O novo trabalho da Rainha do Pop é repleto de momentos marcantes, mas tem também sua parcela de momentos questionáveis
Rob Sheffield, Rolling Stone EUA Publicado em 14/06/2019, às 12h34
Os discos lançados pela Madonna a partir dos anos 2000, podem ser divididos em duas categorias: aqueles que jogam o jogo de forma segura, sem ousar ou buscar inovar, e os que nos fazem pensar "Que porra ela está pensando?". Pela lógica, você pode ser levado a achar que os mais estranhos são os melhores, mas nada é tão simples assim no universo da cantora.
Confessions on a Dancefloor foi resultado de uma execução totalmente segura de uma ideia óbvia — por que uma das lendas da música disco não faz um álbum de disco? — e foi brilhante. Ao mesmo tempo, American Life foi esquisito e também horroroso.
Madame X, por sua vez, é tão, mas tão bizarro que tudo que podemos fazer é observar em estado de choque. "É um tipo estranho de energia", ela canta em "God Control", um raro momento de moderação. No novo trabalho, Madonna mergulha em um caldeirão no qual borbulha uma mistura de vários estilos de pop latino e reggaeton, feito apenas para os fãs da sua vertente louca.
Cada faixa do disco transborda com experimentações que nenhuma outra estrela do pop teria coragem de tentar.
Na provocadora "Medellin", primeiro single revelado, a cantora se junta ao astro colombiano Maluma enquanto aprende o cha-cha-cha com seu novo sotaque tremido. E, pelo que as composições seguintes mostram, tem muito mais material estranho de onde veio essa composição, como uma voz encharcada por um Vocoder cantando o tema de O Quebra-nozes em "Dark Ballet", ou os diversos momento em que canta letras nem um pouco convencionais.
Segundo ela, Madame X é o nome que ganhou de Martha Graham, dançarina e coreógrafa lendária, quando não se comportava nas aulas de dança. E como já deixou claro: "Madame X está de volta às suas raízes, OK? Ela não se importa."
Além de Maluma, o álbum conta também com a participação de Mike Dean (colaborador em Rebel Heart, de 2015), Mirwais Ahmadzai (coprodutor de Music, dos anos 2000, e American Life), Quavo (um terço do grupo de rap Migos), Diplo, Swae Lee e a estrela do pop nacional Anitta.
Apesar do apelo à bizarrice, existem momento realmente marcantes no trabalho, como as faixas "Crave" (na qual ela abandona o sotaque para mergulhar em emoções), "Come Alive" e "Crazy".
Mas, com todo o atrevimento que exala de Madonna, as músicas mais impactantes acabam soterradas, e para chegar a elas, é preciso enfrentar desastres como "Killers Who Are Partying", na qual o tema central é opressão política e traz letras do tipo "I’ll be Islam if Islam is hated / I’ll be Israel if they’re incarcerated".
Em Madame X, a lenda viva do pop tenta atingir uma linguagem musical além de todas com as quais já experimentou. "Came from the Midwest / Then I went to the Far East", ela admite em "Extreme Occident", a balada mais vulnerável e tocante em todo o projeto. E ela sempre foi essa viajante, uma aventureira musical como foi David Bowie, que percorre o mundo todo e não se fixa em nenhum lugar. Suas únicas raízes estão na pista de dança.
No fim das contas, as músicas em Madame X provocam um sentimento de certo modo gratificante, como quem se depara com algo tão louco que chega a questionar se a Madonna está bem. Mas sejamos honestos: é impossível não sentir orgulho de que os nossos astros dos anos 1980 ainda estejam dispostos a agir dessa forma.
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