Apresentações das duas bandas independentes promovem divertida montanha-russa em noite que ainda teve Nação Zumbi, Black Pantera, OQuadro, Joe Silhueta, Nic Dias e Rakta
Pedro Antunes, de Belém* Publicado em 03/11/2019, às 18h01
Por vezes, eram quatro vozes ao mesmo tempo, todos da banda ao microfone, em sincronia perfeita, harmonia de dar arrepio. A vibe era boa. Quem conhecia, cantava. Quem não sabia quem eram os Dingo Bells, dançava.
No centro do palco, Bruna Guimarães, a Brvnks, apelido dela que se tornou nome da banda, usa pouco do auxílio de backing vocals. Ali, em inglês, ela esvazia a raiva interna ao microfone, acompanhada de muita pressão sonora, distorcida, como se compartilhasse do mesmo sentimento que a figura central.
Não poderiam ser mais díspares as bandas Dingo Bells e Brvnks, atrações do meio de noite da 3º data da 14ª edição do festival Se Rasgum, realizado no Espaço Náutico Marine Club, mas curiosamente, complementares.
Nasceram longe, originárias de Rio Grande do Sul e Goiás, e ensopadas de suor à beira do Rio Guamá, as duas bandas foram escaladas na sequência - Dingo Bells às 21h20; Brvnks às 22h - e fizeram um retrato do que é a cena hoje.
Dingle Bells têm dois discos lançados, Maravilhas da Vida Moderna (2015) e Todo Mundo Vai Mudar (2018, realizado com o auxílio do edital Natura Musical). É impressionante notar transformação na visão de mundo dos guris de um disco para o outro. E isso se dá, entre tantas questões, pela virada de década de vida deles - a chegada aos 30 anos faz muita diferença, acreditem.
Já Bruna Guimarães é o que eu mesmo chamei em um texto aqui na Rolling Stone Brasil de heroína improvável do indie da guitarra nacional (leia clicando aqui). Porque Brvnks, a banda, não é sua principal ocupação. Ela tem um trabalho que não tem relação alguma com música; é também uma guitar hero que prefere, em casa, tocar bateria.
E, ainda assim, Brvnks tem um contrato com uma gravadora multinacional (Sony Music), um disco de estreia elogiadíssimo (de nome Morri de Raiva, é claro) e um potencial enorme para crescer nas redes sociais graças à figura da própria Bruna.
As duas bandas não precisam partilhar de um mesmo estilo, possuem vibes completamente opostas, e ainda assim arrastam pessoas para frente dos respectivos palcos. Como yin-yang, a luz e a escuridão estão unidos. Até porque, existe uma melancolia na vozeirona cheia de alma dos Dingo Bells, e nem só de fúria é feito o som da Brvnks.
Entre eles, a unir as duas bandas, está um desalento com a vida moderna, contemporânea, eletrônica, cibernética e virtual. São, ambas, vozes de uma juventude sufocada por informação, por uma política que se mostra cada vez mais desastrosa, por boletos incansáveis e dramas mais corriqueiros, como busões lotados e um trabalho diário que nem sempre é aquele dos nossos sonhos.
O interessante de perceber como as mesmas questões costuram artistas de origens diferentes, sons díspares e propostas dissonantes é que, a partir disso, há motivo para se justificar a existência do termo "cena" - credo, como não gosto dessa palavra. E é algo geracional, de fato.
De certa forma, algo que molda o discurso de toda uma turma, mesmo que o resto todo não se pareça. E, na real, nem precisa, certo?
O sábado, 2, foi o dia mais "parrudo" dessa 14ª edição do Se Rasgum, com nove apresentações. Com início às 20h, com Nic Dias, até o fim da apresentação da Nação Zumbi, de volta ao festival depois de dez anos, com um pequeno atraso no início da performance e pouco volume nos vocais de Jorge Du Peixe (algo corrigido ao longo da apresentação poderosa e deliciosamente sombria).
No miolo, além de Dingo Bells e Brvnks, surgiram shows interessantes, como Rakta, o trio que transformou o Palco Natura Musical em um espaço para um ritual de distorções e vocais espaçados. Poético na experimentação.
Joe Silhueta e Bando Mastodontes são ambos performáticos, embora com propostas nada semelhantes. A primeira, de Brasília, é uma banda que promove uma leve brisa psicodélica, como um vento quente de um verão que existiu no passado, mas hoje foi corrompido por, sei lá, o aquecimento global.
Já o Bando Mastodontes surgiu no teatro e leva essa mesma entrega para um outro palco, o da música, de forma bastante interessante.
OQuadro é pauleira, suor e algumas lágrimas escorridas pelo caminho. E o disco Nêgo Roque (de 2017) deveria ser mais valorizado - e a música que leva o nome do álbum é um hit, sem dúvida. Perfurador de tímpanos, Black Pantera, de Minas Gerais, é visceralidade punk, velocidade e discurso sem qualquer freio.
Dia cheio, dia bom aqui em Belém.
*Pedro Antunes é editor-chefe da Rolling Stone Brasil está no Pará a convite da organização do festival
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