Far From Alaska e The Baggios se destacaram entre os pequenos, no primeiro dia de edição 2014 do festival brasiliense
Lucas Brêda, de Brasília Publicado em 31/08/2014, às 16h02 - Atualizado às 20h34
No fim de semana dos dias 30 e 31 de agosto – ou o mês mais quente e seco do ano do cerrado –, a capital brasileira abriga mais uma edição do Porão do Rock, a 17ª, em 2014. Pelo segundo ano consecutivo no estacionamento do agora novo estádio Mané Garrincha, o primeiro dia do festival revela boa organização e disposição de palcos (por um bom preço, entre R$ 20 e R$ 25), mas traz um line-up pouco arriscado, com domínio do rock pesado e convencional.
Lembre como foi o Porão do Rock de 2013.
O sábado no Porão do Rock teve um início tímido, às 17h, com as banda locais Arandu Arakuaa, Casacasta, Seconds of Noise e Suicídio Coletivo. Pode ter sido culpa da alta temperatura, mas poucas pessoas apareceram para prestigiar os pequenos grupos locais – o que, aliás, é de praxe nas edições recentes do evento.
A primeira movimentação expressiva pôde ser vista um pouco antes das 19h, quando o grupo potiguar Far From Alaska subiu ao palco Chilli Beans (um dos dois maiores do evento). Trazendo uma mistura de guitarras pesadas, sintetizadores, um pouco de blues, e algumas boas esquisitices, o grupo mostrou-se seguro, dando valor aos poucos e barulhentos que os receberam com atenção.
Edição 94 - Acontece: Far From Alaska.
Ao vivo, o Far From Alaska soa ousado, sendo mais agressivo e combativo do que os muitos bumbos duplos e solos de guitarra infinitos, frequentes no começo do evento. “We’re far from Alaska” (“Nós estamos/somos longe do Alaska/Far From Alaska”), dizia uma gravação com a voz da vocalista Emmily Barreto, quando o show chegava ao fim. Ao contrário do que pensam os integrantes, a banda potiguar fez uma apresentação quente e intensa. Talvez estivessem longe demais da capital.
Estrutura
Com uma visão privilegiada das pilastras que erguem o Mané Garrincha, o Porão do Rock é formado por dois grandes palcos adjacentes e um outro menor, localizado por trás das estruturas maiores, a fim de evitar o vazamento de som entre os shows. O festival brasiliense ainda mostra discreta campanha pela sustentabilidade, com barracas e vídeos promovendo o uso de bicicleta, em detrimento dos carros, e mostrando móveis e objetos feitos com material reciclável.
Com cerveja vendida a honestos R$ 6, o PdR ainda oferece opções de alimentação que vão de hambúrgueres (comuns ou de picanha), cachorro-quente, e a famosa – e deliciosa – pizza Dom Bosco. Na loja oficial do evento, camisetas com a marca do festival são maioria – assim como bótons, palhetas e algumas camisetas de banda. Quando a reportagem da Rolling Stone Brasil questionou se discos estavam à venda, a resposta foi: “CD? De ouvir?”. Pode ser um sinal dos tempos, mas tudo que a vendedora pôde oferecer foram duas amostras de modeHuman, CD do Far From Alaska.
Brothers of Brazil
Enquanto o Facada fazia jus ao nome, tocando mais batidas por segundo do que, provavelmente, todas as atrações dos grandes palcos juntas, o Brothers of Brazil dava início à festiva apresentação no palco Chilli Beans. Para compreender o frenesi causado pelos irmãos Suplicy, é preciso lembrar-se de que Supla, antes de baterista ou cantor, é um animador de palco. Pulando e gritando “come on” enquanto o gel segurar seus cabelos para cima, ele comanda a dupla, que tocou de “Samba Around the Clock” e “A Vida Num Segundo”, à balada “On My Way”, além covers diversas, como “Break On Through (To the Other Side)”, do The Doors, encaixada na novíssima “Melodies From Hell”.
Clipe de “Melodies From Hell” foi gravado nos Estados Unidos, assista.
“O som para a gente não está bom, mas quero que se foda”, disse Supla, logo no começo da apresentação. Os problemas com a regulagem dos potentes equipamentos foram constantes no primeiro dia de Porão do Rock 2014.
Jota Quest vs. Ratos de Porão
Em torno de 21h, foi possível ver uma divisão clara no público do evento: uma massa se deslocava ao palco Budweiser (o menor) para assistir ao Ratos de Porão, enquanto outra parte da plateia se posicionava para ver o Jota Quest. Em cima do palco, as duas bandas comprovaram a contradição que representam: enquanto o Jota Quest enfileirava hits, baseados na guitarra limpa e swingada e nas batidas pop, o Ratos de Porão berrava contra tudo e contra todos, exalando a podridão e o imediatismo de três décadas de hardcore.
Crítica: Ratos de Porão - Século Sinistro.
