Estudos mostram como coronavírus pode causar danos neurológicos após a doença
Elizabeth Yuko | Rolling Stone EUA. Tradução: Marina Sakai | @marinasakai_ (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 25/03/2021, às 17h29
No começo da pandemia de coronavírus, a Covid-19 era vista apenas como uma doença respiratória. Contudo, o neurologista Igor Koralnik começou a enxergar uma nova categoria de pacientes em seu consultório. Todos dividiam aspectos comuns: tinham problemas neurológicos e haviam contraído Covid-19.
Os pacientes descreviam sensações como dores de cabeça, tontura, dificuldade de concentração, problemas de memória e, mais frequentemente, uma “névoa cerebral.” Além disso, passaram alguns dias ou semanas sofrendo com a doença, mas os sintomas nunca chegaram a ser fortes o suficiente para ir ao médico.
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A condição foi chamada de long-Covid — ou Covid longa, em tradução livre — e os pacientes se frustraram com a falta de atenção dos médicos, os quais não acreditavam no impacto cognitivo dos sintomas brandos.
Então, em maio de 2020, Koralnik abriu uma clínica para tratar especificamente pacientes com sintomas pós-Covid. “Existem dúzias de vírus os quais causam problemas neurológicos, mas nada como os do coronavírus,” disse em entrevista à Rolling Stone EUA.
Para ajudar os pacientes e entender os efeitos do vírus no cérebro a longo prazo, Koralnik começou a estudar a Covid-19. Em outubro de 2020 e março de 2021, publicou estudos analisando danos neurológicos da doença em pessoas não hospitalizadas.
Na pesquisa, concluiu: 85% dos pacientes reportaram experiências com pelo menos quatro sintomas os quais afetaram qualidade de vida e habilidades cognitivas. Foi um passo importante no reconhecimento do impacto do vírus no cérebro.
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Segundo o estudo, cerca de 80% das pessoas hospitalizadas tiveram problemas neurológicos. Apesar de ser preocupante, os pacientes têm fichas hospitalares comprovando a severidade da doença. Pessoas não hospitalizadas com dificuldades remanescentes não têm pesquisas ou registros para apresentar aos médicos.
Os participantes no estudo foram as primeiras 100 pessoas as quais procuraram tratamento na clínica de Koralnik. A idade média era de 43 anos, 70% eram mulheres e 85% tinham um mínimo de quatro sintomas. Assim, a severidade da infecção por Covid-19 não determina se a pessoa sofrerá de dificuldades neurológicas.
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“Me surpreendi com a frequência e variedade dos sintomas,” explicou Koralnik. No estudo, foram determinados alguns efeitos comuns: névoa cerebral (81%), dor de cabeça (68%), dormência (60%), perda de paladar (59%), perda de olfato (55%), dores musculares (55%), tontura (47%), dor (43%), visão embaçada (30%) e tinnitus, um zumbido na cabeça (29%).
O impacto neurológico da Covid-19 foi noticiado após a morte de Kent Taylor, em 18 de março. O fundador de uma rede de restaurantes cometeu suicídio depois de lutar contra sintomas pós-Covid, incluindo tinnitus severo.
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Alguns outros detalhes apareceram no estudo de Koralnik. 42% dos participantes tinha depressão ou ansiedade antes de contrair a doença. “Isso sugere uma possível vulnerabilidade neurológica e psiquiátrica para desenvolver a Covid-longa,” relatou.
A Dra. Anna Nordvig, neurologista da Universidade de Columbia (Nova York), também observou o impacto de condições de saúde mental pré-existentes. “Fico surpresa com o quanto ouço ‘sim’ quando pergunto sobre sintomas de TDAH [Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade] e mudanças de humor,” disse à Rolling Stone EUA. “Talvez, a Covid-19 teste o elo mais fraco. Um paciente, uma vez, me disse: ‘Pega onde você é mais vulnerável e com o que você mais se preocupa.”
Em outros casos, condições de saúde mental podem surgir depois do Covid-19. Um artigo publicado pela Nature e co-escrito por Nordvig explica: depressão, comportamentos obsessivos, estresse pós-traumático e pensamentos suicidas podem surgir após a doença.
Não existe cura para a Covid longa, mas médicos tentam novos tratamentos. É um passo à frente para pacientes, os quais não eram ao menos ouvidos pelos médicos, quem dirá tratados. A pandemia está longe de terminar, mas, pensando nos avanços de pesquisa do último ano, temos razões para continuarmos otimistas para desenvolvimentos futuros.
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