A religião criada por L. Ron Hubbard alcançou popularidade entre os famosos - e não é mera coincidência
Camilla Millan I @camillamillan Publicado em 01/06/2020, às 07h00
Fundada em 1950 por L. Ron Hubbard, escritor de livros científicos, a Cientologia conquistou Hollywood e astros famosos, como Tom Cruise e John Travolta. Nos Estados Unidos, é considerada religião, em outros países (como no Brasil), seita - mas a pluralidade não apaga o fato de ser extremamente misteriosa.
A Cientologia é guiada por alguns fundamentos: a premissa de criar uma civilização sem insanidade, criminosos ou guerra na qual há a possibilidade de o indivíduo prosperar livre em uma natureza espiritual elevada - tudo isso envolto em segredos, abusos físicos, psicológicos e confissões.
Baseada nos conceitos de Hubbard, a Cientologia prega que as pessoas são seres imortais esquecidos da verdadeira natureza. Assim, a igreja possuiu um método para reabilitar de forma psiquiátrica e espiritual os integrantes da crença: a Auditoria. Ela se trata de um aconselhamento no qual praticantes precisam relembrar eventos traumáticos para acabar com os efeitos limitantes dos mesmos.
Uma religião de estudo na qual os integrantes precisam aprender as doutrinas, consideradas tão importantes quanto leis científicas, a Cientologia promete que, quando aplicada, ajudará a pessoa a melhorar de vida. No entanto, os materiais de estudo e cursos são possíveis apenas em troca de doações e muito dinheiro - principalmente de famosos.
Além de mistérios e muitas controvérsias, a “ciência da mente” criada por Hubbard é publicamente conhecida por gastar milhões de dólares para investigar, ameaçar, chantagear e processar indivíduos considerados como ameaças para a crença, popularidade e arrecadação monetária da Cientologia.
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Inclusive, há declarações que Hubbard, fundador da crença, acreditava que a criação de uma religião seria uma forma de enriquecer facilmente.
Apesar dos poucos fiéis - estima-se que haja 50 mil ao redor do mundo, segundo documentário de 2015 Going Clear: Scientology and the Prison of Belief - a popularidade da religião é relacionada diretamente à estratégia de aproximação das celebridades.
Em 1955, o escritor L. Ron Hubbard previu que o ponto forte para a popularidade da igreja seriam os famosos, principalmente de Hollywood. Por isso, o fundador da Cientologia criou o Projeto Celebridades.
Criou-se uma lista com 63 famosos de interesse de Ron Hubbard para fazerem parte da religião - e incluiu nomes como Walt Disney, Ernest Hemingway, Bing Crosby, Pablo Picasso e Orson Welles, de acordo com matéria do Telegraph UK.
A hipótese de Hubbard estava correta. As celebridades se interessaram pelos fundamentos da Cientologia - e o principal motivo é a forma como a religião(ou seita) dá importância aos famosos. Segundo o criador, as celebridades estariam em um nível espiritual de atividade potencialmente mais alto - podendo ser bastante úteis.
Com a aproximação de famosos com a Cientologia na década de 1950, os fundamentos se tornaram “pop”, cultivando novos fiéis em Hollywood. A atriz Gloria Swanson, indicada para o Oscar pela atuação em Crepúsculo dos Deuses, foi uma das primeiras a flertar com a religião - e não parou por aí.
Com o sucesso da empreitada, “Centros de Celebridades” foram criados exclusivamente para os astros - e o maior deles está localizado em Hollywood. No local, ao invés de cultos, o exercício da religião está ligado ao estudo. De acordo com o site Segredos do Mundo, os locais possuem salas nas quais os adeptos devem aprender mais sobre os fundamentos.
Apesar de haver centros destinados aos cidadãos comuns, os locais para as celebridades ganharam destaque, uma vez que também são espaços para festas luxuosas regadas à álcool, fé e muitos famosos.
Para os astros de Hollywood, a importância deles para a cultura e para o mundo é finalmente valorizada por meio da Cientologia, como explicou William Shaw em matéria do Telegraph UK, em 2008.
“A noção de celebridade na Cientologia também ficou imbuída de uma estranha santidade. Talvez uma das razões pelas quais músicos e astros de cinema gostam da Cientologia seja pois esse é um dos últimos lugares em que a noção de celebridade ainda é, curiosamente, reverenciada”, explicou o jornalista.
Apesar de já serem celebridades e ganharem muito dinheiro, alguns astros querem mais: uma religião para inflar ainda mais o próprio ego. Talvez seja este o motivo de Hollywood ter aderido à Cientologia de maneira tão avassaladora.
Tom Cruise, Nancy Cartwright - voz de Bart Simpson e uma das maiores doadoras da Cientologia -, John Travolta, Kelly Preston, o cantor Isaac Hayes, a premiada atriz Kirstie Alley, o músico Beck Hansen, a cantora e filha de Elvis Presley Lisa Marie Presley, a estrela de The Handmaid’s Tale Elisabeth Moss, o ator em Homem-Formiga Michael Peña - todos atraídos pela crença e responsáveis por parte da popularidade da igreja.
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No entanto, não são apenas maravilhas que a Cientologia faz na vida de famosos.
Apesar de vários famosos indicarem como a Cientologia foi boa para a vida deles, a igreja protagoniza uma série de controvérsias, inclusive sendo acusada de abusar de membros da religião, além de estar envolvida em denúncias de fraude e mortes.
