Um debate na indústria cultural tem considerado a categoria "urban" como pejorativa para as diversas culturas negras - entenda a história por trás do termo e a visão de diferentes pesquisadores sobre o assunto
Camilla Millan I @camillamillan Publicado em 29/06/2020, às 07h00
Há algumas semanas, um debate importante tem ganhado as redes sociais: a problemática da palavra “urban”, ou “urbana”, no Brasil. Apesar de as discussões acerca dos usos e significados do termo serem antigas, o movimento Black Lives Matter (ou Vidas Negras Importam, em português) vem sendo um grande responsável pelo levantamento de debates acerca de práticas racistas.
Após a morte de George Floyd, homem negro assassinado por policiais brancos nos EUA, o movimento Black Lives Matter se posicionou contra a violência direcionada às pessoas negras, reivindicando o fim de uma desigualdade racial institucionalizada.
Os protestos se espalharam pelo mundo e as discussões também foram levadas para o aspecto cultural. Com a repercussão pelo fim de práticas racistas, o Grammy anunciou uma mudança nas categorias de premiações: O Melhor Álbum Urbano Contemporâneo passava a se chamar Melhor Álbum de R&B Progressivo. Na dança, isso também se manifestou pela discussão sobre o abandono do conceito “danças urbanas”, termo utilizado há décadas nos Estados Unidos e, inclusive, no Brasil.
Isso porque, “urban” passou a ser entendida como uma palavra pejorativa, responsável por categorizar de forma excludente diversos artistas negros. Para compreender sobre as problemáticas da palavra e as suas implicações, conversei com diversos profissionais e pesquisadores da dança e da música - e a discussão é bem mais complexa do que se imagina. Segue o fio:
Historicamente, o termo “urban contemporary” começou a ser utilizado em 1974 por Frankie Crocker, famoso DJ de rádio de Nova York, nos Estados Unidos. O termo descrevia uma mistura de diversos estilos musicais feitos por negros que tocavam no programa de rádio, como o soul, o disco e o funk.
Com o tempo, o termo foi ressignificado pejorativamente. “Assim como o termo negro no Brasil foi ressignificado como algo positivo, o termo 'urban' foi ressignificado, mas na via contrária. Foi pegar um termo que nasceu positivo e torná-lo negativo trazendo uma desqualificação, de colocar em um lugar de subalternidade, de menosprezo”, explicou Djenane Vieira.
Mulher negra ativista, Vieira é licenciada e Mestre em Música pela UFBA, Doutoranda em Educação pela USP, pesquisadora da cultura Hip Hop, professora da Educação Básica, pianista e regente.
Para entender a construção dessa palavra de forma pejorativa é preciso ir mais para trás na história. Antes de ser um termo utilizado nas rádios por Frankie Crocker, a palavra “urban” vinha do contexto de revitalização urbana, como explicou Henrique Bianchini, que se descreve como professor e pesquisador curioso pelas culturas afro-diaspóricas dos EUA:
“Uma das ações que foram tomadas nos Estados Unidos em 1949 foi chamada de The Housing Act of Urban Renewal Program”. Algumas das medidas realizadas pela ação consistiam em programas de desapropriação de favelas associados a projetos de "renovação" urbana em cidades norte-americanas.
“O termo usado para urban renewal já é o primeiro momento em que a ideia de urbano começa a ser relacionada com os negros porque esses lugares afetados pela revitalização urbana eram lugares de moradia majoritariamente de negros”, explicou Bianchini.
Dessa forma, iniciou-se a relação entre urban e a comunidade negra. Com Frankie Crocker, como já foi explicado, o termo foi inserido no contexto das diversas produções culturais feitas por negros. No entanto, de um conceito utilizado de e para negros, “urban” passou a ser uma forma de falar sobre os negros - utilizado por pessoas brancas.
Henrique Bianchini explicou sobre esse momento de mudança: “A mídia passou a chamar aquilo que acontecia de cultura urbana. E daí pra frente já não teve volta. Toda a estética ligada a estas pessoas que frequentavam esses lugares… A cultura hip hop, grande parte da comunidade negra e todos esses produtos relacionados a isso nunca mais deixaram de ser entendidos por algumas entidades, empresa e mídia como urbano - e até hoje isso é uma realidade”.
A discussão extremamente atual e relevante também tem que ser entendida como parte de uma estrutura replicada há muito tempo. O fator pejorativo carregado pela palavra ao se caracterizar as produções das diversas culturas negras não é algo inédito ou pontual na história.
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Há muito tempo, foi renegado ao negro a possibilidade de se autonomear e nomear as suas próprias - e diversas - manifestações. Marcos Santos, etnomusicólogo que pesquisa as musicalidades negras da diáspora, entende esse movimento de não dar crédito e protagonismo ao negro como uma prática muito antiga.
