Show teve canja de Mano Brown e um dueto emocionado em “Nothing Compares 2 U”
José Flávio Júnior Publicado em 20/08/2016, às 18h50 - Atualizado em 21/08/2016, às 12h46
Se São Paulo nunca teve a chance de presenciar uma apresentação de Prince, ao menos a cidade acolheu uma homenagem digna e que funcionou como despedida (com certo delay, já que o astro pop morreu em abril, aos 57 anos) na noite de sexta-feira, 19, no Cine Joia. A celebração da obra do gênio de baixa estatura foi comandada pelo fã Max de Castro e quatro músicos que passaram pela New Power Generation, banda que acompanhou o norte-americano em boa parte de sua carreira. Ao longo de duas horas e dez minutos de espetáculo, o combo, reforçado por um naipe de sopros daqui, passou por 16 composições de Prince, para deleite da plateia, que contou com personalidades da música, como Fernanda Abreu, o soulman Carlos Dafé e o pianista de jazz Robert Glasper, que se apresenta no SESC Pompeia neste fim de semana. Mano Brown também estava no recinto e subiu ao palco para mandar um rap no meio do funk “Strange Relationship”.
Mesmo com poucos ensaios, Cassandra O’Neal (teclados e voz), Dominique Taplin (teclados), Gorden Campbell (bateria) e Andrew Gouche (baixo) mostraram perfeita conexão com Max em cena. Tirando um pequeno vacilo na entrada da terceira estrofe do hit “1999”, nenhum descompasso pôde ser observado. A devoção do brasileiro pela obra de Prince contou muito para o belo resultado. Na juventude, Max chegou até mesmo a descolar uma credencial de segurança para conseguir ver seu ídolo de perto no segundo Rock in Rio, em 1991, a única vez que Prince se apresentou no Brasil.
Com esse conhecimento de causa, o caçula de Simonal foi amarrando faixas de várias fases do homenageado. Abriu o set com “Musicology”, que dá nome ao disco da ressurreição do mito, de 2004, e logo voltou até 1979, para lembrar “I Wanna Be Your Lover”. Em ordem cronológica, seguiu para “Head”, de 1980, e convidou os quatro rapazes dos metais a inserir riffs de funk no meio do tema arrasa-quarteirão – entre eles, o de “Sossego”, de Tim Maia, que casou muito bem. Na sequência, Max entregou uma de suas melhores performances, cantando “Little Red Corvette” com grande paixão.
Os arranjos foram quase sempre respeitosos, com exceção ao proposto em “When Doves Cry”. A obra-prima perdeu seu astral minimalista e ganhou sopros funkeados, o que passou perto de uma heresia. Mas o público não condenou o desvio e curtiu a transição para “Erotic City”. Depois dela, Max meio que pediu licença para cantar uma de suas favoritas: “Pop Life”, com poderoso solo de sax tenor de Josué dos Santos. E se “Shhh”, a primeira balada da noite, não havia causado comoção, o mesmo não pode ser dito de “Nothing Compares 2 U”. Popularizada por Sinéad O’Connor, ela motivou um dueto de Max com Cassandra, que tomou o centro do palco e exibiu seu privilegiado vozeirão. Foi o momento de maior concentração de celulares no alto.
O arremate da apresentação também foi baladeiro, só que antes Max e a NPG encadearam mais uma trinca para incendiar a pista: “Let’s Go Crazy”, “Take Me with U” e “Kiss”. Como a banda subiu ao palco por volta de 0h30, a partida terminou antes para uma porção dos presentes, que saiu sem ver a sentida interpretação de Max para “Sometimes It Snows in April”. E claro que o número final não poderia ser outro que não “Purple Rain”, quando o fã demonstrou que anos admirando Prince lhe renderam algo por osmose. Não bastasse as preciosas execuções na guitarra, Max de Castro também lembrou o mestre em trejeitos vocais, o que levou um grupo na plateia a desconfiar de uso de playback. Não era. Era idolatria mesmo.
Setlist:
1 - "Musicology"
2 - "I Wanna Be Your Lover"
3 - "Head"
4 - "Little Red Corvette"
5 - "Shhh"
6 - "1999"
7 - "When Doves Cry"
8 - "Erotic City"
9 - "Pop Life"
10 - "Strange Relationship" (com Mano Brown)
11 - "Nothing Compares 2 U"
12 - "Let’s Go Crazy"
13 - "Take Me with U"
14 - "Kiss"
15 - "Sometimes It Snows in April"
16 - "Purple Rain"
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