Banda estreia o show do novo álbum, o quarto da carreira, em São Paulo, depois de três meses de lançá-lo
Pedro Antunes, de Brasília* Publicado em 02/11/2019, às 18h00
O disco Respiro, o novo trabalho da banda Scalene, estava disponível nas plataformas digitais há poucas semanas, e Gustavo Bertoni (voz e guitarra) e Lucas Furtado (baixo) praticamente roíam as unhas diante da ansiedade para tocar as músicas do álbum ao vivo. Mas ainda não era a hora.
Gustavo e Lucas conversaram com a Rolling Stone Brasil antes da performance da banda no Festival CoMA, realizado em Brasília, em agosto. Respiro, o quarto disco da carreira da Scalene, havia saído em julho. E é só agora, em novembro, que o grupo enfim estreará a nova turnê.
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Neste sábado, 2, em Sorocaba (Asteroid Bar), e no domingo, 3, em São Paulo (na Casa Natura Musical), a banda fará a imersão completa no universo estético tão particular de Respiro, um disco construído com calma - como o próprio nome indica. O mesmo foi feito com o show, cuja transição da era pesada de Magnetite (2017) também levou o tempo que precisava. Na página de Facebook da banda, é possível ver o anúncio da turnê de 14 shows em 13 cidades.
E Respiro é esse convite à paz, contemplação, à realmente respirar. Quem tem um Apple Watch, ou algum outro relógio desses tecnológicos, pode conhecer a funcionalidade: em dado momento, o aparelho preso no pulso percebe um aumento no ritmo cardíaco e sugere que quem o usa respire, por um minuto, até a frequência dos batimentos volte à normalidade.
Esse é respiro. O respirar diante de tanto caos. Por isso, também, era necessário que todo o contexto dos shows da Scalene se transformasse para a chegada da safra de canções mais contemplativas, praticamente todas criadas a partir de bases no violão.
"Foi um disco todo feito sem pressa", contou Gustavo, à Rolling Stone Brasil, antes daquela apresentação no Festival CoMA, em agosto. "Esse disco é tão diferente. Temos uma liberdade de fazer o que quiser com ele, não colocar as músicas soltas no meio do show."
Naquela apresentação em Brasília, o quarteto formado ainda por Tomás Bertoni (guitarra) e Philipe “Makako” Nogueira (bateria) tocou apenas "Furta-Cor", uma das mais belas canções do álbum - no registro de estúdio, a música contou com a participação de Xenia França.
Aliás, as participações em Respiro já mostram como se trata de um disco nascido de um outro big bang que o restante da discografia da Scalene. Hamilton de Holanda toca violão em "Vai Ver", faixa que abre o disco, Ney Matogrosso canta com Gustavo na violentamente estranha "Esse Berro" e Beto Mejia toca flauta em "Ilha no Céu".
"A banda tem dez anos de idade. Queríamos uma nova experiência. Surgiu a ideia de fazer um EP acústico, mas fomos trazemos referências, chegamos a um CD e vamos oferecer uma parada nova para os fãs", conta Gustavo.
Lucas compelta: "Todos nós tivemos que desenvolver uma nova forma de tocar. O Makako é ótimo em sentar a mão na bateria, teve que buscar outra forma de fazer isso. É algo que fomos desenvolvendo. Palhetar agressivamente a gente já faz".
Faz sentido a transformação. Quando a Scalene começou, Gustavo tinha 15 anos e o resto da banda, 18. A transição entre adolescência e vida adulta afeta diretamente a criação musical - e é aos poucos, como na vida real, também.
"Em Magnetite, a gente meio que pegou a arma e o escudo e fomos bater de frente com as coisas. Era um disco com lava, vermelho, fogo", diz Gustavo. "A tensão e angústia continuou aumentando no País e pensamos: 'Talvez a gente deva encarar as coisas de forma mais equilibrada. Não deixamos de ter críticas contundentes, mas é o que a gente precisava fazer."
Respiro, no fim das contas, é menos agressão, mais acalanto. Em um País dividido e caótico, ele chega depois do pico máximo de ansiedade e angústia. É como um convite à calma, ao "ninguém solta a mão de ninguém", sem partir para a agressão.
É um disco que percebe seu batimento cardíaco acelerado e, com calma, diz: "Respire, respire, respire". Não resolve todos os problemas, é verdade, mas ajuda muito.
*Pedro Antunes é editor-chefe da Rolling Stone Brasil esteve em Brasília a convite da organização do Festival CoMA
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