“Nós negros nunca tivemos possibilidade de nomear as coisas. Retornando um pouco na história, percebemos que nos portos de onde os navios negreiros chegavam, uma das primeiras coisas que aconteciam quando uma pessoa negra era comercializada era a mudança do seu nome. A pessoa era batizada em nome da igreja católica e ganhava um novo nome geralmente atribuído ao senhor que estava a comprando. O ‘dos Santos’, ‘da Silva’, enfim. Eram sobrenomes herdados pelos seus senhores, e isso não deixou de acontecer dentro do contexto das produções culturais”, explicou o pesquisador.
O uso da palavra “urban” carrega esse apagamento das origens, como explicou Hugo Oliveira, artista da dança, pesquisador, Gestor Cultural e Doutorando em Comunicação Social pela UERJ.
“O termo ‘urban’ foi estrategicamente utilizado para escamotear as culturas negras. A problemática dele, ao meu ver, se dá porque esse grande guarda-chuva não dá conta da origem de quem são os personagens que construíram essa dança ou aquela música”, falou o pesquisador.
Segundo Oliveira, trata-se de uma apropriação cultural em que um grupo é beneficiado - e não se trata das várias comunidades negras. “Rodney William, um autor que explica sobre apropriação cultural, fala que ela se dá quando não há trocas. Porque não existe uma cultura pura, limpa, sem influência de alguma outra. A gente vive nessa relação social, porém o problema se dá quando a gente percebe que só um lado se beneficia com o que foi a construção de um grupo social historicamente usado. Há uma prática de estelionato, de você tirar daquele grupo social aquilo que por direito é dele. Isso causa apagamento”.
Na música, diversas práticas realizadas por gravadoras, produtoras e premiações fizeram músicos negros serem postos em segundo plano e não receberem os créditos de suas canções.
“Urban” é apenas uma terminologia e uma prática quando se trata de uma indústria cultural excludente. O termo representa toda uma cultura de apagamento das origens e de segregação - sinais de um racismo sofisticado, mas definitivamente ainda presente de forma institucionalizada e apoiada no aspecto mercadológico.
A falta de artistas negros premiados da música é uma questão de debate há muito tempo. “Além das discussões mais efervescentes com a história de Kanye West na MTV, não foi uma ou duas vezes que artistas negros simplesmente por serem negros não foram premiados em uma categoria que deveriam ser premiados. Fica realmente muito difícil da gente olhar para esse termo de forma amigável”, disse Hugo Oliveira.
O pesquisador se referiu ao MTV Video Music Awards realizado em 2009, no qual Kanye West interrompeu o discurso de Taylor Swift para dizer que quem merecia o prêmio de Melhor Vídeo Feminino era Beyoncé, que estava disputando na mesma categoria com "Single Ladies".
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Segundo Djenane Vieira, a cantora Beyoncé é um grande exemplo de como “a produção musical negra e latina continua sempre em segundo plano, renegada a uma música menor”.
“Beyoncé já ganhou vários prêmios na categoria urban, mas por que ela nunca ganhou na categoria álbum do ano? Sendo que Lemonade foi o álbum do ano. Político, tremendamente bem produzido”, refletiu a pesquisadora.
Sofrendo descrédito e sendo excluídos da grande indústria cultural da música, diversos músicos negros ocuparam o que Djenane Vieira considerou como “os lugares de não-estar”. No Brasil, esses lugares ainda são mantidos por meio de um racismo sofisticado no qual põe-se em dúvida a capacidade do sujeito negro ocupar um cargo de poder.
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Segundo Djenane Vieira, no auge da segregação nos Estados Unidos, a indústria musical era um lugar no qual, em alguns casos, não se dava crédito aos negros: “Os artistas brancos sempre se alimentaram da produção de artistas negros. Há questões por exemplo de cantoras negras terem que se apresentar atrás da cortina porque elas eram negras, mas a voz era delas”.
O etnomusicólogo Marcos Santos também vê a problemática dos termos para além de premiações, mas na estrutura da indústria cultural: “Todos esses nomes foram dados pelo colonizador. Ao longo do desenvolvimento da indústria fonográfica esses termos foram adaptados ao interesse, ao interesse de quem poderia comprar, e quem seria? As pessoas brancas”.
“O que antes era um extrativismo braçal e corporal passa ser intelectual. As grandes gravadoras e produtoras começaram a extrair esse produto artístico nomeando, rotulando e vendendo conforme lhe era conveniente. No contexto do que se chamou de R&B, soul music, urban music…Todas esas nomenclaturas passam por um crivo de quem não produz de fato, mas de quem gerencia. E a gente sabe quem historicamente gerencia essa máquina de fazer dinheiro: as pessoas brancas”, disse Santos.