A atriz Kelly Preston alega que se tornou adepta à Cientologia quando tratava o vício em cocaína na Narconon International, um programa de tratamento de drogas afiliado à igreja. A organização foi formada em 1966 pelo cientologista William Benitez, com a ajuda de Hubbard, e foi incorporada em 1970.
No entanto, a Narconon não é aceita pela sociedade médica. Os métodos do programa são descritos como "medicamente inseguros" e "fraude médica" por especialistas acadêmicos e médicos que indicam "erros factuais em conceitos básicos como efeitos físicos e mentais e dependência".
A Narconon definitivamente não pensa apenas no bem-estar e recuperação dos indivíduos. Hubbard, criador da Cientologia, já explicou a importância da reabilitação como meio de trazer popularidade: “A rápida disseminação pode ser alcançada pela reabilitação de celebridades que estão além ou se aproximando do ponto culminante”.
No entanto, a Narconon, cuja sede está localizada em Hollywood, contém uma série de controvérsias incluindo diversas mortes em centros ao redor do mundo - muitas relacionadas à falta de funcionários médicos. Além disso, há instalações com denúncias de violações sanitárias, falta de cama e roupas adequadas, assim como ameaças a vizinhos.
Uma das controvérsias relacionadas à Cientologia é a política de desligamento na qual membros são encorajados a cortar relações com indivíduos - desde familiares a amigos - que não concordam com a crença e os fundamentos dela.
Além disso, a prática de chantagear integrantes da igreja com as próprias confissões e fatos pessoais também foi levada a público. Segundo rumores, alguns famosos permanecem na religião justamente por não quererem ter os próprios segredos divulgados.
No documentário Going Clear: Scientology and the Prison of Belief, um ex-funcionário da igreja de Cientologia afirmou que o casamento de Tom Cruise e Nicole Kidman não era visto com bons olhos por ela ser criada como católica e ter pai psicólogo - ciência inimiga da crença de Hubbard.
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Segundo o ex-funcionário, a igreja teria investigado Kidman e interceptado o telefone dela - ações que resultaram no divórcio com Cruise, em 2000. Em declaração para o The Daily Beast, Leah Remini - atriz, ex-integrante da organização e atual ativista anti-Cientologia - diz que o astro não seria tão inocente. Segundo ela, Tom Cruise aplica punições físicas em membros a mando do atual líder da organização, David Miscavige.
Além disso, o documentário Going Clear: Scientology and the Prison of Belief falou sobre John Travolta ser um dos astros chantageados pela Cientologia. Na produção, alega-se que o astro não deixaria a igreja por ter medo de revelarem detalhes pessoais.
Tais mistérios, segredos e chantagens são fatores importantes para a inserção da crença de Hubbard nas produções audiovisuais. Diversos filmes abordam a Cientologia - assim como todas as polêmicas nas quais ela está envolvida.
Os mistérios da Cientologia atraíram a atenção de muitas pessoas, principalmente após ex-integrantes da organização tornarem públicos episódios de violência e da conhecida "lavagem cerebral" pela qual a religião é responsabilizada.
Além disso, o interesse de famosos astros de Hollywood na igreja da Cientologia possibilitou que o tema fosse tratado nas produções, além de fazer muitos pesquisadores destinarem estudos e teses à polêmica crença criada por L. Ron Hubbard.
O filme de 2000 foi produzido e estrelado por John Travolta e é baseado no livro Battlefield Earth: A Saga ofthe year 3000, escrito pelo criador da Cientologia L. Ron Hubbard. O longa, financiado por uma produtora independente devido ao desinteresse pela ligação com a religião, foi um fracasso, e recebeu diversas indicações ao Framboesa de Ouro de pior filme, diretor e outras categorias.
O drama de 2012 foi um sucesso, e se baseou, em parte, pelo fundador da Cientologia L. Ron Hubbard. A produção conta a história de um veterano de guerra que volta à sociedade e conhece o líder de um movimento religioso conhecido como "A Causa". O filme incluiu a prática da Auditoria, chamada como "Processamento" na história fictícia. Estrelado por Joaquin Phoenix, Amy Adams e Phillip Seymour Hoffman, O Mestre receeu três indicações ao Oscar.
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O documentário de 2015 foi o responsável por divulgar entrevistas com ex-integrantes e tornar públicas diversas atitudes e práticas polêmicas e ilegais da Cientologia. Dirigido por Alex Gibney, o filme foi baseado no best-seller homônimo de não ficcção lançado em 2013 pelo autor Lawrence Wright. A produção foi muito elogiada por mostrar com detalhes o "inquietante relato de lavagem cerebral, ganância e mau uso de poder nojento", segundo o Screen Daily.
No entanto, a Igreja da Cientologia não reagiu bem a produção, usando espaços publicitários do The New York Times e Los Angeles Times para denunciar o documentário. Inclusive, segundo o diretor Alex Gibney, ex-integrantes da organização que apareceram no longa foram investigados e ameaçados pela igreja.
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A produção recebeu diversos prêmios, como o Emmy de Melhor Documentário e Melhor Roteiro em Programa de Não-Ficção .
A produção, também lançada em 2015, é um documentário que tenta abordar os mistérios e segredos por trás da Cientologia. O jornalista Louis Theroux se juntou ao diretor John Dower em uma abordagem cômica com muita ironia. A produção ganhou o prêmio NME de Melhor Filme.
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