Seja nos cinemas, quadrinhos ou até na música, o legado do autor americano certamente influenciou alguma obra moderna que você gosta
Vinicius Santos Publicado em 18/05/2020, às 07h00
"A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo e o mais antigo, mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido." Essa máxima sobre o medo foi dita por ninguém menos que Howard Phillips Lovecraft, escritor considerado por muitos o pai do terror moderno. O legado dele teve uma longa jornada até toda a relevância que lhe é atribuída atualmente
Em 20 de agosto de 1890, na cidade americana de Providence, Rhode Island, nascia o autor. Filho de um comerciante de joias e uma socialite (a linhagem dele era composta por alguns dos primeiros colonizadores dos Estados Unidos), esse garoto esquisito e que sofria de várias doenças crônicas provavelmente tem influência sobre o filme ou livro de terror que você gosta.
Apesar de uma vida curta de 46 anos e pouco reconhecimento em vida, apenas sendo lido pelos assinantes da fanzine de literatura fantástica Weird Tales e um grupo de amigos e outros escritores, Lovecraft teve um sucesso póstumo imenso, com influências a todos os campos da cultura pop até hoje, principalmente no cinema.
H.P. Lovecraft é (inevitavelmente) associado a criatura mais horrenda e fascinante criada por ele - o deus-monstro Cthulhu - que repousa nas profundezas do oceano pacífico enquanto espera para ser desperto de um estado de ao mesmo tempo sono e morte, trazendo a ruína e loucura ao mundo.
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E, realmente, esse personagem bizarro incorpora tudo que faz o autor ser celebrado até hoje, mas, para entender completamente a influência dele é preciso desmembrar desde os elementos que compõem a obra e legado 'Lovecraftiano', até as incontáveis referências contemporâneas.
Um dos maiores méritos de Lovecraft foi estabelecer uma filosofia literária na forma de misturar conceitos de fantasia e ficção científica nos contos dele. Batizou essa receita macabra de Cosmicismo, que enfatiza hipótese de que a humanidade não tem um destino certo no universo. Para o autor, todos nós somos seres praticamente insignificantes e iremos sumir quase sem deixar rastros.
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Essa visão de mundo causa sentimentos de desamparo e angústia incontrolável nos personagens de Lovecraft. A maioria deles são homens da ciência ou conhecedores de artes ocultas, buscam desbravar o desconhecido e se deparam com monstros e verdades que esmagam a sanidade deles apenas com um breve contato.
Monstros vindos do espaço ou outras dimensões? Um time de protagonistas cientistas ou exploradores? Um clima opressivo e uma sensação de ser pequeno demais perante um universo incompreensível? Se essas ideias o fizeram lembrar de filmes como Alien (1979), O Enigma de Outro Mundo (1982) ou O Nevoeiro (2007), você já teve contato com filmes influenciados por Lovecraft.
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O Horror Cósmico fundado pelo autor é a peça fundamental do legado dele e motivo pelo qual ele é considerado por outros mestres do terror (como Stephen King) o maior praticante do século XX de contos de horror clássico.
No alvorecer de um século marcado por avanços científicos e descoberta do mundo, o escritor mergulhou nas possibilidades da modernidade e encontrou o medo que o desconhecido pode trazer. Além disso, ele criou artefatos, criaturas e outros elementos que foram transportados para obras mais recentes. É isso que veremos agora.
Lovecraft era particularmente talentoso em criar todo um mundo de referências, compartilhados por todos os contos. Monstros, cultos e artefatos profanos eram citados em diversas histórias e acabaram sendo perpetuados ao longo das décadas pela indústria cultural.
Alguém aí se lembra do bizarro Necronomicon de Evil Dead (1981)? O Livro dos Mortos foi criado pelo autor e citado pela primeira vez no conto O Cão de Caça (1924) e ganhou um conto próprio em 1927: História do Necronomicon (1927). O livro, feito de pele humana e escrito com sangue, continha magia e conhecimento mais sinistros, que várias outras obras consultaram. Algumas pessoas até acreditam que ele existe de verdade.
Além disso, reza a lenda que o Necronomicon é capaz de libertar o exército da escuridão, criaturas demoníacas chamadas de deadites. Opa, um artefato que libera monstros obcecados pela morte para subjugar a humanidade? Parece muito com os cenobitas, do clássico do body-horror Hellraiser (1987):
Necronomicon também foi o título escolhido para o brilhante livro do artísta suíco H.R. Giger, responsável pela estética que mistura carne, ossos e tecnologia nos filmes da franquia Alien e no próprio visual do Xenomorfo, monstro principal dos filmes:
Ainda na temática dos mortos, Lovecraft também foi um dos primeiros a descrever os zumbis como cadáveres humanos reanimados através da ciência, com temperamentos animalescos, no conto Herbert West: Reanimator (1922).
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Já no mundo das HQs, quem não conhece o Asilo Arkham, das histórias do Batman? Pois Arkham era uma das cidades criadas pelo autor nos contos e o nome foi usado por Dennis O'Neal para batizar a prisão dos vilões do Homem Morcego.
Já Mike Mignola admite que toda a mitologia criada por ele em Hellboy bebe da fonte do autor: deuses ancestrais que cultistas querem despertar, heróis trágicos e um universo que oprime a humanidade são temas centrais das aventuras de Anung Un-Rama.
Já a graphic novel Locke & Key, recentemente adaptada para série na Netflix, se passa na cidade de Lovecraft.
Com o volume de citações até agora, já deu para entender que mitos de Cthulhu tem uma influência direta ou indireta em quase todas as outras obras do terror moderno e, não apenas isso, as próprias histórias dele estão sendo adaptadas.
Cada vez mais, o mainstream que se inspirou em Lovecraft retorna ao autor para adaptar um conto ou atualizá-lo para a contemporaneidade. É o caso de A Cor Que Caiu do Espaço, estrelado por Nicolas Cage, adaptação direta do conto escrito em 1927.
Outro exemplo com uma estreia próxima em 2020 é a série da HBO Lovecraft Country, baseada em um romance que coloca os elementos básicos do horror cósmico do autor com questões raciais. Até hoje especula-se que vários trechos de contos com personagens e cultura negra mostrada seja de teor racista por parte do autor:
Seja na fonte do próprio Lovecraft ou nas numerosas inspirações, a raiz do medo parece existir em meio a um rico universo onde fantasia e ciência se cruzam e, no meio do horror do desconhecido, o fã do gênero pode ao invés ficar maravilhado com a riqueza da obra desde torturado pai do terror moderno.
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