360 é tecnicamente arrasador, mas sofre do mesmo mal que a maioria dos filmes multiplot: nenhum personagem é desenvolvido plenamente
Stella Rodrigues Publicado em 17/08/2012, às 20h20 - Atualizado às 20h35
A modalidade dos filmes “coral”, ou seja, com muitas histórias curtas que se misturam de certa forma, parece estar cada vez mais em alta. Talvez seja culpa do nosso distúrbio de déficit de atenção do qual os especialistas tanto falam, ou pode ser só moda mesmo. O fato é que o roteiro com estrutura multiplot é tendência. Como o próprio diretor Fernando Meirelles comentou durante coletiva (leia aqui), a grande dificuldade de trabalhar nesse esquema é a sensação eterna de que nenhum dos personagens foi aprofundado o suficiente, afinal, há pouco tempo para se dedicar a cada um. Ele sentiu isso na pele em 360, que chega aos cinemas nesta sexta, 17.
Claro que não existe uma fórmula matemática que defina quanto de energia e tempo cada fragmento merece. Nessa nova empreitada de Meirelles no cinema internacional, ele se dedicou a tentar contar várias histórias de amor – e medo, desejos, dúvidas, enfim tudo que tange o tema -, da melhor forma possível. Sobrou pouco da peça que inspirou a obra, Ronda, do dramaturgo austríaco Arthur Schnitzler. Nas mãos do celebrado roteirista Peter Morgan (Frost/Nixon, A Rainha), a história peca ao tentar abraçar o mundo todo de uma vez. O que tem de impecável na fotografia do brasileiro Adriano Goldman e na trilha de Ciça Meirelles se repete também nas outras partes técnicas, igualmente excelentes. E por mais que haja diálogos parados e um pouco mais profundos do que a média entre os personagens, em um texto que lembra o teatro em seu ritmo, fica faltando mergulhar direito nos conflitos psicológicos de cada um de forma eficiente, ou seja, fazendo com que as microtramas gerem uma real empatia.
O elenco é de primeira, muito preciso. Meirelles conseguiu juntar grandes destaques dos cinco países que são mostrados de forma proeminente no longa. Tem o russo Vladimir Vdovichenkov, que o diretor define como “o Wagner Moura da Rússia”, Jude Law e a velha conhecida de Meirelles Rachel Weisz, que vivem um casal britânico em crise, Anthony Hopkins (foto), que faz basicamente o papel dele mesmo, e os brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré. Todos eles vivem um tema que já foi abordado vezes e mais vezes em diversas formas de arte, a questão das escolhas que fazemos e as consequências que elas trazem. E se esse ponto foi levantado tantas vezes não é à toa: costuma trazer debates válidos e é algo que nos aflige diariamente, uma razão frequente da angústia humana.
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