Rodrigo Amarante em Recife. - Flora Pimentel / Divulgação

“Com sorte eu escrevi também a história de mais alguém”, diz Rodrigo Amarante

Músico se aproxima do fim da turnê de Cavalo e, em entrevista exclusiva, diz como se sente como artista solo e não descarta a possibilidade de tocar músicas de outros projetos

Pedro Antunes Publicado em 27/10/2013, às 13h47 - Atualizado às 14h41

Rodrigo Amarante voltou aos palcos brasileiros. Desta vez, desacompanhado de banda – estava com seus músicos, mas sem o conceito de grupo, como era com Los Hermanos, Little Joy e Orquestra Imperial. Sozinho, nu como artista, colocando-se pela primeira vez a frente de um trabalho solo. Cavalo é o disco que empurra a turnê para frente, um trabalho vagaroso, introspectivo.

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E assim é o show da turnê, que mantém a pureza do álbum, ao vivo. Faltam ainda cinco shows para a turnê de Amarante: Florianópolis (31 de outubro, no Teatro CIC), Porto Alegre (2 de novembro, no Opinião), Belo Horizonte (7 e 8 de novembro, no Granfinos) e, por fim, ele é uma das atrações do projeto Circuito Banco do Brasil, no Rio de Janeiro (9 de novembro).

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Os ingressos para as apresentações, como na abertura em São Paulo, esgotaram-se em questão de horas. Até antes mesmo de Cavalo ter tido tempo para ser digerido pelo público. “Fiquei me perguntando por quê eu achava que isso seria muito ruim”, disse ele, mas o fato de ter rodado com este show fora do Brasil - “com quem não sabia quem eu era”, segundo ele -, isso o encheu de energia.

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“No fim eu acho que curti tanto os shows de São Paulo por isso. Como eles foram os primeiros, a grande maioria ainda não conhecia as músicas. Achei que foi uma oportunidade única poder mostrar aquelas músicas em primeira mão, com foi fora do Brasil. Apresentar de corpo presente”, disse Amarante.

Após a apresentação em Recife, no festival Coquetel Molotov, no qual o músico foi uma das principais atrações, na sexta-feira, 18, ele aceitou responder a algumas perguntas da Rolling Stone Brasil. Leia a entrevista a seguir:

Como tem sido a experiência da turnê como um todo, quero dizer, colocar o pé na estrada, mostrar músicas do novo disco, ter a companhia desta banda?

Pra ser sincero tem sido um alívio enorme. Imagine que, pra mim, esse é um momento muito importante. Finalmente tocar essas músicas. Chegar com elas de volta [ao Brasil] e cantar de cara pra quem veio ouvir. É alívio duplo, um começo e um fim. Começo para os que vieram ouvir e eventualmente levam a música em frente e um fim pra mim que posso enfim entregar esse disco, passar adiante, livrar-me dele por assim dizer. Estou mesmo muito feliz de encontrar esse pessoal e cantar essas músicas pra eles. E a intensidade desse momento aumenta muito porque esse é um show delicado, cheio de dinâmica, um desafio. É uma coisa punk se você pensar em tocar em um violão de criança uma toada em 6/8 com coro masculino e querer vencer os copos do bar, mas é a experiência que eu quis fazer, o desafio a que me propus. Tocar menos pra ouvir mais, tentar trazer para perto em vez de empurrar contra a parede. E está sendo incrível, uma experiência nova pra mim, cantar e sentir o tamanho da sala, ver as pessoas ouvindo, caçar o silêncio.

Quase todo o disco mostra você diante deste "duplo", de si, da solitude, como você disse na entrevista para a Rolling Stone Brasil. Foi fácil se adaptar às pessoas abraçando estas músicas tão íntimas?

É uma surpresa ver já a gente contando baixinho essas músicas tão novas, um prêmio, mas eu não sinto que essas músicas sejam mais íntimas do que as anteriores, pelo menos não as que fiz com o Los Hermanos. Pode ser que você veja diferente de mim - e aí tudo bem -, mas eu acho que a diferença é que desta vez eu falei e escrevi sobre elas, sobre o tema, o lugar e o tempo em que foram feitas, então tudo parece mais real, mais conexo. Talvez seja a nudez dos arranjos que as faça mais assim ou o fato de estarem lá todas juntas, feitas por mim. De toda forma esses temas também já existiam antes. O "duplo", por exemplo, já tinha sido apresentado em “O Velho e O Moço” e a viagem tinha também sido anunciada em “Primeiro Andar” - essa ainda uma profecia porque eu não imaginava naquela época que iria sair do Brasil. De qualquer forma, este disco é a continuação de alguma coisa que vinha se manifestando há tempos, esse Cavalo que pelo visto escreve pelo que escrevo, um barato. Agora, é claro, eu quero mais é que as pessoas abracem as músicas, que as levem como suas, com sorte eu escrevi também a história de mais alguém.

Os ingressos para os shows desta turnê foram vendidos, em sua maioria, antes mesmo de que o disco ficasse disponível para audição. Isso refletiu de forma mais positiva ou negativa nos shows?

Isso eu não sei. Também fiquei me perguntando por que eu achava que isso seria muito ruim já que esses que compraram ingresso antecipado não sabiam o que iam ver. Mas uma coisa me confortava: o fato de eu já ter feito esse show muitas vezes fora do Brasil, neste ano, e de já se poder ver na internet como seria o clima, os arranjos. Claro que nem todo mundo que comprou [os ingressos] sabia disso, então, não era garantia de sucesso. Mas eu já subi ao palco em tantos países onde ninguém sabe nem onde é o Brasil e fiz esse mesmo show. Apresentar essas canções pra quem nunca ouviu falar delas (ou, naquele caso, de mim) não era coisa nova e tinha dado muito certo fora daqui. No fim eu acho que curti tanto os shows de São Paulo por isso. Como eles foram os primeiros, a grande maioria ainda não conhecia as músicas. Achei que foi uma oportunidade única poder mostrar aquelas músicas em primeira mão, com foi fora do Brasil. Apresentar de corpo presente.

No show de Recife, ouvi pessoas pedindo algumas músicas e você interagiu bem com elas. Como lidar, como artista, com essas expectativas?

Não me chateia muito ouvir esses pedidos porque sei que, quando isso [o pedido] vem é de um lugar de amor ao que eu já escrevi. E sei que essas pessoas não querem me chatear ou me magoar. Pelo contrário. Eu tomo esses pedidos como homenagens, menções às músicas que as trouxeram ali. Mas eu vim apresentar esse novo disco e julguei que ele tem que ser mostrado em separado, sem interferências das músicas das outras bandas. É uma apresentação de um som, outro som, então não dá pra misturar. Pelo menos não ainda. Eu sei o preço que isso tem e acho justo pagar esse preço. Não me chateio porque sei o que quero. A expectativa, esse monstro que se cria pra manter a criança na cama, não me assusta porque é senão o cenário onde eu vou apresentar essa nova ideia, tem também um papel no impacto dessa ideia. Se não tivesse monstro debaixo da cama, fugir pela janela no meio da noite para ver a lua não teria tanta graça. Saravá!

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