Mike Flanagan, diretor da sequência, explica bem melhor o que é "o brilho" e por que Jack Torrance tentou matar Danny dentro do Hotel Overlook
Redação Publicado em 12/11/2019, às 17h05
Doutor Sono, novo filme de Mike Flanagan (Maldição da Residência Hill) é, ao mesmo tempo, uma sequência de O Iluminado, filme de Stanley Kubrick, e O Iluminado, livro de Stephen King - mesmo que a adaptação feita para o cinema em 1980 tenha alterado bastante a história.
O diretor tentou, no filme que estreou na última quinta, 7, "consertar os erros" de Kubrick, e explorar (e explicar) os elementos sobrenaturais que o renomado cineasta escolheu deixar de fora para contar uma história mais “pé no chão.”
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Com isso, chegou em dois lugares: primeiro, deixou mais claro o que é “o brilho” e o que é o “Hotel Overlook” na versão de King. Mas, para isso, precisou sacrificar o final de Doutor Sono - e a vida de Dan Torrance.
Mas ele conseguiu, no geral, explicar ambas as histórias. Separamos, abaixo, alguns “erros” da adaptação de Kubrick que Flanagan corrigiu em Doutor Sono:
O Iluminado, o filme, mostra como Jack Torrance cedeu aos seus demônios internos (o alcoolismo, a violência, o isolamento dentro do Hotel Overlook, a frustração com o livro que tentava escrever) e acabou surtando, o que fez com que ele quisesse matar a família - Wendy, a esposa, e Danny, o filho - em meio a um surto. Isso acaba associado à instabilidade mental que o isolamento no Hotel gerou, mais do que tudo.
Mas o livro de Stephen King traz uma explicação muito, muito diferente - Jack só ficou daquela maneira por causa do Hotel Overlook e das forças extremamente sobrenaturais que o envolvia. Que mal aparecem no trabalho de Kubrick para os cinemas.
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A começar pelos fantasmas. No filme, o diretor explicou que o Hotel Overlook foi construído em cima de um cemitério indígena, e, por isso, apresenta aspectos bem assustadores. Mas não foi essa a história original. No livro, o local tem uma força maligna por si só, e absorve para ele as energias negativas de tudo que acontece ali. O que mais gosta de fazer é influenciar tragédias, como o assassinato da família Grady. Usa essa força sobrenatural para mudar os entornos e influenciar as pessoas que os habitam. Logo, faz com que a violência e os surtos de Jack não sejam psicológicos - e, sim, sobrenaturais.
O Hotel Overlook quer, na verdade, roubar a vida das pessoas para se alimentar. Mas, acima de tudo, procura “o brilho” que uns e outros têm dentro de si. Danny Torrance, quando criança, possuia uma quantidade absurda de brilho - o que chamou a atenção do local amaldiçoado. Ele começou a aterrorizar o garoto com os fantasmas, e tentar atraí-lo com eles (“come play with us, Danny!”). Não conseguiu. Então, foi para o “plano B”: dominar Jack, pai do menino.
Foi por isso que o homem “surtou.” O Hotel começou a corroer a mente dele, e até conseguiu convencê-lo a matar a própria esposa e entregar o filho (e o brilho) para o local. É por isso que ele persegue o menino ao final de O Iluminado, enfim. Mas Kubrick nunca deixou isso claro, e coube a Flanagan explicar tudo. Fez isso, pelo menos, muito bem.
Ele se valeu da cena em que Danny consegue quebrar o encanto de Jack. O pai olha para ele e o manda correr. Em Doutor Sono, os papeis se invertem. Danny é dominado pelo hotel, e cabe a Abra trazê-lo de volta à realidade - tempo suficiente para ele salvá-la (também mandando correr para longe). A menina chama atenção dele, falando que aquilo é só “uma máscara” e que ele estava sendo influenciado pelo local.
Ali, fica claro que o Hotel está por trás disso tudo. Quando Danny, já adulto, é possuído em Doutor Sono, fica idêntico ao pai. Os maneirismos, o machado, o jeito que anda e que fala e que persegue Abra - é tudo igual. Isso enfatiza que Jack, também, foi dominado pelo Hotel.
Ao mostrar as inclinações e motivações ocultas no filme de Kubrick, Flanagan sai um pouco do caminho da história que conta. Até Dan entrar no Hotel Overlook no final do filme, tudo está bem parecido com o livro Doutor Sono. Mas ele precisa sacrificar, literalmente, todo o final para conseguir alinhar as duas histórias.
No livro de King, o fantasma de Jack ajuda o filho Dan e Abra a matarem Rose, a Cartola (a vilã do filme). Depois, ele ainda se despede do filho, em redenção. Dan volta para o hospital e continua ajudando as pessoas a morrerem, e Abra vai para casa - os dois continuam amigos.
Mas, no filme, Dan acaba seguindo o caminho do pai, e morre pelas mãos do Hotel Overlook. Ele se sacrifica para, com uma explosão, incendiar o local e salvar Abra - mas não sem antes liberar todos os fantasmas para liquidar Rose (comendo "o brilho" dela), e quase se dar mal com isso.
Essa versão é boa para alinhar as histórias de Stanley Kubrick e Stephen King - pois deixa claro o que aconteceu com Jack, além de explorar muito melhor o que é “o brilho” - algo bom para quem nunca leu os livros, pois não foi muito explorado em O Iluminado (filme).
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