Na dança, o uso do termo “danças urbanas” trouxe diferentes implicações - e a discussão se relaciona com o conceito “street dance”. Para Henrique Bianchini, apesar das diferenças, ambos os conceitos possuem algumas problemáticas em comum.
“Qual é o problema? A omissão do crédito. A ideia de apagamento ou esvaziamento cultural pode ser um resultado do uso de ambos os termos, já que nenhum deles dá crédito à cultura que deu origem a isso. Quando falo ‘urbano’ estou falando que é de cidade, porém cidade não dá crédito, ela omite informação sobre de quem e de onde veio. ‘Street’ traz consigo o mesmo problema, com o agravante de ainda ter a possibilidade de interpretação literal ‘da rua’”, disse o professor e pesquisador.
Diversas danças, inseridas por muito tempo nesse mesmo pacote de “urbanas” ou “de rua”, possuem diferentes origens que não são consideradas quando há a utilização dos termos.
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“Nem todas tem relação direta com chão, rua, ou asfalto. Esse agravante da interpretação literal é o que aconteceu no Brasil e continua acontecendo em várias partes do mundo. Pessoas que entendem que dançamos na rua - e não necessariamente é verdade. Porém, por um outro lado, street não tem este histórico de ser uma palavra que é usada como substituto para tudo aquilo que vem de comunidades afro-diaspóricas. Então não carrega consigo esse estigma do racismo estrutural como carrega a palavra urban nos EUA”, disse Bianchini.
Como os termos acabam sendo utilizados para se tratar de diversas danças, outra problemática, segundo Bianchini, é o apagamento de várias manifestações e origens diferentes: “É um termo guarda-chuva, também chamado de hiperônimo, que engloba várias coisas. Isso é problemático quando você junta todas essas danças porque você ignora um monte de peculiaridades, diferenças históricas, culturais e geográficas”.
Para o artista e pesquisador Hugo Oliveira, a tradução dos termos foi realizada de uma maneira incorreta: “A tradução de street dance para dança de rua deixa uma lacuna. Lá [nos Estados Unidos], street dance é tido como dança popular, feita de forma social, não necessariamente na rua. O hip hop, por exemplo, é uma dança de club, o locking e popping também. A dança que de fato foi feita na rua seria o breaking, então isso causou durante um tempo esse lastro de informação que é decorrente das pessoas que participam dessa cultura”.
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“É o momento de parar, olhar, refletir e falar ‘caramba, se machuca de alguma forma meus irmãos norte-americanos que são pioneiros da cultura...’ A discussão da indústria sobre a palavra urban vem causando muitos desgastes e complicações, então é melhor parar para começar outro termo. Acho que é um momento oportuno de fazer uma revisão sobre o termo urban, pela abordagem no debate decolonial, porque vai possibilitar dar às devidas modalidades o seu valor histórico, sociológico e antropológico da produção de cada pioneiro daquela dança”, continuou Oliveira.
A solução discutida seria chamar as danças pelos próprios nomes, dando valor para as peculiaridades de cada uma. No entanto, Henrique Bianchini também falou sobre um termo outro termo possível que pode ser utilizado principalmente por "pessoas que não fazem parte do grupo que deu origem, pra quem não faz parte da tradição”.
“O termo que faz mais sentido que venho sugerindo a partir da minha vivência com o meu mestre Moncell Durden é 'Danças Vernaculares Afro-Estadunidenses'. É um termo que sugiro a partir do que aprendo com essas pessoas. É grande, não é nada comercial, não cabe no flyer… problema? Não é para ser comercial desde o princípio, não é algo que tem esse dever. Ninguém falou quando criou que tem que ter um nome que caiba no flyer, algo comercial. A ideia não é essa, a ideia é ao se construir uma frase dar informações sobre crédito. Isso é importante”, explicou Bianchini.
Segundo o pesquisador, o termo é possível, “mas é preciso lembrar sempre que ele fala sobre muitas danças”. Mesmo assim, de acordo com Bianchini, há alguns aspectos positivos no uso do conceito: "Se alguém pergunta o que são essas danças e eu falo ‘são danças urbanas’, ok, mas é diferente de falar ‘são danças negras dos EUA’. Estou dando um país e uma cultura de origem. Essa pessoa não sabe nada até agora. Nesse momento ela já sabe duas coisas muito importantes. Já relaciona o que ela está vendo com grupos sociais específicos. O problema do nome ou o problema que o nome pode resolver é justamente isso”.
“A branquitude não abre mão de seus privilégios de maneira tão benevolente. De alguma forma, isso estava prejudicando a indústria da música. Para que chegasse ao ponto do capital chegar e falar ‘a gente não vai suar mais’, é porque isso tava incorrendo diretamente”, refletiu Hugo Oliveira, pesquisador e artista da dança.
