Em entrevista à Rolling Stone Brasil, os diretores Daniel e Julio Hey falaram sobre a própria busca interior e compartilharam um trecho inédito do projeto documental
Julia Harumi Morita | @the_harumi Publicado em 20/10/2020, às 07h00
Há quatro anos, os irmãos Daniel e Julio Hey embarcaram juntos em um projeto cinematográfico para explorar tudo aquilo que forma a essência de cada indivíduo: a vida interior. Por três anos, eles viajaram o mundo e entrevistaram personalidades das mais diversas áreas, desde música e filosofia até ciência e ativismo.
O resultado dessa busca foi o Samadhi Road, um projeto documental co-produzido pela Café Royal e Bro Cinema, que assume dois formatos. O primeiro é um longa-metragem, que ainda está em fase de finalização e será lançado no circuito de festivais de cinema em 2021.
O segundo é uma série disponível gratuitamente no Instagram formada por vídeos curtos, os quais variam entre um e três minutos, chamados de “pílulas da sabedoria”. Em cada clipe, ensinamentos rápidos são transmitidos por meio de sete etapas: a busca, libertando-se da mente, transcendendo a dor, nossa real natureza, envelhecer, o divino e despertar.
As duas partes contam com relatos de grandes nomes da música brasileira, Gilberto Gil, João Carlos Martins e Hermeto Pascoal. Na primeira parte da série, Gil falou sobre a relação dele com o samadhi - que pode ser traduzido como “meditação completa”.
"Nunca foi possível me aproximar categoricamente do chamado samadhi. Tive na fronteira, onde eu acahava: 'Ah, aqui eu estou próximo. Aqui, eu acho que, se eu der mais um passozinho, estarei lá , em condição de samadhi' [...] mas eu nunca consegui", disse o ícone da mpb.
Já entre os artistas internacionais estão os saxofonistas Sonny Rollins e Benny Golson, duas figuras importantíssimas do jazz que tocaram ao lado de lendas como John Coltrane e Charlie Parker.
Além de grandes nomes da música, os irmãos também entrevistaram os japoneses Tomio Kikuchi, pioneiro da alimentação macrobiótica no Brasil, e Kaz Tanahashi, pintor e ativista dedicado ao estudo do zen budismo.
Os diretores ainda registraram conversas com ex-piloto Jackie Stewart, que fundou um projeto para financiar pesquisas sobre a demência; o escritor Paulo Coelho; o discípulo próximo de Dalai Lama Robert Thurman; a filósofa e sobrevivente do holocausto Agnes Heller; o físico quântico Amit Goswami; e o mestre jamaicano Mooji.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Daniel e Julio contaram que fizeram uma lista com nomes de pessoas que admiravam, as quais acumulavam pelo menos seis décadas de experiências de vida e tinham uma forte conexão com a transmissão de vivências por meio da fala.
“Esse projeto nasceu em um ato de fé na oralidade. A gente, desde muito cedo, foi impactado pelo poder da oralidade, principalmente através dos nossos avós, os quais convivem com pessoas mais velhas e, através da contação de histórias e da contação de impressões sobre a vida, nos entregavam um material muito precioso” disse Daniel durante uma chamada de vídeo no Zoom.
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Ele continuou: “Esse projeto nasceu no momento em que a gente pensou que seria muito interessante fazer esse gesto de fé na oralidade e ir até pessoas que admirávamos, pessoas que, muitas vezes, têm uma voz cultural muito forte”.
A dupla enxerga o Samadhi Road como um fruto, que foi gerado por uma semente plantada pelos pais deles há muitos anos atrás, quando levaram os dois filhos para conhecer um guru na Índia ainda na infância.
Mais tarde, Daniel continuou a buscar pela vida interior por meio da literatura, do voluntariado e da yoga, área em que se encontrou e se especializou como instrutor. Neste mesmo período, Julio se formou em publicidade e começou a trabalhar com diversos projetos de entretenimento.
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Foi após participar do documentário Pagliacci (2018), que o diretor percebeu que poderia se juntar ao irmão e usar o audiovisual para investigar temas e transmitir mensagens sobre coisas que realmente acreditava.
“Esse cinema de guerrilha, esse documentário Pagliacci abriu as portas para eu perceber que o cinema pode ser uma ferramenta e um instrumento para gente investigar coisas que realmente acreditamos ou buscamos ou queremos investigar em nós mesmos [...] [Samadhi Road] também nasceu de uma aproximação muito grande com meu irmão Daniel, seja em ideias ou na busca espiritual”, contou Julio.
Em seguida, os dois irmãos escolheram o termo Ahimsa para assinar os projetos que fariam juntos. A palavra vem do sânscrito e pode ser traduzida como "não-violência" ou "abster-se da violência em atos, palavras e pensamentos".
“Foi como uma maneira de se posicionar para os outros e para nós mesmos. Para a gente lembrar sempre disso e tentar manter esse compromisso e, assim, tentar trazer pra área do cinema essa contribuição de um cinema não violento, um cinema voltado para o autoconhecimento”, explicou Daniel.
Com câmeras nas mãos, os diretores viajaram pela França, Portugal, Bulgária, Suíça, Estados Unidos e, claro, o Brasil. E, logo nas primeiras entrevistas, eles perceberam que estavam no caminho certo quando passaram mais de uma hora conversando com o lendário Sonny Rollins e não chegaram a mencionar a trajetória dele no jazz.
“A gente esteve na frente do Sonny Rollins durante uma entrevista de uma hora, uma hora e meia, e a gente não sequer falou sobre jazz. Então, acho que isso foi uma constatação de uma coisa que estávamos buscando, a vida interior de cada pessoa [e] suas impressões da vida”, disse Julio.
Por fim, os irmãos Ahimsa falaram sobre como o fruto gerado pelos pais se transformou em inúmeras novas sementes com o Samadhi Road.
“Eu entendo que uma cultura é feita por trilhões de pequenos gestos”, falou Daniel. “De repente, paramos diante de uma cultura e não entendemos o porquê dela, mas são trilhões de pequenos gestos que solidificaram algo, o qual é solúvel através de outros pequenos gestos [e] é a remodelável através de outros pequenos gestos.”
Ele completou: “Então, essa proposta de falar sobre Ahimsa em uma cultura local - que é uma cultura na qual a violência está ganhando muito destaque - é uma tentativa de fazer um pequeno gesto através desse trabalho de plantar essa semente de paz, de reflexão, de diálogo, de empatia e de compaixão”.
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Enquanto o longa-metragem não é lançado, os diretores dão continuidade às publicações das 80 “pílulas da sabedoria” que foram editadas a partir do material restante do documentário.
A Rolling Stone Brasil recebeu com exclusividade uma “pílula de sabedoria” do Sonny Rollins, que só será lançada no final da série online. No vídeo, o músico fala sobre a conexão da música com o “espírito universal”. Assista:
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