O disco Elis (1972) passou por remasterização e foi relançado no aniversário de 76 anos da cantora
Marina Sakai | @marinasakai_ (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 26/03/2021, às 20h04
17 março de 1945 foi a data de nascimento de Elis Regina. 76 anos depois, em 2021, um dos discos de maior sucesso da cantora, Elis (1972), foi relançado com nova mixagem e masterização. João Marcello Bôscoli, filho da artista e produtor musical, dirigiu o trabalho.
O “disco da cadeira” — como ficou conhecido pela estampa na capa — deu à Música Popular Brasileira canções como “Águas de Março” e “20 Anos Blue.” Além disso, juntou a banda a qual acompanharia Elis em mais dois álbuns: Cesar Camargo Mariano (piano), Luizão Maia (contrabaixo), Hélio Delmiro (guitarra) e Paulo Braga (bateria).
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Mas, antes de tudo, uma explicação. Mixagem e masterização podem parecer termos técnicos demais, mas são alguns dos principais fatores do porquê amamos tanto as músicas que ouvimos.
Mixagem faz parte da produção de uma canção. Os artistas gravam todos instrumentos para criar um multitrack. O produtor os separa em canais diferentes, tira artefatos sonoros os quais não fazem parte da gravação — sons externos ou barulhos do estúdio — e equaliza os volumes de todos os canais de acordo com a visão artística. Assim, o som fica redondo e nítido.
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A masterização, por outro lado, faz parte da pós-produção. Você deve ter visto, ao lado do título do seu disco favorito dos anos 1970, a palavra “remastered.” Esse processo deve ser feito ao longo do tempo, como uma espécie de manutenção. A tecnologia avança e, com ela, noções de áudio (volume, estéreo, frequências, espacialidade).
O remaster é feito para atualizar o som com o modo de reprodução de música. Quando passamos do vinil para CDs, a masterização atualizou. O mesmo aconteceu na era digital. Os produtores devem converter para fazer as entregas para Youtube, Spotify, CDs, vinis, entre outros: cada um tem o próprio protocolo.
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A parte musical, Elis fez nos anos 1970. A remasterização, João Marcello fez em 2021. De acordo com o filho mais velho de uma das maiores vozes da MPB, não é o primeiro trabalho atualizado da cantora. “Começamos há algum tempo. A primeira vez foi em 2003, lançamos no ano seguinte Elis e Tom [original de 1974].”
O objetivo principal da remasterização é usar a tecnologia para aproximar o máximo possível os ideais do artista original na época da gravação da faixa. É um trabalho coletivo. A maioria dos musicistas tem uma equipe de confiança para cuidar do áudio.
Além de tudo, é importante para o lado artístico. O modo como cada canal é mixado muda a recepção do ouvinte. As sutilezas de certos instrumentos para transmitir mensagens emocionais só são possíveis pela produção. Para citar João Marcello, “é uma questão de meio, mas também de mensagem.”
João Marcello publicou, em 2019, o livro Elis e eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe. Por tratar da relação entre mãe e filho, o processo de escrita foi intuitivo, ele apenas transportou da cabeça para o papel. Na música, não foi diferente. O produtor se arrepia ao abrir o multitrack de qualquer artista querido. Quando é a própria mãe, é um combustível emocional, “dá um frio na barriga.”
A maior parte das músicas da artista foram gravadas em uma única tomada. Sem emendas, alterações digitais ou afinadores. O som tem uma transparência sonora comovente. “É por isso que Elis é Elis. É uma sorte do destino poder fazer isso com uma das minhas artistas preferidas e, ao mesmo tempo, minha mãe.”
O trabalho ajuda na repercussão de Elis para as novas gerações e na manutenção da nossa cultura como um todo. Cuidar do acervo e da memória da música brasileira, deixá-la mais nítida, é fundamental. Segundo João Marcello, também é estimulante para artistas, os quais ouvem esses trabalhos. “Se fizerem um bom trabalho, 40 anos depois, podem ser objeto de discussão e, além de tudo, ouvidos. Essa mídia não está à venda: a eternidade."
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