O grupo de João Gordo, aliás, estava particularmente inspirado. Foram 21 faixas, uma atrás da outra, encaixando sucessos e músicas novas com a mesma intensidade. “Quem vai jogar aí?”, indagou o vocalista, apontando para o estádio à frente. “O [time brasiliense] Gama?”. Com outra pergunta – “Quem aí ficou triste com o Brasil perdendo por 7 a 1? – ele puxou “Grande Bosta”, de Século Sinistro (2014), cantando “É campeão! Campeão de fazer filho e dar no pé”. A performance não deixa dúvidas de que o Mané Garrincha é mais um filho abandonado pelo Brasil.
Nação Zumbi
É verdade que o maracatu do Nação Zumbi já não pesa tanto quanto há 20 anos – ou pelos menos metade disso. Com um novo disco, o interessante Nação Zumbi (2014), a banda pernambucana privilegiou os arranjos e a melodia, em comparação aos ritmos e batidas. Isso ficou claro com as performances de “Um Sonho” e “Bala Perdida”, duas – das cinco tocadas – faixas do novo álbum.
Se as novas músicas (com exceção de “Cicatriz”) ainda não cativam a plateia – por falta de peso e, talvez, maior presença de palco – as clássicas da época de Chico Science (“Manguetown”, “Rios, Pontes e Overdrives”) seguem absolutas como grandes momentos do longo show (1h20). O verso “Mas essa daqui me traz uma boa lembrança, não preciso esconder”, de “Cicatriz”, parece determinar o momento vivido pelo Nação Zumbi: mesmo com um grande disco lançado, as canções de Chico Science seguem como cicatrizes vitais ao grupo.
The Baggios
Sedentos para aproveitar cada minuto da meia hora que lhe foi cedida, o duo sergipano teve o show encorpado por uma dupla fazendo os metais. Com o repertório baseado em Sina, mais recente disco deles, Júlio Andrade e Gabriel Carvalho mostraram-se seguros e brilhantes, ainda que praticamente ignorados pelos fãs ardorosos da atração seguinte daquele palco: Pitty.
O show do Baggios só não foi melhor porque, aproximadamente na metade, a qualidade do som, que estava em boas condições, começou a desandar e distorcer o blues pegado e vivo que o duo endossava a cada acorde.
O ressurgimento de Pitty
O universo artístico – principalmente o pop – é cheio de mudanças e renovações. Com a volta ao formato de banda que a projetou, Pitty encara o maior desafio da carreira, até então. Desde que deu um tempo nas guitarras para tocar o projeto indie folk Agridoce, Pitty cresceu. Além de ganhar o respeito de uma parte do público que antes a ignorava, ela parece mais centrada e sincera, se encontrando com uma feminilidade até então discreta, dando mais atenção, inclusive, ao visual.
Quando subiu ao palco para encerrar o primeiro dia de Porão do Rock em 2014, Pitty já era a atração mais esperada. Havia gente dos lados, de trás, na grade, o palco UniCUEB não havia ficado tão cheio no dia. Ela deu início à apresentação com a faixa título do novo disco, "Setevidas", causando um reboliço impressionante.
Quem imaginava que, para priorizar a nova fase, ela iria encher o setlist de músicas novas (foram seis tocadas), tomou um susto logo de cara. Muito provavelmente por ser tratar de um festival, a baiana optou por um show mais conciso, que é uma coletânea de velhos hits tocados por uma nova Pitty. O PdR 2014 vê o ressurgimento da cantora de “Teto de Vidro” e “Equalize”, agora mais séria e preocupada, capaz de colocar, com atitude e personalidade, a guitarra novamente em evidência.
Line-up pouco ousado
Com boa organização e preços honestos, o primeiro dia de Porão do Rock deixou a impressão de certa “preguiça” na escolha do line-up. Apoiado nas muletas que são os dinossauros para o rock brasileiro – o que não é nenhum demérito para eventos de grande porte –, a abertura do PdR 2014 deixou a desejar quanto à oferta de novos sons.
O The Baggios, em horário privilegiado, e o Far From Alaska, foram as únicas atrações do primeiro dia com apego a um rock novo e, de certa forma, diferente. As diversas bandas menores – a maioria de Brasília – pecaram na busca por uma sonoridade tradicional (muitas vezes pesada), chamando pouco a atenção do público, e elevando a possibilidade de cair na vala do esquecimento.
O Porão do Rock segue neste domingo, 31, com shows de Titãs, Raimundos, Cavalera Conspiracy, CJ Ramone, Marcelo D2, Nevilton e Érika Martins, entre outros, acompanhe a cobertura da Rolling Stone Brasil.
Blake Lively se pronuncia sobre acusação de assédio contra Justin Baldoni
Luigi Mangione enfrenta acusações federais de assassinato e perseguição
Prince e The Clash receberão o Grammy pelo conjunto da obra na edição de 2025
Música de Robbie Williams é desqualificada do Oscar por supostas semelhanças com outras canções
Detonautas divulga agenda de shows de 2025; veja
Filho de John Lennon, Julian Lennon é diagnosticado com câncer