De fato, a discussão sobre a mudança do termo é relevante, mas será que isso representa uma transformação estrutural na forma das premiações e nas práticas da indústria cultural para com os artistas negros?
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Para o etnomusicólogo Marcos Santos, a mudança precisa ser percebida por um olhar crítico: “Tudo isso me remete à uma percepção da produção, a recepção musical como um fenômeno de racialização sonora. Na medida que você cunha determinado termo ou palavras, cria-se imagens a respeito do que ela significa sonora e visualmente. Se você pensa no soul music e urban music o que vai vir a sua mente? Obviamente pessoas negras tocando músicas pra dançar. Cada termo traz um referencial imagético, então a questão é a quem interessa mudar ou não, porque a referência estética e subjetiva vai permanecer”.
Segundo Santos, a questão mercadológica também precisa ser levada em consideração: “O que me parece estar relacionado à política do Grammy de tentar mudar isso é atingir outros públicos no sentido de consumidores. Porque o dinheiro, o lucro, ao final de tudo, é o ponto chave da questão. Mudar ou não mudar, pra mim me interessa saber quem vai ser o beneficiado.”
Djenane Vieira acredita que uma mudança na categorização não é suficiente, ela precisa ser acompanhada por “uma mudança de atitude”: “Se muda o termo, mas continua as categorizações, as separações, os estigmas… Se muda o termo, mas a produção musical negra e latina continuar sempre em segundo plano renegada a uma música menor que não seja capaz de estar alçada no mesmo patamar de artistas brancos do pop… Se um artista negro não pode estar nessa mesma condição não adianta mudar termo, e sim mudar a atitude”.
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O termo “urban” surgiu e foi ressignificado nos Estados Unidos. Apesar de o Brasil utilizar o conceito, a discussão acerca do aspecto pejorativo iniciou na América do Norte, local no qual o conceito realmente começou a ser utilizado.
Apesar da discussão ter origem nos Estados Unidos, há outras terminologias no Brasil tão problemáticas quanto. São conceitos utilizados por brancos que impossibilitaram o entendimento da heterogeneidade de diversas culturas negras.
“Os rótulos musicais, se pensarmos da década de 80 para cá, buscaram privilegiar da forma mais evidente as pessoa não negras, os brancos. Um exemplo é o axé music. Foi um termo igualmente cunhado por uma pessoa branca, um publicitário - e para você recordar de uma figura negra é muito difícil. Você lembra da Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Bell Marques”, disse o etnomusicólogo Marcos Santos.
Djenane Vieira também comentou sobre o Axé Music: "Por que Margareth Menezes não tem o mesmo status de uma Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Daniela Mercury - que foi considerada a rainha da axé music sendo que ela não foi a pioneira? Essa música que estava explodindo na Bahia nos ano 80 precisava de um representante que cumprisse o padrão midiático do sudeste, e por que a Margareth Menezes e outras cantoras de pele retinta não tiveram esse espaço? Porque a Daniela Mercury surgiu com ‘A cor dessa cidade sou eu’? Sendo que o axé tem origem em Salvador, a cidade mais negra fora da África? Por que ela diz ‘o canto dessa cidade é meu’? Entra a questão de raça. Cantoras com maiores projeções e contratos milionários são brancas”.
Além do axé music, Santos explicou sobre outros termos brasileiros problemáticos: “No Brasil, um exemplo forte é o termo 'batuque'. Ele foi cunhado no final do séc 18 ele até o século 19 serviu para designar toda e qualquer prática musical, coreográfica e religiosa das populações negras. Entenda populações negras como milhões de pessoas vindas de diversas etnias. Ou seja, batuque, por muito tempo, foi esse grande guarda-chuva, um termo homogeneizador que agrupou todas essas linguagens artísticas musicais e práticas de crença. Ao longo do tempo vinham uns termos super genéricos, como samba”.
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Para Hugo Oliveira, a questão também aborda a Bossa Nova: "O termo bossa vem de uma gíria social que era 'fulano está dançando bem, ele tem uma bossa diferente'. Aí quando não se tinha um termo para utilizar naquela época, eles botaram que a música que era feita na zona sul ela era a bossa nova. Mas ela vem do corriqueiro, do uso cotidiano, oridinário. Então o que faz o erudito, quem legitima se não, a classe social. Porque a bossa nova vai estar em um lugar de erudição e o funk em um lugar popular, como se fosse por menor? Não, eles estão no mesmo lugar. Isso é cultura. Ela é tão erudita, complexa e sofisticada quanto o que você acha que é mais sofisticado entre as culturas".
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