Disco foi lançado no dia 20 de março de 2020
Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 29/04/2020, às 12h38
O ano era 2011 e o mundo começou a ver as primeiras músicas de Clarice Falcão - então atriz e participante do Porta dos Fundos - surgirem na internet. Atualmente, a cantora se vê em uma situação diferente, seja na carreira dela ou no modo de pensar. “No começo da carreira, eu me protegia muito atrás do humor, e eu acho que tenho tentado me botar um pouco mais vulnerável, ter humor, mas também ter uma tristeza, ter uma coisa de verdade sabe”, disse.
Anos depois, em 2019, com o lançamento do disco Tem Conserto, Clarice apresentou uma mudança no estilo musical dela e adotou uma pegada mais eletrônica. Ela continuou com essa vibe com o EP Eu Me Lembro, lançado em março de 2020.
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Mesmo com todas as mudanças e diferenças dela hoje e de anos atrás, esse novo trabalho representa uma homenagem a Clarice no começo de carreira, como uma forma de “conversar com o passado”, por mais que ela esteja em “uma carreira curta ainda, são mais ou menos 10 anos que eu comecei a compor, mas pra mim foi um longo caminho”.
O último lançamento de Clarice possui cinco faixas ao todo e trouxe um novo conceito na carreira da artista, porque todas as músicas são de trabalhos já feitos por Falcão, nos quais quatro são dos discos Monomania (2013) e Problema Meu (2016) e uma de um vídeo lançado no canal do YouTube da cantora.
Em plena segunda, durante quarentena para conter o avanço do novo coronavírus, Clarice Falcão conversou com a Rolling Stone Brasil sobre o novo lançamento, mudança no estilo de som, covid-19 e até mesmo humor na música.
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O processo de escolha das músicas do Eu Me Lembro ocorreu de forma natural, porque Clarice queria fazer versões das canções antigas para se encaixarem nos shows novos, com a nova pegada do som dela. Então, Falcão decidiu escolher duas de cada disco, Monomania ("O Que Eu Bebi" e "Eu Me Lembro") e Problema Meu ("Irônico" e "Eu Escolhi Você"), e uma mais desconhecida, "Pra Ter O Que Fazer", lançada apenas no YouTube da cantora.
Toda essa produção do disco foi muito trabalhosa para Clarice e equipe, mas eles ficaram muito satisfeitos com o resultado final, assim como o público dela. “Eu fiquei impressionada como foi recebido, eu achava que ia ter muito mais backlash da galera, mas pelo contrário. Para ela, isso aconteceu porque “as pessoas vão crescendo junto também, acho que tem muita gente que curtia aquele som, que hoje em dia curte outro tipo de som”.
Clarice explicou os motivos de ter escolhido cada uma das cinco músicas: “Eu queria muito gravar o Eu Me Lembro, era uma que com certeza eu ia querer. O 'Irônico' é uma versão que eu curto muito de tocar nos shows. O 'Que Eu Bebi' eu gosto muito”, disse a cantora. “E 'Eu Escolhi Você', na verdade, a gente não fazia nos shows, foi uma que a gente falou: ‘pô, vamos tentar fazer essa? Vamos!’, e a gente curtiu, foi muito por quanto a gente gostava das versões”.
O título do EP, que refere-se ao passado, também dialoga com o conceito do EP, tanto que ele é o título de uma música do Monomania.
Mesmo com a mudança do gênero musical, Clarice Falcão buscou procurar manter a alma das cinco músicas do EP e fazer sentido com o conceito de Tem Conserto e Eu Me Lembro. “Eu sempre gostei muito de fazer letra e compor histórias, acho que no fundo, a alma do que eu faço é letra, misturar humor com drama, acho que essa parte continua presente”, comentou.
Uma das premissas de Clarice era olhar para o trabalho antigo e pensar sobre como ela as faria hoje em dia. A cantora, se fizesse hoje em dia o Monomania, por exemplo, o resultado seria muito diferente, porque ela mudou o modo de pensar e agir, ela costumava ser muito fechada. Atualmente, a artista se vê mais aberta para descobrir e explorar novos universos.
Clarice Falcão não se mostra com medo de mudar e da aceitação da mudança, porque se ela começar a pensar em como vão receber as obras dela, esse pensamento irá afetar a arte e, por consequência, a autenticidade das músicas dela. Clarice sempre tenta fazer aquilo genuíno para ela no momento, visto que se ela está “gostando de ouvir essa música, eu quero fazer esse tipo de música, é isso que tá tendo de verdade pra mim”.
Caso ela não fizesse isso, ela agiria de outra forma, e acabaria com algumas consequências para ela: “pô, o disco que mais gostam é o Monomania, então tenho que fazer 'Monomania 2'. Acho que não só eu ia ficar mais infeliz”, assim como os fãs dela.
Ela já trabalha com a linha de ser autêntica desde o disco de 2013. “Eu acho que o Monomania tem uma autenticidade de que aquilo era muito o que eu queria fazer naquela época, e parte da graça dele é isso, é muito de verdade, eu não tava tentando ser uma pessoa que não era”.
Durante esse período maluco de coronavírus, isolamento social e quarentena, Clarice tem buscado não enlouquecer. Em casa, isolada, ela tenta gravar música a distância, assim como aproveita para ter mais contato "com a família, namorado e cachorro".
Além disso, Falcão trabalha em um projeto muito interessante, intitulado “Volta ao Mundo em Quarentena Dias”, que consiste em escolher um lugar do mundo, pesquisar sobre ele e tentar fazer uma comida típica e buscar a história da determinada localização. Para ela, esse é um jeito de sair de casa sem sair de casa.
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Por fim, a comédia é algo muito importante para Clarice Falcão, principalmente no começo da carreira musical dela, porque ela utilizava desse artifício como um escudo para se proteger. Já hoje, Clarice usa disso com menos frequência e mais sensibilidade, porque ela evoluiu, assim como a carreira dela.
Eu Me Lembro veio para mostrar que Clarice continua a apostar na mudança musical dela e mostra não ter medo de apostar em mudanças, mas continua com a alma de todo o trabalho feito até hoje, desde Monomania até Tem Conserto.
Ouça abaixo à "Eu Me Lembro", do novo disco, com participação da Letrux.
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