Peso da idade fragiliza James Bond em 007 – Operação Skyfall, mas herói ainda consegue se provar relevante
Pablo Miyazawa Publicado em 26/10/2012, às 09h54 - Atualizado às 11h45
Em 2012, James Bond completou 50 anos de vida cinematográfica. Foi em 1962 que o personagem de Ian Fleming transcendeu da literatura para estrelar 007 contra o Satânico Dr. No. Desde então, foram mais de duas dezenas de filmes oficiais e interpretações que consagraram e imortalizaram (quase todos) os atores que beberam do martini-batido-não-mexido e vestiram o smoking impecável do agente secreto a serviço de Sua Majestade.
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007 – Operação Skyfall, o 23º filme da franquia, pega como referência a efeméride da vida real e faz dela a motivação velada de seu enredo. 007 ainda não é literalmente um cinquentão na ficção, mas aqui é tratado como uma peça de museu ultrapassada, desnecessária em um mundo cada vez mais digital, globalizado e em tempo real. Tido como morto após meros dez minutos de história (obviamente, ele está vivo, ou não haveria filme), Bond ressurge decadente diante do cada vez mais desacreditado MI-6, o Serviço Secreto Britânico liderado por M (Judi Dench). Será que os métodos analógicos de priscas eras fazem sentido atualmente? Mais ainda: o mundo precisa ainda de super-heróis bem-vestidos, idiossincráticos e de carne e osso como 007? Skyfall é um atestado evidente de que sim – afinal, como bem define a versão jovem e nerd do inventor Q, alguém ainda precisa puxar o gatilho. E é aí que entra Bond.
O filme que questiona a simples existência do protagonista é também aquele que mais revela suas origens, além de dar luz a detalhes de um passado carregado de traumas e feridas causadas pelo tempo. Retornamos à propriedade onde Bond nasceu na Escócia (a Skyfall do título), conhecemos pessoas que colaboraram com sua formação e presenciamos um lado humano que o agente se esforçou para esconder ao longo dos 22 filmes anteriores. A interpretação de Daniel Craig talvez seja a mais completa entre os três longas em que ele calçou os sapatos de Bond (Cassino Royale, de 2006, e Quantum of Solace, de 2008). Além de passear com desenvoltura pelas cenas físicas, o ator de 44 anos acessa camadas extras, descartando o sarcasmo peculiar e permitindo fragilidade a um personagem que sempre foi considerado à prova de falhas. O vilão Raoul Silva, elaborado de forma maníaca e estilizada por um Javier Bardem bem à vontade, colabora para deixar a situação ainda mais desconfortável para o herói veterano (a cena em que ele se insinua sexualmente para 007 é tão tensa quanto hilariante). Felizmente, a direção de Sam Mendes, pouco acostumado a blockbusters explosivos, é elegante, artística e não compromete – as sequências de ação são raras, mas instigantes, seja nos telhados de Istambul, nas sombras de um arranha-céu em Xangai ou nos lotados vagões do metrô londrino.
Galeria - 50 anos de música com James Bond.
Há itens obrigatórios em um filme de James Bond, porém em doses homeopáticas e talvez exageradamente dosadas: as Bond Girls possuem funções tão decorativas quanto inúteis; as bugigangas são tão discretas que servem quase como piadas em si; e até o tradicional Aston Martin faz uma aparição – o fato de se valer de um automóvel vintage também contribui para aumentar o anacronismo de Bond, constantemente lembrado de que é um corpo estranho em um planeta moderno, com regras que se atualizam a cada novo instante.
Obviamente, os métodos antigos se fazem valer, e 007 triunfa – ainda que com certa dificuldade – frente à bandeira do “novo é sempre melhor”. Parece especialmente simbólico que James Bond tenha de se esforçar para provar relevância no exato ano em que alcança a “maturidade” aos olhos do mundo. A questão não é só saber se esse fator continuará a ser explorado nos próximos filmes da franquia, mas se as próximas gerações de espectadores continuarão a comprar a brincadeira. Pelo menos em Skyfall, a estratégia funcionou.
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