, quiçá, do mundo”, afirma. Conhecido por ser uma das pessoas mais influentes na popularização da região do baixo Augusta, ele recusa a alcunha. “Não tenho pretensão nenhuma. Sempre me imputam essa responsabilidade, mas na verdade não foi intencional”, diz. “Estou fazendo o meu, quem não gosta do centro de São Paulo? Não conseguiria fazer outra coisa que não fosse aqui.”
Além de Lúcio Ribeiro, o outro sócio do Cine Joia é André Juliani, que trabalha há mais de sete anos com Guerra e é DJ residente do Vegas. “Temos essa política de, como em um escritório de advocacia, trazer os sócios que estão há mais tempo”, conta Guerra. “Ele tem um gosto musical diferente do meu, mas que se complementa. O Lúcio conhece mais de indie e dessas ramificações com a música eletrônica. A ideia é mesclar os gêneros, porque já passamos dos 35 anos e temos o ouvido desgastado. Gostamos de boa música.”
Guerra adiantou à Rolling Stone Brasil que o rapper Criolo e mais três atrações serão anunciadas nos próximos dias. Até o momento, foram confirmados shows do grupo de electropop Ladytron, em 17 de novembro, e do duo de folk Kings of Convenience, no dia 8 de dezembro (o ex-Libertines Pete Doherty também tinha data confirmada no local, mas acabou cancelando).
Econômico, Guerra acha que ter muito dinheiro envolvido nos negócios pode estragar os projetos. “Muito dinheiro estraga tudo. Aqui no Joia, a única coisa que compramos foi torneira e privada. O resto, fizemos tudo na mão”, ele revela. “As lâmpadas, por exemplo, são iguais às primeiras lâmpadas que o Thomas Edison fez.” Fotos de dentro do local só serão liberadas após a inauguração.
Sem disfarçar a confiança por um instante sequer, Guerra se vangloria de todas as vantagens que, segundo ele, o Cine Joia irá oferecer. Um dos destaques é o sistema de mapping 3D, o primeiro do mundo com portas fechadas. “É muito difícil de explicar o que é, você tem que ver”, explica. “Não é de projeção, é de arquitetura. Essa é a cereja do bolo.” Ele também destaca o fato de o Cine Joia ter o piso inclinado, possibilitando que em qualquer ponto do lugar seja possível assistir aos shows, que, segundo ele, “terão uma acústica perfeita”.
“O Cine Joia não vem pra competir com o Beco [203] ou qualquer outra casa, a gente vem pra fazer outra história”, diz Guerra. “Eu sei que estou soando um pouco arrogante no que falei mas, quando você conhecer o Cine Joia vai pensar: ‘É, até que ele não exagerou tanto, não’”.