Documentário que será exibido nesta sexta, 23, no festival É Tudo Verdade, em São Paulo, constrói panorama da cena tropicalista no fim dos anos 1960; leia entrevista com o diretor Marcelo Machado
Heitor Augusto Publicado em 23/03/2012, às 11h29 - Atualizado às 11h59
Tropicália não é o primeiro filme a abordar o Tropicalismo, mas tem (e cumpre) a pretensão de montar um amplo mosaico da música dentro do movimento tropicalista, período efervescente, contraditório e contestador que sacudiu o Brasil no fim dos anos 1960. Dirigido por Marcelo Machado, o filme abriu na última quinta-feira, 22, em São Paulo, o festival É Tudo Verdade, mais importante vitrine para o cinema documental na América Latina. A sessão de abertura foi fechada para convidados, mas a projeção que acontecerá neste sexta às 21h no CineSesc é aberta ao público.
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Recheado de imagens raras, Tropicália se destaca por propor um diálogo da cena cultural focada na música. Mas, além disso, tem como virtude as conexões entre “as pessoas na sala de jantar preocupadas em nascer e morrer” que Os Mutantes ironizam em “Panis et Circenses”, o herói intergaláctico do filme Meteorango Kid, os parangolés de Hélio Oiticica e os trabalhos gráficos de Rogério Duarte.
Quebrar a resistência de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e outros nomes do Tropicalismo para falar novamente sobre o assunto foi uma das preocupações do diretor. “Na pesquisa, vi muitas entrevistas e, ao longo dos anos, as respostas se repetiam. Fiquei aterrorizado que o mesmo acontecesse comigo”, afirma Machado à Rolling Stone Brasil.
Vídeos: cinco obras-primas da Tropicália
A primeira medida foi pular as perguntas óbvias – aquelas feitas a Caetano, como “qual foi a inspiração para compor ‘Alegria, Alegria’?”, ou a Gil, como “o que representa o arranjo híbrido de ‘Domingo no Parque’?”. Mergulhar na pesquisa foi a solução para estabelecer outro nível de conversa com os entrevistados. “Para colher os depoimentos, cheguei com uma seleção de imagens que nem mesmo eles sabiam da existência. Montei um telão, projetei os vídeos para eles e fiz as perguntas a partir das reações”, revela o diretor. No filme, vemos Gil empolgado por redescobrir sua imagem quarenta anos mais jovem e Caetano em um momento de rara abertura para comentar o desbunde tropicalista.
Um estrangeiro falando do Tropicalismo
Antes de chegar ao formato final, Tropicália flertou com algumas ideias mirabolantes, como lembra o diretor. “No início, queria trazer um gringo para visitar o Brasil, que funcionaria como um narrador do filme. Fui atrás de músicos internacionais que têm o Tropicalismo como referência”, conta Machado sobre a ideia, que acabou sendo deixada de lado. Na lista estavam Gruff Rhys, do Super Furry Animals, e Sean O'hagan, do High Llamas. “No final, achei que seria como um eclipse, colocar o sol na frente da lua, pois cada um tem seu ego e própria obra.”
Outro caminho cogitado foi o de um filme-acontecimento, mas o projeto ficou pelo caminho por conta dos custos dessa audácia. “Pensei em fechar um lugar, levar jovens músicos e artistas, projetar material de arquivo para ficarmos numa oficina permanente gravando tudo, vivendo um clima tropicalista: tocando, mixando, fazendo mash-up.” Seria a tentativa de fazer algo próximo do Divino Maravilhoso, programa anarco-musical que Fernando Faro dirigiu em 1968 na extinta TV Tupi, que infelizmente não tem registros preservados, já que o próprio jornalista, hoje diretor do programa Ensaio, destruiu as fitas para preservar os protagonistas da repressão da Ditadura Militar.
O processo indicou que a melhor saída seria usar e abusar da pesquisa. É neste aspecto que Tropicália apresenta seu trunfo: imagens raríssimas, entre elas as passagens de Gil e Caetano no festival da Ilha de Wight, na Inglaterra, ensaios com Jards Macalé, entrevista para uma emissora portuguesa de televisão, apresentação na França e a alegre volta dos amigos ao Brasil após o exílio. Sem contar algumas fotografias de uma antológica apresentação de “É Proibido Proibir” (quando Caetano diz ao público “se vocês foram caretas em política como são em estética, nós estamos feitos!”).
A pesquisa de imagens foi encabeçada por Eloá Chouzal e Antonio Venancio, responsáveis por encontrar, para outro trabalho, fotografias consideradas perdidas de um show no Carnegie Hall, em Nova York, com ícones da Bossa Nova. “Visitamos pessoas que tinham vivido em Londres, gente que participou daquele momento, buscamos material doméstico, em Super-8, além de vasculharmos o acervo do nosso parceiro, a TV Record, especialmente os festivais musicais”, finaliza Machado.
O espectador pode conferir o resultado no É Tudo Verdade, que chega à 17ª edição neste ano. Ao todo, serão 80 documentários – 25 deles em pré-estreia mundial – provenientes de 27 países, com destaque para a retrospectiva em homenagem a Eduardo Coutinho e os filmes inéditos dos premiados diretores Werner Herzog e Frederick Wiseman.
:É Tudo Verdade – 17º Festival Internacional de Documentários
De 22 de março a 1º de abril (São Paulo e Rio de Janeiro) e 10 a 15 de abril (Brasília)
Entrada gratuita em todas as salas de cinema
Veja aqui a programação completa.
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