Filme dirigido por Jonathan Glazer, de Reencarnação, estreia no Brasil nesta quinta-feira, 15
Pedro Antunes Publicado em 15/05/2014, às 10h23 - Atualizado em 16/05/2014, às 12h14
Do ponto de vista dos seres acima da humanidade na cadeia alimentar, as grandes cidades não passam de grandes restaurantes self-service. É desta forma que Scarlett Johansson caça homens pelas ruas, estradas e vielas da Escócia, buscando aqueles mais apetitosos para o seu macabro ritual de sedução e captura. Suspense do início ao fim, Sob a Pele, novo filme de Jonathan Glazer, é, contudo, mais do que a chance de ver relances de Scarlett nua e discute as relações humanas através de um olhar sem filtros e julgamentos. A estreia no Brasil é nesta quinta-feira, 15.
Fotos de Scarlett Johansson nua causaram rebuliço na internet. Veja as imagens.
Os diálogos são raros e os ruídos, constantes. A cada nova cena, espera-se pelo pior, mas Glazer parece ter um macabro prazer em manter a expectativa em torno da história escrita pelo holandês Michel Faber no livro homônimo. Scarlett atriz dá vida a uma espécie de alienígena que toma a forma de uma sedutora jovem com sotaque norte-americano de cabelos pretos curtos e lábios bastante vermelhos.
A personagem da atriz, uma predadora voraz, passa quase três quartos do filme atrás do volante de um furgão. Dirige em busca de vítimas com o mesmo perfil: homens solitários, sem família ou namorada. Pessoas que possam desaparecer sem serem notadas. Ela os leva, um a um, para uma casa sinistra, cujo interior não possui nenhuma luz. Enquanto despe-se, caminha para trás, atraindo os homens para a armadilha, um líquido escuro que envolve as presas e as dissolve como suco gástrico no estômago.
Sob a Pele, contudo, evita seguir por caminhos óbvios da dama fatal e parte em busca de uma reflexão sobre a própria humanidade diante de um olhar sem pré-julgamentos. Neste caso, é a visão de alienígena de Scarlett. A chegada de Adam Pearson, ator inglês de 29 anos diagnosticado com neurofibromatose, transforma todo o jogo. Com o rosto coberto por tumores benignos que crescem em tecidos nervosos, ele transforma a própria alienígena, sem que ela perceba. Scarlett elogia as mãos dele e surpreende-se ao saber que nunca tivera namorada. Ela percebe uma bondade e inocência naquele homem que não viu em nenhum outro e o deixa escapar.
A alienígena entra em confronto com a própria humanidade que parece brotar nela. Diante do espelho, descobre mais da pele que veste o corpo não-humano. As cenas de Scarlett nua estão lá, mas o contexto está longe de ser sexual. A personagem engasga-se com um bolo ao tentar ser humana em um restaurante e falha na tentativa de fazer sexo com um homem que a ajudou.
Perdida, se torna uma presa tão frágil como aqueles homens caçados anteriormente. Glazer inverte o jogo de poder, tira o domínio de Scarlett e a coloca perdida e vítima da recém-adquirida humanidade. A trajetória é trágica, embora surpreendente. O mundo machista é discutido em curtas passagens, mas não é o ponto principal. Compaixão e humanidade, sim, dominam a obra. Há a união de crueldade e compaixão a algumas cenas de distância. Sob a Pele e um filme sensorial: antes mesmo de percebemos, somos nós que estamos sob a pele de Scarlett Johansson.
Assista ao trailer:
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